27 Junho 2018
Cada qual lançou um programa de profunda reforma das instituições pelas quais são responsáveis, arriscando provocar forte oposição.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 26-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Embora o presidente francês Emmanuel Macron e o Papa Francisco pareçam ser diferentes, eles compartilham uma abordagem filosófica marcada pelo pragmatismo e uma abordagem semelhante em relação à complexidade.
À primeira vista, o "Papa dos pobres" e o presidente que muitas vezes é visto como o "presidente dos ricos", conhecido por suas ideias liberais e sua ligação com o Iluminismo, podem não aparecer ter muito em comum.
Com efeito, as políticas do Macron sobre muitas questões podem parecer completamente opostas às do Papa argentino.
Paradoxalmente, no entanto, existem muitos pontos de vista em comum entre os dois líderes. Cada qual lançou um programa de profunda reforma das instituições pelas quais são responsáveis, arriscando provocar forte oposição.
"Eles são dois homens de autoridade que sabem como tomar o tempo necessário para deliberações, mas não estão receosos em posteriormente ter que assumir a responsabilidade por uma decisão clara", disse Nicolas Tenaillon, que ensina Filosofia na Universidade Católica de Lille e que recentemente publicou o livro "Dans la tête du pape François" (Dentro da Cabeça do Papa Francisco, em português).
"Eles são políticos puros que entendem que não podem ser demasiado brutais em suas reformas, mas que também enxergam a necessidade de responder a um mundo acelerado", disse Tenaillon.
Neste sentido, a "visão poliédrica" de Jorge Mario Bergoglio, cuja preocupação pela unidade não implica necessariamente em uniformidade, corresponde ao conceito macroniano de "ao mesmo tempo".
O risco para Francisco, no entanto, é ser acusado de "semear a confusão" na Igreja. Macron, por seu lado, é criticado por seu suposto "centrismo" ou oportunismo.
"A complexidade do mundo às vezes torna difícil compreender as ligações entre as decisões dos dois", disse Tenaillon, que enfatiza uma diferença entre as formas que os dois homens lidam com seus críticos.
"Os dois são grandes comunicadores", disse. "No entanto, talvez o presidente às vezes tenha dificuldade em explicar o seu 'pensamento complexo' para jornalistas. Por outro lado, Francisco tem um verdadeiro dom para fazer suas formulações."
A influência da educação jesuíta de Macron na escola La Providence, em Amiens, onde passou seis anos, não deve ser superestimada.
Ele na verdade é mais influenciado pelo filósofo protestante Paul Ricoeur.
"Ricoeur me reeducou a nível filosófico", reconheceu Macron numa entrevista de julho de 2015 à revista semanal Le 1.
Com efeito, Macron colaborou com Ricoeur em seu livro "La Mémoire, L'Histoire, L’Oubli" (A Memória, a História, o Esquecimento, em português). Este é um tema que o liga também a Francisco.
"Eles partilham uma concepção similar da história", disse Tenaillon, que vê o desejo de Macron em "reconciliação da memória" como semelhante à visão defendida por Bergoglio na Argentina, no sentido de conciliar as várias ondas de migração.
A ligação de Macron com a "história nacional" também é semelhante à fixação do Papa Francisco a Martin Fierro [poema de José Hernández] e a fundação épica da identidade Argentina que ele estudou com profundidade enquanto ensinou literatura em Santa Fé, bem como quando era arcebispo de Buenos Aires.
"Ricoeur define democracia como um regime em que todo conflito é negociável, e isso é algo que também é verdade para Macron. Enquanto ele afirma acreditar na ideologia política, é no sentido ricoeuriano do termo, uma visão positiva e integradora de ideologia", disse Tenaillon.
Em sua entrevista ao Le 1, Macron também explicou que "ideologia precisa ser vista dentro de uma técnica deliberativa que incessantemente confronta o real e a partir disso se adapta, e também incessantemente revisita seus princípios."
Estas palavras ressoam com o princípio adotado pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium: "realidades são mais importantes do que ideias".
Certamente, o lado "techno" de Emmanuel Macron pode desagradar ao Papa, mas ambos concordam sobre a importância do encontro presencial.
Assim como Francisco, o presidente francês é altamente "tátil" e gosta muito de "sair para estabelecer contato" com as pessoas.
Em outras palavras, o encontro entre os dois é crucial. Como Macron escreveu de próprio punho na parte inferior de uma recente carta enviada ao Papa, "temos muito a dizer um para o outro."
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Macron e Papa Francisco compartilham uma perspectiva filosófica comum - Instituto Humanitas Unisinos - IHU