Três dias de reuniões na ‘auletta’ da Aula Paulo VI, para falar com cada um dos 31 bispos ordinários e auxiliares atualmente na ativa no Chile e com dois eméritos. O objetivo é “discernir juntos, na presença de Deus, a responsabilidade de cada um” nas “feridas devastadoras” provocadas pelos abusos sexuais e de poder que ocorreram no país sul-americano, e “estudar as mudanças adequadas e duradouras que impeçam a repetição de atos sempre reprováveis”. Um longo “processo sinodal”, fruto da exaustiva investigação do arcebispo Charles Scicluna e depois das longas audiências que o Papa Francisco concedeu às três vítimas do padre Fernando Karadima (o poderoso pároco de El Bosque, em Santiago do Chile, líder carismático e formador dos futuros bispos que contou com proteção, porque seus repetidos e prolíficos abusos foram acobertados durante anos pela cúpula da Igreja chilena).
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 12-05-2018. A tradução é de André Langer.
A Sala de Imprensa da Santa Sé informou que “o Papa Francisco se reunirá com os bispos do Chile de 15 a 17 de maio na ‘auletta’ da Aula Paulo VI”. Este encontro, indica a nota, “tem sua origem na precedente convocação do episcopado chileno em 8 de abril passado”.
“O Santo Padre – diz a Sala de Imprensa do Vaticano –, interpelado pelas circunstâncias e desafios extraordinários diante dos abusos de poder, sexuais e de consciência que ocorreram no Chile nas últimas décadas, considera necessário examinar profundamente as causas e consequências, assim como os mecanismos que levaram, em alguns casos, ao acobertamento e às graves omissões em relação às vítimas”.
“Durante os encontros, o Papa Francisco deseja compartilhar as suas conclusões pessoais fruto da recente missão especial ao Chile”, confiada a dom Charles Scicluna, arcebispo de Malta, e ao padre Jordi Bertomeu, da Congregação para a Doutrina da Fé, e “completadas, além disso, com os numerosos testemunhos orais e escritos que Sua Santidade continuou recebendo nas últimas semanas”. Indicação que também se refere aos intensos e dramáticos encontros pessoais que o Pontífice teve com Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andrés Murillo.
Durante os encontros, informa o comunicado, dos quais “participarão 31 bispos diocesanos e auxiliares e dois bispos emérito, o Santo Padre também será acompanhado pelo prefeito da Congregação para os Bispos”, o cardeal Marc Ouellet.
“O objetivo deste longo ‘processo sinodal’ – explica a Santa Sé – é discernir juntos, na presença de Deus, a responsabilidade de todos e de cada um nessas feridas devastadoras, além de estudar mudanças adequadas e duradouras que impeçam a repetição de atos sempre reprováveis. É fundamental restabelecer a confiança na Igreja através de bons pastores que testemunhem com a própria vida o conhecimento da voz do Bom Pastor e que saibam acompanhar o sofrimento das vítimas e trabalhar de modo determinado e incansável na prevenção dos abusos”.
“O Santo Padre – conclui a declaração – agradece a disponibilidade dos seus irmãos Bispos de se colocar à escuta dócil e humilde do Espírito Santo e renova seu pedido ao Povo de Deus no Chile para continuar em estado de oração pela conversão de todos. Não há previsão de que o Papa Francisco faça qualquer declaração durante ou após os encontros, que acontecerão em absoluta confidencialidade”.
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