10 Abril 2020
É preciso ir até o fim para apreciar completamente a importância de um livro como Gesù non fu ucciso dagli ebrei [Jesus não foi morto pelos judeus], editado pelo estadunidense Jon M. Sweeney e prontamente traduzido por Anna Montanari para a editora Terra Santa (p. 208, € 15,00, disponível em ebook).
A informação é de Alessandro Zaccuri, publicada por Avvenire, 08-04-2020.
É preciso chegar ao posfácio assinado por Amy-Jill Levine, figura de destaque na pesquisa acadêmica e, em 2019, a primeira professora judia a realizar um curso sobre o Novo Testamento no Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Com muita elegância e erudição impecável, a estudiosa não abre mão de expressar suas reservas sobre alguns dos ensaios presentes no volume, mas não por isso contesta sua necessidade. Pelo contrário, um reconhecimento sobre aquelas que o subtítulo italiano define como "as raízes cristãs do antissemitismo" permanece muito oportuno e o fato de ser conduzido com um estilo simples, com as inevitáveis simplificações sobre as quais Levine ocasionalmente objeta, não diminui em nada sua importância.
O livro, como dissemos, chega dos Estados Unidos e, na edição italiana, é integrado por um prefácio do padre Etienne Vetö, diretor do Centro Cardeal Bea Centro para os Estudos Judaicos da Gregoriana, que alerta o leitor: a denúncia da equipe de autores convocada por Sweeney não é um problema que o nosso país possa ignorar. Ali no meio estão as leis raciais de 1938, é claro, e o fato de que, sem o precedente do fascismo, o regime nazista dificilmente teria conseguido se enraizar na Alemanha, mas mais ainda do que o contexto histórico é o preconceito do deicídio que deve ser posto em questão, aquele mesmo preconceito que durante muito tempo encontrou guarida na Igreja e que somente em 1965, com a declaração conciliar Nostra Aetate, foi oficialmente superado.
Isso não significa que o caminho possa ser considerado concluído, como lembra em sua premissa Abraham Skorka, o rabino de Buenos Aires com quem o Papa Francisco tem um relacionamento muito especial desde que foi arcebispo da capital argentina (juntos os dois assinaram o best-seller Sobre o céu e a terra). É Skorka, inclusive, que chama a atenção para o papel desempenhado por Jules Isaac (1877–1963), o historiador francês a quem se deve a documentada reivindicação do judaísmo de Jesus e, ao mesmo tempo, o início de um diálogo inter-religioso que, sancionado pelo Vaticano II, depois encontrou mais ímpeto sob o pontificado de João Paulo II, Bento XVI e hoje, precisamente, de Francisco.
Até aqui o quadro geral, dentro do qual o caso estadunidense ocupa uma posição peculiar. Como pode ser visto em várias passagens, Jesus não foi morto pelos judeus, que é, entre outras coisas, um livro muito rico de testemunhos pessoais. O mais relevante é talvez aquele implicitamente feito pelo próprio editor (católico, Sweeney é casado com uma rabina), mas não menos significativas são as menções autobiográficas que aparecem da intervenção de Wes Howard-Brook, que adere a uma denominação do judaísmo messiânico, o Caminho do Jesus judeu. Quando criança, ele relata, era aterrorizado "pelos cristãos" de seu bairro em Los Angeles: "Não que eu conhecesse algum pessoalmente - ele explica -. Mas ouvia dizer que os cristãos pensavam que eu, como judeu, era responsável pela morte de Jesus Cristo". Infelizmente, o medo não era infundado.
Há pouco menos de um ano, em 27 de abril de 2019, um jovem californiano de 19 anos, Jon Earnest, foi responsável por um ataque sangrento à sinagoga de Poway, no Condado de San Diego, onde se estava celebrando a conclusão da Páscoa judaica. E é justamente a partir desse episódio ou, melhor, da cadeia de eventos da qual o ataque de Poway faz parte (alguns meses antes, em 27 de outubro de 2018, havia ocorrido um massacre em uma sinagoga em Pittsburgh, Pensilvânia), que Sweeney decidiu realizar Jesus não foi morto pelos judeus.
Agora abandonada pela teologia católica, a doutrina da "substituição" (no volume é ilustrada pelo estudioso biblista Richard C. Lux: com o advento do cristianismo, desapareceria a aliança entre Deus e Israel, que, portanto, estaria destinado a se extinguir) ainda existe no tumultuoso panorama das congregações evangélicas, caracterizadas pela tendência a uma interpretação literal e fortemente descontextualizada das Escrituras.
O esforço de Sweeney e de seus colaboradores - mencionamos, entre outros, monsenhor Richard J. Sklba, o judaísta Walter Brueggemann, o historiador Massimo Faggioli e a rabina Sandy Eisenberg Sasso, que oferece interessantes ideias pedagógicas - consiste em reiterar algumas noções de base, incrivelmente ainda mal compreendidas em nível geral. Quais seriam? Que Jesus era judeu, em primeiro lugar, e que professava a fé do povo de Israel. E depois que o próprio Novo Testamento foi composto em âmbito judaico, em uma fase em que o cristianismo ainda estava assumindo conotações autônomas e ainda não havia emergido completamente do complexo entrelaçamento das várias correntes do judaísmo.
Uma das teses questionadas por Levine é que, reiteradas em várias ocasiões, segundo a qual as "palavras duras" que os Evangelhos reservam a escribas e fariseus, quando não aos próprios "judeus", deveriam ser entendidas na perspectiva de um debate dentro do judaísmo. De qualquer forma, o tema central permanece claro: a participação de alguns judeus na condenação de Cristo não autoriza de maneira alguma a assumir atitudes discriminatórias ou, pior ainda, iniciativas de condenação. Depois da Nostra Aetate, o padre Nicholas King sintetiza em Jesus não foi morto pelos judeus: "Os cristãos católicos não têm justificativa para o antissemitismo".
Após a declaração "Nostra Aetate", em 1965, caiu o preconceito de deicídio contra os israelitas e, desde então, a Igreja segue o caminho do amor fraterno. Mas vários episódios antijudaicos recentes convenceram o historiador J.M. Sweeney a reunir vários estudiosos para reiterar em um livro que Jesus não morreu pela mão dos judeus.
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A partir do ‘judeu’ Jesus começa o fim do antissemitismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU