"Neste dia, celebramos a festa de Pentecostes. O texto do Evangelho de João nos dá uma descrição desse momento que representa um marco na vida das comunidades do primeiro século. Era o primeiro dia da semana. Uma nova semana começa, um novo tempo começa para a vida da igreja nascente."
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-23 que corresponde à Solenidade de Pentecostes, Ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês”. Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor.
Jesus disse de novo para eles: “A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês". Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: "Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados".
Neste dia, celebramos a festa de Pentecostes. O texto do Evangelho de João nos dá uma descrição desse momento que representa um marco na vida das comunidades do primeiro século. Era o primeiro dia da semana. Uma nova semana começa, um novo tempo começa para a vida da igreja nascente. Lembre-se de que o evangelho de João destaca várias semanas: a primeira semana que culmina com o casamento em Caná, a última semana da vida de Jesus com o relato da unção em Betânia, seis dias antes da Páscoa. O capítulo 20 abre uma nova semana, quando Maria Madalena vai ao sepulcro e, a partir desse momento, é o momento de reconhecer Jesus ressuscitado, que aparece à comunidade de diferentes maneiras. Maria Madalena é a protagonista no reconhecimento da presença do Mestre, que a chama pelo nome e corre para anunciar o fato aos discípulos. E então, progressivamente, os discípulos e a comunidade o verão e o reconhecerão, pois estavam com medo, sofrendo com sua ausência e sua perda.
Hoje, o texto nos coloca no fim do "primeiro dia da semana". A comunidade está reunida com as portas fechadas por medo das autoridades judaicas e ali Jesus se faz presente: Jesus entrou. Ele está no meio deles e lhes oferece sua paz. Ele não os abandonou! Ele ainda está no meio deles e o texto nos diz que ele lhes mostra suas mãos e seu lado para confirmar que é ele, o mesmo que foi crucificado e agora está vivo. Ao reconhecê-lo, os discípulos "ficaram contentes por ver o Senhor". A presença de Jesus Ressuscitado é sempre acompanhada de uma profunda alegria, podemos dizer uma alegria que consola a alma e afasta os medos e a tristeza. Uma vez que ele lhes oferece a sua Paz, acompanhada do envio, o convite a sair para comunicar a novidade de sua presença em nosso meio. Ele lhes dá sua paz, que é uma paz que os consola e os fortalece nas dificuldades pelas quais estão passando.
Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo”.
No diálogo com Nicodemos, no capítulo - João 3 - Jesus disse: "o vento sopra onde quer e vocês ouvem a sua voz, mas não sabem de onde ele vem nem para onde vai". Nesse momento, Jesus sopra sobre a comunidade reunida e acompanha esse fato dizendo a eles: recebam o Espírito Santo. O envio de Jesus é acompanhado pela presença do Espírito Santo, que os encorajará e sustentará em todos os momentos. Embora, no calendário litúrgico, hoje celebremos a vinda do Espírito Santo, a solenidade de Pentecostes, esse momento marca o início de uma nova realidade que é a consolidação de uma comunidade reunida em torno do Ressuscitado e continuamente animada por seu Espírito. Nessa igreja nascente, o vento soprará, ouviremos sua voz e ele nos levará por caminhos que descobriremos ao caminhar.
Neste momento, no povo do Rio Grande do Sul, é palpitante a dor de tantas famílias que tiveram que deixar suas casas, seus lares construídos com esforço e carinho, deixando para trás grande parte de sua história, de sua vida, de cada pedra construída com esforço. É uma perda difícil de mensurar, ainda mais quando o tempo continua ameaçador. Apesar do clima inclemente, o povo gaúcho está unido, está junto, assim como os discípulos segundo o evangelho. Também como eles, com o medo do futuro e a insegurança que isso traz, em luto pelo que acabaram de perder, a incerteza do futuro, a necessidade de recomeçar... não será a mesma coisa, mas não é possível ficar "dentro", com as portas fechadas. É necessário sair, olhar para frente e começar de novo.
Neste domingo de Pentecostes, Jesus Ressuscitado sopra sobre todos e cada um dos que estão nos abrigos, aqueles que dedicam seu tempo e recursos para ajudar, fortalecer e reconstruir as casas, vilas e cidades que foram devastadas. O conforto de Deus está soprando para encorajar, fortalecer e incentivar a nova vida que está surgindo. No Pentecostes, aqueles que seguiram Jesus estavam unidos, possivelmente apoiando uns aos outros e unindo forças para ver os melhores caminhos a seguir. Da mesma forma, o povo gaúcho, acostumado a se levantar e recomeçar mil vezes, hoje está unido e apoiando uns aos outros, recebendo a força do Espírito que os encoraja a não desistir. Esse vento que sopra como um consolo interior que enche de uma nova paz, que é capaz de despertar a alegria onde parece que só abundam a tristeza e o desânimo. Hoje o Espírito sopra para confortar, fortalecer e encorajar a vida de cada um dos milhares de gaúchos que se unem para reconstruir, ajudando uns aos outros.
Em meio a essa nova comunidade criada pelas enchentes, Jesus Ressuscitado está presente e dá sua paz e seu sopro de vida. Recebemos as palavras do Papa Francisco que diz: “Quero assegurar-lhes minha oração pelo povo do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, atingido por grandes enchentes. Que o Senhor acolha os defuntos e console seus familiares e aqueles que tiveram que deixar suas casas” (cf. Em telefonema a Dom Jaime Spengler, Francisco mostra sua solidariedade diante das enchentes no Brasil).
Pedimos ao Espírito que nos encha de sua graça, que encoraje nossa vida para que também possamos nos alegrar, como diz Francisco na Evangelii Gaudium: "Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria".
Ó, vinde, Espírito Criador,
as nossas almas visitai
e enchei os nossos corações
com vossos dons celestiais.
Vós sois chamado o Intercessor
do Deus excelso o dom sem par,
A fonte viva, o fogo, o amor,
A unção divina e salutar.
Sois doador dos sete dons,
e sois poder na mão do Pai,
por Ele prometido a nós,
por nós seus feitos proclamai.
A nossa mente iluminai,
os corações enchei de amor,
nossa fraqueza encorajai,
qual força eterna e protetor.
Nosso inimigo repeli,
e concedei-nos vossa paz;
se pela graça nos guiais,
o mal deixamos para trás.
Ao Pai e ao Filho Salvador
por vós possamos conhecer.
Que procedeis do seu amor
fazei-nos sempre firmes crer.
(Hino da Liturgia das Horas)