24 Agosto 2018
Depois que ouviram essas coisas, muitos discípulos de Jesus disseram: «Esse modo de falar é duro demais. Quem pode continuar ouvindo isso?»
Jesus sabia que seus discípulos estavam criticando o que ele tinha dito. Então lhes perguntou: «Isso escandaliza vocês? Imaginem então se vocês virem o Filho do Homem subir para o lugar onde estava antes! O Espírito é que dá a vida, a carne não serve para nada. As palavras que eu disse a vocês são espírito e vida. Mas entre vocês há alguns que não acreditam.» Jesus sabia desde o começo quais eram aqueles que não acreditavam e quem seria o traidor.
E acrescentou: «É por isso que eu disse: ‘Ninguém pode vir a mim, se isso não lhe é concedido pelo Pai.’ » A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus. Então Jesus disse aos Doze: «Vocês também querem ir embora?»
Simão Pedro respondeu: «A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Agora nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus.»
Jesus disse aos Doze: «Vocês não são os doze que eu escolhi. Apesar disso, um de vocês é um diabo.» Jesus estava falando de Judas, filho de Simão Iscariotes, porque Judas iria trair Jesus, apesar de ser um dos Doze apóstolos.
Leitura do Evangelho de João 6,60-69 (Correspondente ao 21º Domingo do Tempo comum, do ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O texto que a Liturgia nos oferece conclui o capítulo 6 do Evangelho de João que há vários domingos se lê e partilha.
Lembremos os diferentes acontecimentos narrados neste capítulo. Inicia-se com uma breve narrativa da passagem de Jesus para o outro lado do mar da Galileia, seguida da multiplicação dos pães e cinco peixes graças a um menino que partilha sua pobreza que é transformada em alimento para a multidão que estava ali. Logo após segue a caminhada de Jesus sobre o mar e o discurso sobre o pão da vida.
Ao longo deste capítulo não se pode esquecer que o Evangelho de João foi escrito no final do século I para cristãos maduros/as que eram capazes de ler além dos sinais a realidade que o Evangelho apresenta.
O texto deste domingo começa com um grupo de discípulos, assim nomeado pelo evangelista, que acha “dura esta linguagem”. As palavras ditas por Jesus são inaceitáveis, incompreensíveis e constituem um impedimento para continuar com Jesus: “Quem pode continuar ouvindo isso?”
Jesus tinha dito que era preciso comer sua carne e beber seu sangue para ter vida eterna! Ele oferece sua própria vida em favor dos outros. Ser discípulo de Jesus exige para o fiel a disponibilidade para dar sua própria vida em favor dos outros, a exemplo de Jesus. Esse é o verdadeiro seguimento de Jesus. O mistério da encarnação, início do caminho de doação do Filho, que culmina com sua morte e ressurreição, é difícil de ser aceito plenamente pelos primeiros cristãos provenientes tanto da tradição judaica como da grega.
Muitos conservam a ideia de um Messias Rei, e não querem seguir Jesus até a morte, entendida por eles como fracasso. Neste momento apresenta com muita liberdade o que significa ser seu discípulo! Jesus dirige-se a eles com palavras aparentemente mais duras ainda: “Isso escandaliza vocês? Imaginem então se vocês virem o Filho do Homem subir para o lugar onde estava antes!”.
Jesus faz referência a sua subida ao Céu, sua condição de ressuscitado da morte. Proclama assim que só o “Espírito é quem dá vida, a carne não serve para nada”!
A carne de Jesus comunica vida porque é uma vida eterna, a vida que não morre. Sem o Espírito, sem o dom da fé não é possível acreditar que a vida de Jesus e Jesus mesmo é a revelação do Pai e que somente nele temos vida eterna.
Aceitar a encarnação do Filho de Deus é acreditar que Deus se faz presente na fragilidade humana. Como convida Paulo a comunidade dos Filipenses: “Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmos. Que cada um procure não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Flp 2, 3- 5).
“A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus.”
A maior parte abandona Jesus, pois as palavras ditas por ele são intoleráveis. Comer sua carne, beber seu sangue, acreditar que ele é o enviado por Deus descido do céu, que ressuscitará aos que acreditam nele e ainda que ele é o verdadeiro pão de vida, é intolerável!
Comer Jesus é aceitá-lo totalmente, suas atitudes, suas ideias, seu ser enviado pelo Pai.
Neste momento Jesus disse aos Doze: “Vocês também querem ir embora?” Ninguém fica ao seu lado por obrigação. Jesus foi abandonado e aparentemente somente estão os Doze junto dele.
O que pensaria este grupo de pessoas, os Doze, que foram testemunhos da multidão que seguiu Jesus logo após a travessia do mar, depois foi à sua procura quando estava na sinagoga, esteve presente nas discussões com os judeus e fariseus e agora o abandona?
Hoje é possível encontrar situações similares no mundo que nos rodeia e na nossa sociedade contemporânea. Apresenta-se quantidade de justificativas para abandonar Jesus, para voltar a uma fé tranquila, que não comprometa muito, que seja somente cumprir com algumas obrigações. Uma fé que não seja tão exigente! Que não nos faça mudar tanto e deixar nossas convicções para acreditar naquilo inacessível à nossa fé mais segura e tranquila.
Possivelmente os discípulos acham-se um pouco confusos e Jesus dirige-se diretamente a eles. Ir embora? Pedro responde em nome do grupo: “A quem iremos, Senhor?” Sem Jesus, que podem fazer eles? Aonde ir?
Eles precisam de Jesus! É seu Mestre, somente ao seu lado ele acham a vida verdadeira.
Seguir Jesus agora será diferente: já não há mais uma multidão de pessoas que o seguem senão um pequeno grupo de pessoas frágeis, pobres, mas com uma grande fé na sua pessoa como enviado de Deus. E apesar disto no meio deles há um dentre eles que será um traidor!
Jesus pede-lhes fortaleza interior e fé na sua pessoa e a confiança de que eles foram escolhidos. A possibilidade de conhecer Jesus e estar junto dele é um presente de Deus e isso faz possível seu seguimento a partir deste momento.
Quando nos encontramos em momentos de crise, qual é nossa atitude diante de Deus? Qual a nossa profissão de fé?
Neste domingo somos convidados e convidadas a ser cada dia mais semelhantes a Jesus, entregando nossa vida em favor dos mais necessitados e carentes. Acolher a todos e todas, especialmente os mais pobres, para partilhar com eles nossos bens e a grande riqueza que nos foi dada: a fé em Jesus.
Lógica de Deus
Onde acaba a cidade
e começa o medo,
onde terminam os caminhos
e começam as perguntas,
perto dos pastores
e longe dos senhores,
no calor de Maria
e no frio do inverno,
vindo da eternidade
e gestando-se no tempo,
salvação poderosa para todos
atado a um edito do império,
rebaixado em um presépio de animais
aquele que a todos nos eleva até os céus,
nasceu o Filho do Pai,
Jesus, o filho de Maria.
Só abaixo está o senhor do mundo
que nós sonhamos no alto.
Aqui se vê a grandeza de Deus
contemplando a humildade deste pequenino
Aqui está a lógica de Deus,
rompendo o discurso dos sábios.
Aqui já está toda a salvação de Deus
que plenificará todos os povos e os séculos.
Benjamin González Buelta
(Salmos para sentir e saborear as coisas internamente)
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Uma nova proposta de seguimento de Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU