28 Junho 2018
Foi um gesto inesperado, inédito e, de certa forma, sem precedentes, se pensarmos que quem o fez não foi um chefe de Estado qualquer, mas sim o presidente da República da França, o berço da “laicité”, a pátria da Revolução.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada em La Stampa, 27-06-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Emmanuel Macron, que há poucos dias havia repreendido duramente um menino que se tinha dirigido a ele chamando-o com o diminutivo de “Manu” em vez de usar “senhor presidente”, ao término da audiência com Francisco, quebrando todo e qualquer protocolo, apoiou sua mão esquerda no ombro direito do pontífice, depois o acariciou e o beijou na bochecha.
O abraço entre o papa e o presidente da França (Foto: La Stampa)
Uma despedida de amigos de toda a vida, mesmo que quem agiu assim foi um chefe do Palácio do Eliseu que se encontrava pela primeira vez face a face com o bispo de Roma.
Macron gosta de manifestar seu afeto de modo “tátil”, explicam os observadores das coisas francesas, mas, nessa terça-feira, 26, no Vaticano, ele realmente surpreendeu a todos. Photo opportunity, impulso espontâneo ou conversão na estrada para Damasco? Veremos no futuro próximo.
O certo é que Paris e Vaticano voltaram a se falar. O encontro no Vaticano durou um tempo muito longo para os padrões vaticanos, nada menos do que 57 minutos, quase o dobro do tempo estimado, mais do que o tempo dedicado às audiências com Barack Obama, Donald Trump, Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan.
Depois dos anos de gelo com o socialista François Hollande e o braço de ferro que havia contraposto o Papa Bergoglio ao inquilino do Palácio do Eliseu em 2015 por causa da nomeação de um novo embaixador junto à Santa Sé que não agradou ao Vaticano, reabre-se, portanto, um canal de comunicação direta.
Macron fez de tudo para solenizar o encontro e para reiterar sua vontade de consolidar as relações entre a França e a Santa Sé, depois das aberturas de crédito manifestadas publicamente por ele, recentemente, aos bispos franceses.
E, se na chegada ele estava bastante tenso e enrijecido, no fim da conversa, ele parecia outra pessoa. Tão amigo e “solto” a ponto de abraçar Bergoglio, derrubando, diante do olho das câmeras, tabus seculares para um país arauto da laicidade.
O degelo ocorreu de maneira flagrante, e agora o presidente francês pretende “aprofundar as relações de amizade, compreensão e confiança que tem com a Santa Sé”, como ele mesmo assegurou a Francisco durante o diálogo a portas fechadas.
Falou-se sobre a contribuição da Igreja para “a promoção do bem comum” na França, a proteção do ambiente, as migrações e o compromisso com a prevenção e a resolução dos conflitos, da África e do Oriente Médio. E também se refletiu “sobre as perspectivas do projeto europeu” neste momento de crise. “Aproximamo-nos um ao outro com lucidez”, contou Macron, dizendo esperar que as relações com a Santa Sé “se desenvolvam ainda mais”.
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A inédita carícia do presidente francês no papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU