20 Setembro 2018
Uma maravilhosa “biografia das ideias” do pontífice que te anima a colocá-las em ação. O documentário “Papa Francisco: um homem de palavra”, estará nos cinemas em 28 de setembro.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 08-09-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Bergoglio, em “O Papa Francisco: um homem de palavra”. Foto: Reprodução Youtube
Aquilo que mais se fixa quando se vê “Papa Francisco: um homem de palavra” é no olhar de Jorge Mario Bergoglio. Sente que a autoridade moral mais alta do planeta está te falando diretamente. Porém, não apenas falando: interpelando-te, rogando-te e suplicando-te. Com seus olhos, cada vez que sorri ou que franze a testa. É por isso que esse novo documentário de Wim Wenders sobre o pontífice pode se considerar o equivalente do Ocidente do século XXI aos ícones ortodoxos de Cristo. Uma espécie de retrato de Francisco, o Professor, ao estilo da imagem do Cristo didáskalos.
“Papa Francisco: um homem de palavra” não é uma biografia do homem que se converteu no primeiro Papa do hemisfério sul – para não dizer o primeiro Papa jesuíta – em 13 de março de 2013. Até o ponto em que o diretor Wenders o define como uma “viagem pessoal” com Bergoglio. “Queria que falasse no lugar de fazer um filme sobre suas origens”, disse o realizador alemão. “Não é um filme autobiográfico, mas sim uma biografia de suas ideias; é um filme com ele, mais que sobre ele”.
E o resultado é precisamente esse. Apesar de que o Vaticano concedera a Winders um acesso sem precedentes não somente ao Papa, mas também ao vasto arquivo de imagens televisivas do Santo Padre em seus muitos discursos e viagens por Roma e por todo o mundo. O que mais impacta do documentário é a mensagem. Não importa tanto a pessoa de Francisco, mas as suas ideias.
Igual quando os ícones de Cristo pegam o olhar de quem os contemplam somente para dirigir-se à uma realidade mais além. E mais, os cinco primeiros minutos do documentário nem tinham a ver com Bergoglio, precisamente, mas sim com o homem cujo nome e exemplo tomou quando assumiu a cátedra de Pedro. Francisco de Assis, segundo cujas pegadas de Bergoglio respondeu ao chamado de Cristo para "reparar a minha Igreja".
As mensagens verbais do documentário não são novas, em sua maior parte. Como não podia ser de outra forma, não faltam denúncias e convites do Papa aos que estamos acostumados, nem por isso não perdemos o de impacto. “Uma igreja que põe sua esperança na riqueza não é de Jesus”, por exemplo. Ou “todos – isso é, todos – somos responsáveis” da “sociedade do descarte” e da “globalização da indiferença”. Ou “no mundo de hoje já não há tempo para carícias” até “os padres devem fazer um apostolado da orelha”, que devem “saber escutar”.
Porém mais além do conteúdo semântico dessas já míticas frases, o mais impactante é a maneira a qual o Papa as fala, e a maneira a qual Winders enfoca. Com planos muitos próximos, nos que somente aparece o rosto de Francisco, com detalhes tão nítidos que podes ver até o brilho de seus olhos ou o tecido do solidéu branco. E com um tom de voz tão pausado e tão claro que é impossível não crer de pés juntos que esse homem realmente vive o que prega.
Mas então, qual é a lição do filme? Está muito bem ver mais próximo que nunca o líder dos católicos do mundo, mas sim um que não é fiel, essa aproximação tem interesse só até certo ponto. E é que Winders, precisamente, quer fazer um documentário acessível para todos, que se enfoca nas tão necessárias respostas do Papa para urgentes desafios para o mundo de hoje, tais como a justiça social, a imigração, a ecologia, a desigualdade econômica, o materialismo ou o papel da família.
Eu fico com as palavras do filme que Bergoglio pronunciou na sua visita à favela Varginha, no Rio de Janeiro, em 2013. Para solucionar a fome e as necessidades de tantos irmãos e irmãos no mundo, disse o Papa, é necessário que todos façamos algo, e que todos compartilhemos o que temos. “Sempre se pode adicionar mais água ao feijão”, observou Francisco, nessas formas tão joviais e autênticas que têm. E é isso que, logo depois de ver o documentário de Wender, precisamente ele quer fazer. De verdade.
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Bergoglio 'didáskalos': o ícone do Papa do século XXI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU