15 Fevereiro 2018
Às vésperas da chegada de Dom Charles Scicluna, enviado do Papa Francisco, ao Chile, “após algumas informações recentemente recebidas sobre o caso de Dom Juan de la Cruz Barros Madrid, bispo de Osorno” (comunicado vaticano), de acordo com a imprensa local, houve algumas intervenções do núncio apostólico, Dom Ivo Scapolo, diplomata vaticano residente no país desde julho de 2011.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada por Il Sismografo, 14-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em muitos lugares, as iniciativas do núncio foram lidas e interpretadas como ações traiçoeiras que podem criar sérios obstáculos para a missão do arcebispo maltês de La Valletta.
Concretamente, as principais publicações chilenas informam nestas horas que o núncio, Dom Scapolo, teria pedido que as três pessoas que acusam Dom Barros de ter ocultado os abusos do Pe. Fernando Karadima e que o movimento dos leigos da Diocese de Osorno – que contesta a presença do prelado nomeado por Francisco em janeiro de 2015 – envie declarações em que, por escrito e de modo sintético, devem antecipar o que vão dizer ao enviado do pontífice.
As reações diante de tais pedidos, bastante insólitos e totalmente descabidos, não tardaram e foram imediatas e duras. Nas respostas ao que o diplomata vaticano pediu, é colocado no centro, mais uma vez, o próprio núncio, que, no passado, nunca quis receber os acusadores de Dom Barros e os leigos de Osorno, e que nem sequer respondeu às cartas enviadas a ele por inúmeras pessoas envolvidas de várias formas no caso.
Juan Carlos Claret, porta-voz da Associação Laical de Osorno, declarou que não confia 100% na investigação vaticana e que quer colaborar até o fim, na esperança de que Dom Scicluna possa chegar à verdade sem interferências. De todos os modos, acrescentou Claret, eles só darão às nunciaturas informação protocolares, se necessário. As coisas sérias, de fundo, referentes ao mérito do caso, só serão dadas ao enviado do papa. Portanto, concluiu Claret, o pedido do núncio Scapolo foi devolvido ao remetente.
Palavras semelhantes foram expressadas pelas vítimas, particularmente por Juan Carlos Cruz, com que Dom Scicluna se reunirá em 17 de fevereiro, em Nova York. Cruz disse que o que foi pedido pelo núncio, isto é, a síntese daquilo que vão dizer ao enviado papal, é inadmissível e deveria soar como um alerta.
“É preciso manter essa investigação longe das garras da Igreja chilena”, disse ele textualmente. Por fim, Cruz afirmou que se comunicou diretamente com Dom Scicluna, que lhe teria dito para enviar apenas a ele qualquer documentação, ou seja, não ao núncio Scapolo, persona non grata por anos em muitos ambientes chilenos, incluindo a opinião pública, as autoridades do governo, a classe política e inúmeros bispos, alguns dos quais pediram reiteradamente a troca do diplomata, considerado, nas análises destas semanas, como um dos responsáveis diretos pelas graves dificuldades que o Papa Francisco teve que enfrentar durante sua viagem.
Enquanto isso, em ambientes políticos e diplomáticos chilenos, continua-se comentando com perplexidade a insistência do núncio – que deverá ser trocado em breve – que parece insensata e arriscada, ou seja, a assinatura de uma espécie de acordo entre a Santa Sé e o governo do Chile, que deveria incluir diversas matérias eticamente sensíveis. Repetiu-se ao núncio, também nestes dias, que se trata de uma proposta inadmissível, até porque não se teriam os votos no Congresso para aprová-la.
Dom Ivo Scapolo, diplomata vaticano do clero da diocese italiana de Pádua, formado na escola da “velha guarda”, foi nomeado núncio no Chile por Bento XVI em 15 de julho de 2011. No momento dessa nomeação, ele era núncio em Ruanda.
No dia 12 de maio de 2002, o cardeal Angelo Sodano, hoje decano do Colégio Cardinalício, consagrou Ivo Scapolo bispo na catedral de Pádua. Dom Scapolo foi ordenado sacerdote em 4 de junho de 1978 e, depois de se tornar doutor em Direito Canônico, entrou no serviço diplomático vaticano em maio de 1984.
Além do serviço prestado por ele junto à Secretaria de Estado, ele também trabalhou nas representações de Angola, Portugal e Estados Unidos. Em 26 de março de 2002, foi nomeado núncio na Bolívia e, depois, em janeiro de 2008, em Ruanda. Por vontade de Bento XVI, Dom Scapolo, no dia 15 de julho de 2011, substituiu o então núncio no Chile, Giuseppe Pinto.
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Iniciativas traiçoeiras do núncio no Chile põem em risco a missão de Dom Scicluna - Instituto Humanitas Unisinos - IHU