03 Fevereiro 2020
Para o padre jesuíta Ismael Moreno [Melo], diretor da Equipe de Reflexão, Pesquisa e Comunicação, ERIC-SJ e Radio Progreso, o ano de 2019 foi um ano com acúmulo no número de massacres que não podem ser comparados com os anos anteriores, mas garante que o mais triste é que o sangue derramado nos últimos dias, principalmente nos centros penais, é apenas uma advertência do que poderá acontecer nos meses seguintes.
A reportagem é publicada por Radio Progreso e reproduzida por CPAL Social, 31-01-2020. A tradução é do Cepat.
“É uma espécie de premonição de tempos ainda mais difíceis do que experimentamos nos últimos dias, porque, do meu ponto de vista, em 2019, o que chamamos de estratégia de pacificação que não parou, pelo contrário, desde que começou após as eleições inúteis realizadas em novembro de 2017, não parou, mas teve variações e a expressão mais dramática é o que acontece nos centros penais”, disse o padre Melo.
O analista afirma que o vivido nas prisões, com terror, crime, assassinato com aleivosia e premeditação, também é vivido na sociedade hondurenha e adverte que isso poderá continuar ocorrendo, com esses dados dramáticos de uma sociedade presa ao sangue, conduzida com uma política autenticamente de terror.
O padre Ismael Moreno analisa que, em 2020, haverá cenários muito complicados e muito complexos. “Advirto que continuaremos com a política de pacificação, isto é, com uma gestão militar do conflito e das crises. Juan Orlando Hernández não pode viver sem os militares, porque essa é a sua força e nisso se nota sua fragilidade. Portanto, acredito que Juan Orlando Hernández conseguiu em 2019 algo que surge novamente como cenário, já que marginalizou de tal maneira o protesto social, que está obrigando o mesmo a ser violento. Juan Orlando Hernández e seu grupo desejam que o protesto social seja violento para poder exterminá-lo”.
“Portanto, a população que decide sair às ruas fica na defensiva porque sabe que o que a espera é uma repressão brutal, que faz com que as pessoas busquem uma resposta violenta, ou seja, são levadas para o campo da violência desejado por Juan Orlando. Sendo assim, advirto um cenário marcado por um confronto muito maior que o que tivemos nesses dois anos anteriores, conduzido pelos militares, mas também por alguns meios de comunicação que estarão cada vez mais estigmatizando e vendo como violentos aqueles que apenas conseguirão se defender da severa repressão que ocorrerá”, analisou Moreno.
Mobilização na cidade de El Progreso, Yoro (Foto: Radio Progreso)
O padre jesuíta analisou outro cenário que complicará a vida das pessoas, um deles é o eleitoral. “E se você me pergunta qual foi um dos maiores sucessos de Juan Orlando, em 2019, não hesitaria em dizer que conseguiu instalar o processo eleitoral, incluindo o setor oficial da oposição”, manifestou o padre Melo.
Afirmou que por um lado, haverá a repressão feroz militarizada e, por outro lado, o caramelo eleitoral, de modo que a oposição política oficial, sem se dar conta de tudo, irá se deslizando para se entrincheirar no processo eleitoral e, daí, gritar “fora Juan Orlando Hernández” e, a partir daí, dizer que vão tirá-lo pelas urnas. “E acredito que isso irá condicionar enormemente o processo de luta do ano 2020”.
“Advirto um cenário que, penso, pode avançar para o encontro dos vários setores cujas forças estão na defesa do meio ambiente, de sua terra, de seus rios, de suas águas e de seus direitos locais. Se essas forças conseguirem se conectar, acredito que poderíamos dar o passo, em 2020, para a irrupção do Movimento Social Organizado Hondurenho, que diante da repressão, pode se fortalecer, frente às demandas postergadas, e, diante das ameaças, pode se fortalecer ”, afirmou o diretor da ERIC-SJ e da Rádio Progreso.
Acrescentou que esse cenário precisa ser estimulado. “O que é necessário estimular é o cenário do encontro, da busca, da articulação das diversas forças que já existem, só que estão muito localizadas”, manifestou Ismael Moreno.
O padre Melo argumenta que tanto a repressão como o processo eleitoral serão conduzidos por uma linha vertical, de cima para baixo. “O Movimento Social pode ter a oportunidade de criar e fortalecer uma linha horizontal, ou seja, as respostas não vêm dos partidos políticos, nem dos militares e muito menos de um Estado controlado por traficantes, as respostas devem ser buscadas no relacionamento horizontal, é aí que está a força”, afirmou Melo.
Advertiu que a fragilidade do Movimento Social estará em permanecer submetidos ao que vier do Estado, a tudo o que vier dos políticos, porque continuará aguardando as respostas virem de cima e não as construindo a partir da horizontalidade que é o cenário que pode levar à abertura para uma nova brecha libertadora em Honduras.
Mobilização exigindo a saída de Juan Orlando Hernández (Foto: Radio Progreso)
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Honduras. A advertência do padre jesuíta Ismael Moreno para 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU