27 Junho 2018
Com constantes demonstrações de cumplicidade, proximidade e inclusive carinho, o Papa Francisco recebeu o presidente francês, Emmanuel Macron, em sua primeira visita oficial ao Vaticano. Nada a ver com a fria acolhida que ofereceu a seu predecessor, François Hollande. Na conversa entre os dois mandatários, dois temas-chave: a situação dos migrantes e refugiados, que batem às portas da Europa, e a refundação do laicismo na França.
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 26-06-2018. A tradução é do Cepat.
O Papa Francisco e o presidente francês Emmanuel Macron se reuniram durante 57 minutos, no Vaticano, na que foi sua primeira entrevista.
Francisco recebeu Macron na sala do Tronetto, a antessala da Biblioteca, onde acontecem as reuniões privadas, com um grande sorriso e lhe dizendo “bem-vindo”, ao que o presidente, em francês, respondeu: “muito obrigado”.
Em seguida, sentados diante da escrivaninha, frente a frente, o Papa aguardou a saída dos jornalistas para começar a reunião e só se escutou que apresentava ao monsenhor que seria o intérprete, explicando que havia estado muitos anos na África.
Macron havia chegado ao Vaticano percorrendo a Avenida da Conciliazione com um comboio de 30 carros, entre veículos oficiais e das forças de segurança e, inclusive, uma ambulância.
Quando chegou ao pátio de San Damaso, foi recebido pelo prefeito da Casa Pontifícia, dom George Gaenswein, que o acompanhou junto com a delegação aos apartamentos pontifícios, percorrendo algumas salas do Palácio Apostólico.
Macron chegou acompanhado de sua esposa, Brigitte, que estava com um vestido preto, cabelo preso e sem véu, fazendo parte da delegação de umas 15 pessoas, com o ministro do Interior, Gérard Collomb, e o titular para Europa e de Assuntos Exteriores, Jean-Yves Le Drian, entre outros.
Depois, tiveram uma longa reunião de quase uma hora, com a ajuda do intérprete. Na sequência, foi realizada a cerimônia de apresentação da delegação e a troca de presentes.
Macron entregou a Francisco uma antiga edição do livro Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos, ao passo que o Pontífice lhe presenteou com o medalhão que representa São Martinho de Tours, padroeiro de Buenos Aires, e que deu seu manto aos pobres.
Um símbolo do amor aos mais desfavorecidos e um presente que costuma entregar a muitos mandatários nas audiências privadas, assim como os documentos que escreveu.
O Papa se mostrou sempre sorridente e muito cordial com o presidente francês, de quem se despediu segurando suas duas mãos com carinho.
Na sequência, Macron terá uma reunião com o secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin, e com o secretário para as Relações com os Estados, Paul Richard Gallagher. Antes do encontro, Macron tomou café da manhã com a comunidade de leigos católicos Santo Egídio, muito envolvida na acolhida a migrantes e organizadora de “corredores humanitários” que traz refugiados sírios para a Europa.
Macron protagoniza uma cruzada diplomática com as novas autoridades italianas, em particular com o ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga (extrema-direita), que defende uma linha dura com os migrantes que tentam chegar às costas italianas, cruzando o Mediterrâneo, e critica a arrogância e o egoísmo da França no tema migratório.
O Papa interpela regularmente aos dirigentes da União Europeia sobre os migrantes, que possuem a obrigação de “acolher, acompanhar, abrigar e integrar”, segundo ele. Na semana passada, avaliou que era necessário “investir de maneira inteligente para lhes dar trabalho e uma educação” em seus países de origem.
Sem dúvida, o laicismo na França esteve entre os temas de conversa durante o encontro de Francisco com Macron.
Em um discurso na Conferência Episcopal da França, em inícios de abril, Macron disse querer “reparar” o “vínculo” entre a Igreja católica e a República francesa, “prejudicado” nos últimos anos, em particular a partir da adoção dos casamentos homossexuais em 2013.
Este discurso despertou numerosas críticas na França, ao passo que o episcopado o qualificou como um discurso que refunda as relações entre os católicos e a República. O presidente francês não escapará da tradição. Deixará o Vaticano com o título de “primeiro e único cônego de honra” da Basílica de São João de Latrão, uma tradição que remonta ao século XVII e ao rei Henrique IV.
O último presidente francês a abraçar esta tradição foi Nicolas Sarkozy, em dezembro de 2007. Naquela oportunidade, provocou polêmica com seu discurso elogiando a fé e as raízes cristãs da França.
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A laica França de Macron beija o Papa da primavera e dos pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU