24 Setembro 2018
Na Lituânia, terra dos mártires que vivenciaram perseguições, do gueto e das deportações para a Sibéria durante o regime totalitário, Francisco lembrou aos fiéis sobre a história da Europa, mostrando o caminho do evangelho: não devemos buscar poder e glória, mas nos dedicar aos pobres, aos fracos e aos esquecidos. O céu está limpo e o sol brilha em Kaunus, uma antiga vila fortificada e a segunda principal cidade do país, localizada na confluência do rio Neris com o rio Nemunas. Essa cidade, capital nacional de 1920 até 1939, testemunhou guerras, invasões, saques e dominações ao longo dos séculos.
No grande parque Santakos, perto das ruínas das paredes e do fosso do antigo Castelo de Kaunas e perto da Igreja de São Jorge, o Papa celebrou a missa de domingo diante de milhares de pessoas, após ter sido levado pela cidade em seu carro para cumprimentar a multidão.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 23-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Durante sua homilia, ele refletiu sobre o Evangelho segundo Marcos e mencionou que, diversas vezes, Jesus previu sua paixão por seus discípulos. Bergoglio disse, “A vida cristã sempre passa pelas ‘experiências da cruz’, e às vezes essas épocas parecem que nunca vão chegar ao fim. As gerações anteriores ainda carregam as cicatrizes do período de ocupação, a angústia daqueles que foram deportados, a incerteza sobre aqueles que nunca voltaram, e a vergonha daqueles que foram informantes e traidores.”
O Livro da Sabedoria fala da perseguição dos justos, que são oprimidos e atormentados pelo mero fato de serem justos. “Quantos de vocês podem se identificar em primeira mão, ou na história de algum membro da família, com essa passagem que acabamos de ler?” disse o Papa. “Quantos de vocês sentiram sua fé balançar por Deus não ter se manifestado e os defendido? Pelo fato de você ter se mantido fiel não ter sido suficiente para Ele intervir nos eventos daquele momento? Kaunas conhece essa realidade; o povo da Lituânia ainda estremece ao ouvir o nome ‘Sibéria’, ou o gueto de Vilnius e Kaunus; e eles podem todos se unir à Tiago na segunda leitura: eles cobiçam, matam, invejam, lutam e fazem guerra”.
“Irmãos e irmãs,” disse Francisco, mencionando a atitude dos discípulos enquanto seguiam Jesus e discutiam sobre qual deles era o melhor - “o desejo de poder e glória é o comportamento mais comum para aqueles que não curaram a memória de sua história e, talvez por esse motivo, não podem sequer aceitar o compromisso do momento presente. Assim sendo, eles discutem sobre quem foi o melhor, quem foi o mais puro no passado, quem teve mais direitos do que privilégios com respeito aos outros.”
O Papa define essa atitude como “estéril e vaidosa, que falha ao se envolver na construção do presente e perde contato com a realidade sofrida de nosso povo fiel. Não podemos ser como esses ‘experts’ espirituais, que julgam do lado de fora e gastam seu tempo discutindo sobre ‘o que deve ser feito’.” A resposta de Jesus para esse tipo de atitude é uma ação concreta e emblemática: ele coloca uma criança no meio deles, uma ‘criança que ganharia um centavo’ por fazer o que ninguém gostaria de fazer. “Quem Jesus colocaria no nosso meio hoje, nesta manhã de domingo?” perguntou o Papa, “as minorias étnicas, os migrantes, os idosos, os solitários, os jovens sem raízes?”.
Então Francisco falou sobre a missão da Igreja. “Essa é a questão: ser uma igreja que sai e se movimenta, não ter medo de nos doarmos até quando parece que iremos dissolver, perdermos a nós mesmos ajudando as crianças, os esquecidos, aqueles vivem em condições de marginalização existencial. Mas, ao mesmo tempo, sabendo que sair e ficar entre as pessoas, em alguns casos, envolve parar, colocar o medo e a urgência de lado, olhar nos olhos das pessoas e escutá-las, fazendo companhia para aqueles que foram deixados para trás.”
Lembrando, com as palavras do Concílio, de que “não há nada verdadeiramente humano que não tenha ressoado nos corações dos discípulos de Cristo, e é dessa forma que podemos chamar de nossas as alegrias, as esperanças, as tristezas e as angústias das pessoas de nosso tempo, principalmente dos pobres e dos que sofrem.”
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“Vamos juntos nos dedicar aos pobres, mesmo quando parecer difícil”, diz o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU