26 Agosto 2019
Primeiro ministro do Meio Ambiente da história do Brasil, Rubens Ricupero acompanha com tristeza não só as queimadas na Amazônia, mas a terra arrasada para a imagem internacional do Brasil, que restou da escalada de rejeição global à política ambiental do governo Bolsonaro. Lamenta a perda de um esforço de 30 anos, que começou em reação a outra crise, a do assassinato do ambientalista Chico Mendes:
– O dano está feito. O agronegócio vai sofrer, será preciso correr atrás do prejuízo. O esforço que antes seria para abrir novos mercados terá de ser feito para recuperar terreno perdido – disse neste domingo (25) à coluna, diante da ajuda prometida pelo G7 (grupo dos sete países mais ricos do planeta), que, avalia, será condicionada.
A entrevista é de Marta Sfredo, publicada na sua coluna, GaúchaZH, 25-08-2019. A íntegra da entrevista pode ser lida aqui.
Para Ricupero, o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na sexta-feira, apesar de representar uma mudança de discurso, não basta:
– Tem de mudar a política, substituir o antiministro.
É como chama o titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Até provar que o Brasil mudou, projeta, o acordo entre Mercosul e União Europeia deve ficar "na geladeira". Nos próximos dias, lembra, vai começar o exame das políticas ambientais para adesão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – grande ambição do governo Bolsonaro.
Segundo Ricupero, “O presidente (Bolsonaro) foi muito leviano. Durante meses, acumulou provocações. Quando houve reação, o governo se assustou. O pronunciamento lembrou os da Dilma (Rousseff, ex-presidente), era escrito e lido. Não falou com sinceridade. Ele mudou inteiramente, passou a dizer coisas que nunca disse. Soou tão artificial que houve panelaços. Foi muito significativo porque ocorreram, em geral, em bairros que votaram nele. A mudança de discurso não basta. Tem de mudar a política. Para isso, tem de mudar o homem que colocou no ministério. Ele nomeou o que chamo de antiministro. Está lá para desmontar. Não sou eu que estou dizendo. Antes de tomar posse, ele queria suprimir o Ministério do Meio Ambiente, transferir para o Ministério da Agricultura. Acabou não fazendo porque o setor ruralista e a própria ministra escolhida (Teresa Cristina) não quiseram. Bolsonaro disse, na época, 'esperem só para ver quem vou colocar no ministério'. Escolheu um indivíduo que foi condenado em São Paulo por improbidade administrativa em questão de mineração. Colocou no Ibama e no ICMBio dois oficiais da PM de SP que não têm qualificação. O próprio Bolsonaro disse, repetidas vezes, que havia no Ibama uma indústria de multas. Isso é falso, 97% das multas não são pagas porque as pessoas recorrem à Justiça. Desencorajou e criticou seguidamente os fiscais do Ibama. Inclusive mandou punir o que o havia multado. Ele tem obsessão antiambiental”
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Amazônia. “O dano está feito... Tem de mudar a política, substituir o antiministro”, defende Rubens Ricupero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU