20 Abril 2018
Ser chamado pelo nome é ser reconhecido. E Jesus, o Bom Pastor, chama cada um de nós pelo nome, e nos convida a confiar nele, a que passemos por ele como o nosso intermediário, a escutá-lo, a seguir o seu exemplo e a vivermos com ele a sua Páscoa, a fim de conhecermos a Vida.
A reflexão é de Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 4º Domingo de Páscoa Quaresma, do Ciclo B. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Referências bíblicas
1ª leitura: «Em nenhum outro há salvação» (Atos 4,8-12).
Salmo: 117(118) - R/ A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular!
2ª leitura: «Nós O veremos tal como Ele é» (1 João 3,1-2).
Evangelho: «O bom pastor dá a sua vida por suas ovelhas» (João 10,11-18).
Eis o texto.
A imagem do pastor com as suas ovelhas deixa insensíveis muitos crentes. Pois, de fato, não apreciamos muito ser comparados a um rebanho obediente, no qual cada um perde a sua especificidade. Mas, deixando isto de lado, perguntemo-nos sobre o que Jesus quer nos dizer com esta imagem tão característica de certa região e de uma época bem determinada. Hoje vemos igualmente pessoas inscreverem-se em partidos e colocarem-se na defesa de seus líderes quer sejam políticos, confessionais ou ideológicos. Gurus é o que não falta. Jesus paradoxalmente nos convida à liberdade frente a todos os condutores de homens, mesmo quando as circunstâncias nos levam a cerrar fileira com eles, tendo em vista este ou aquele resultado. Não podemos dizer: “Eu sou de Paulo!”, ou “Eu sou de Apolo!”, ou “Eu sou de Cefas!” (1 Coríntios 1,12). Jesus opõe o "bom pastor" ao mercenário, isto é, àquele que trabalha para o seu próprio interesse: dinheiro, notoriedade, poder… Para este, a prosperidade das "ovelhas" não é o seu objetivo; estas são para ele apenas um meio. Assim, mais uma vez, se põe para nós uma questão fundamental: o que buscamos na vida, por detrás de nossas condutas, na superfície muitas vezes louváveis, mas que às vezes têm por fim tão somente nos justificarmos aos olhos dos outros ou aos nossos próprios olhos, para confirmarmo-nos a respeito de nós mesmos? Podemos às vezes ser "ovelhas", quando nos fazemos servidores, e outras vezes, "mercenários", quando nelas buscamos o interesse próprio.
Em suas parábolas, Jesus parte das realidades visíveis na vida corrente, mas, geralmente, faz este material inicial sofrer transformações consideráveis. Tanto assim que um pastor de verdade, assalariado ou não, vive do seu rebanho: da sua lã, da sua carne, do preço da venda de determinados animais. Mas este a quem Jesus chama de bom pastor, o verdadeiro pastor, não se parece com nenhum outro. Primeiro, porque para ele não se trata de um rebanho de anônimos: no versículo 10,3 (pouco antes da nossa leitura), ficamos sabendo que este pastor chama as suas ovelhas cada uma por seu nome. Ele as conhece e elas o conhecem. Mas eis que no versículo 7 o pastor não é mais pastor, mas a porta pela qual as ovelhas entram e saem. E, em João, o pastor se tornará finalmente "o Cordeiro de Deus". Jesus ocupa, portanto, todos os postos. É que o Senhor e Mestre fez-se o servidor; o pastor tornou-se o cordeiro imolado, para se oferecer ao rebanho em alimento. Então os membros do rebanho também, por sua vez, acedem ao Senhorio. Uma troca admirável! Assim ficamos sabendo que Este que está na origem de tudo o que existe põe-se a serviço de quem Ele mesmo faz existir. Há, pois, nesta parábola do Bom Pastor, a afirmação silenciosa de que tudo tem a sua origem no amor e que este amor nos acompanha ao longo de todos os caminhos que escolhemos seguir. Ele nos faz atravessar as portas da morte. O Cordeiro imolado, o nosso pastor, está vivo para sempre! Assim, a nossa vida, estando dentro da Sua, permanece inalterável.
O «bom pastor», portanto, decididamente, nada tem a ver com os pastores comuns, pois estes vivem do seu rebanho, enquanto o Cristo, pelo contrário, está a falar de um pastor que não é outro senão Ele próprio. Ele é quem dá a vida por suas ovelhas. E estas palavras querem fazer alusão à Páscoa que estava por vir. Jesus, um dia, dirá aos discípulos: «Tomai, todos, e comei; isto é o meu corpo que será entregue por vós.» «Tomai, todos, e bebei; este é o cálice do meu sangue, que será derramado por vós.» Já no capítulo 6 do evangelho de João, lemos: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna» (54) e «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele» (56). Portanto, não é mais o rebanho que alimenta o pastor, mas o pastor que, com sua própria carne, alimenta o rebanho. Aliás, tudo o que consumimos não é alimento de verdade, porque só nos proporciona um sursis à morte, a sua suspensão temporária. Ora, a Eucaristia significa tudo isso. Faz de nós, por certo, um só «rebanho», um só corpo, mas repartir, tomar e comer este pão só pode produzir frutos se absorvemos, também, a sua Palavra. Que palavra? Em 1 João 3,24, lemos que “quem guarda os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele” (são as mesmas palavras do capítulo 6). E o mandamento de Cristo é que nos amemos uns aos outros, «não com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade». Deveríamos também nós nos dar em alimento para os nossos irmãos? Pois é exatamente isto que está dito em 1 João 3,16.
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O bom pastor chama as suas ovelhas uma por uma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU