Por: João Vitor Santos | 29 Setembro 2016
O bom humor, a acidez e a perspicácia na análise de conjuntura de Mino Carta são únicos e cabem mesmo somente no italiano com coração brasileiro. Isso o faz perceber momentos sombrios com certo pessimismo, mas de forma muito peculiar. “Olha, vejo um negrume, um futuro muito terrível, pelo menos no imediato e a médio prazo. A longo prazo, estarei morto”, dispara em meio a gargalhadas ao falar do Brasil de hoje, durante uma conversa de cerca de uma hora com a IHU On-Line. Ele foi convidado a dar uma entrevista sobre a perspectiva da judicialização da política, a partir do que incita a Operação Lava Jato e as associações que são feitas com a Operação Mãos Limpas, na Itália. Mas, inevitavelmente, extrapola. Antes de falar de judicialização, ele entende que se vive ainda na relação entre a Casa-Grande e a Senzala retratadas na obra de Gilberto Freyre. “Ele escreveu coisas que deveriam levar as pessoas a meditar”, indica.
Antes de mergulhar na entrevista a seguir, concedida por telefone, é preciso que se faça algumas ressalvas ao leitor. A primeira delas é que a entrevista deve ser lida como uma conversa, marcada por rompantes, sorrisos e gargalhadas. A segunda é que se tenha em mente a trajetória desse ítalo-brasileiro, profundo conhecedor desses dois cenários, bem como sua aproximação com ideias de esquerda, o que não o fazem menos crítico da própria esquerda. “O PT, no poder, portou-se como todos os demais, não se portou melhor. Isso não impede de afirmar que o Governo Lula tenha sido um ótimo governo, dentro das possibilidades e oferecendo grandes compensações para a Casa-Grande”, analisa.
Por fim, essa conversa passa por clássicos da literatura brasileira que, como defende Carta, precisam ser revisitados antes de se fazer apressadas análises de conjuntura. “Pense e fale de Euclides da Cunha, em Os Sertões, que é uma obra de grande valor e também uma obra de denúncia. A obra do Faoro, Os donos do poder, é outra obra de denúncia”, indica.
Assim, o jornalista sugere que se observe para além da ideia de judicialização, das comparações entre Mãos Limpas e Lava Jato e se olhe para o que de fato mantém a Casa-Grande de pé e a Senzala com seus cativos. “É importante destacar que [na Mãos Limpas] não havia a menor intenção de destruir um partido. Digamos as coisas como elas realmente são: querem acabar com o PT afinados com a Casa-Grande.”
Mino Carta | Foto: Editora Confiança
Demetrio Carta, ou simplesmente Mino Carta, é jornalista, editor, escritor e pintor. Dirigiu as equipes de criação de publicações que fizeram história na imprensa brasileira, como Quatro Rodas, o Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e CartaCapital. Atualmente, aos 83 anos de idade, segue como diretor de redação de CartaCapital. Italiano nascido em Gênova, chegou ao Brasil em 1946, trazido pelos pais. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, mas acabou abandonando o curso. É doutor honoris causa pela Faculdade Cásper Líbero e, em novembro de 2006, recebeu o prêmio de Jornalista Brasileiro de Maior Destaque no Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil – ACIE. Entre seus livros publicados estão O Castelo de Âmbar (São Paulo: Editora Record, 2000), Histórias da Mooca, com as bençãos de San Gennaro (São Paulo: Editora Berlendis & Vertecchia), A Sombra do Silêncio (São Paulo: Editora Francis, 2003) e O Brasil (São Paulo: Editora Record, 2013). Neste ano, está lançando o que chama “o quarto livro de minha vida”, A vida de Mat (São Paulo: Editora Hedra, 2016), livro, sobretudo, de memórias, misturando até na ficção um fundo autobiográfico.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como o senhor compreende o que foi a Operação Mãos Limpas [1], na Itália? O que fez essa Operação perder força ao longo do tempo?
Mino Carta - Na verdade, essa Operação não perdeu força. Ela chegou a precipitar o fim daquilo que chamamos de Primeira República Italiana, seguiu à guerra e ao fascismo. E começou uma segunda fase, no período que agora chamamos de nova república, a Segunda República Italiana. Historicamente, a Mãos Limpas fez um estrago total. Ela acabou com os partidos, mesmo o Partido Comunista [2] também mudou de nome e, de alguma maneira, mudou de linha. O Partido acabou aproveitando outros fatores, outras razões, tais como, em primeiríssimo lugar, a queda do Muro de Berlim [3], nas mudanças naquela que ainda era a União Soviética, e acabou se adaptando a uma nova situação, novas condições do mundo. De qualquer maneira, o Partido Comunista não foi envolvido na Operação Mãos Limpas porque não havia como envolvê-lo, pois tinha um comportamento absolutamente honesto e não havia como pegá-lo. Agora, os demais partidos foram todos pegos, como também os empresários que estavam envolvidos nessas operações incorretas, em atos de corrupção pura.
A verdade é que a Operação deslanchou mais ou menos por acaso, porque foi aí que entrou o procurador da República Antonio Di Pietro [4], que, na verdade, era um promotor que foi incumbido de seguir a história de um sujeito menor, uma pessoa aparentemente insignificante, medíocre, que, no entanto, estava envolvida num escândalo muito maior do que se imaginava. Começou aí a Operação Mãos Limpas. Dessa investigação se revelou apenas uma ponta mínima, como a ponta de um iceberg. E eles foram atrás de todo o resto.
É importante destacar que não havia a menor intenção de destruir um partido. Ao contrário do que acontece no Brasil, pois aqui se pretende destruir o PT. A Casa-Grande mandou destruir o PT, e o senhor Moro [5] e seus promotores, que são fanáticos religiosos, apocalípticos, evangélicos, burros, de uma ignorância monumental e treinados nos Estados Unidos, se adaptam a isso. Digamos as coisas como elas realmente são: querem acabar com o PT afinados com a Casa-Grande.
IHU On-Line - Essa, então, é a principal diferença ente a italiana Mãos Limpas e a brasileira Lava Jato?
Mino Carta - Exato.
Na Itália, a imprensa representa todas as tendências. Aqui, ela só está ao lado da Casa-Grande
A Operação Mãos Limpas não tinha a menor intenção de destruir um partido. Tinha a intenção de seguir uma linha de combate à corrupção desde que haviam aparecido sinais dela. É dessa corrupção que eles foram atrás. E digo mais: esse imbecil do Moro continua falando que os vazamentos na Itália ajudaram muito a Justiça. [Gargalhadas] os vazamentos na Itália?!! Houve vazamentos na Itália, mas não na proporção que se deram aqui. E, na Itália, a imprensa representa todas as tendências. Aqui, ela só está ao lado da Casa-Grande. Isso realmente é uma coisa intraduzível. É uma violência inaudita, medieval, não existe em nenhum lugar do mundo uma imprensa com pensamento único alinhada com apenas um lado. Não existe! Procurem. Vocês não vão encontrar. Então, os vazamentos se dão para quem vai falar mal do PT, para quem quer tirar o PT do jogo, para quem quer prender o Lula, para quem quer o impeachment de Dilma. Então, que comparação é possível? A Itália é um país democrático. É o Estado Democrático de Direito que o Brasil não é.
IHU On-Line - Pelo que o senhor reitera, posso concluir que é impossível fazer essa comparação entre Mãos Limpas e Lava Jato?
Mino Carta - Claro! São países completamente distintos. A Itália tem seus defeitos, até muitos para o meu gosto — à parte, é claro, as catedrais românicas e os palácios renascentistas —, mas a Itália é, de fato, um Estado Democrático de Direito e o Brasil, não. Nós não temos justiça no Brasil.
IHU On-Line - Por que o Brasil não é um Estado Democrático de Direito?
Mino Carta - Porque as suas instituições não valem nada, zero. Quais são as bases de uma democracia? Executivo, Legislativo e Judiciário. Judiciário não existe, porque nós temos um Supremo Tribunal que se cala diante do assalto à lei que está sendo cometido. Agora, o Legislativo [risadas longas e com ar de deboche] sabemos que é formado por uma quadrilha. Ali dentro há assassinos e ladrões, num conjunto extraordinário em que o Cunha [6] é apenas um exemplar dessa máfia que tomou conta. E o Executivo acabou na mão de um senhor que está a ponto de enterrar o Brasil, a loteá-lo e vendê-lo, de liquidar a Petrobras, o pré-sal, privatizar tudo que for possível.
Privatizar significa, evidentemente, entregar ao capital estrangeiro. Isso é óbvio, basta ver o que aconteceu com os tucanos no poder. Aquilo foi a maior bandalheira já ocorrida na história do Brasil, a bandalheira das privatizações. Quem são os donos? Quem é o dono das comunicações no Brasil? É o estrangeiro. E nós estamos aqui sem nenhum respaldo legal, da Justiça, ainda sob um processo de judicialização que é inegável. E tudo isso amparado numa polícia que está trabalhando a favor da Casa-Grande, são os novos jagunços, capatazes. Veja que o diretor da Polícia Federal, que se chama Leandro Daiello [7], de sobrenome italiano, continua lá. Estava antes e continua depois, porque é um homem de absoluta confiança da Casa-Grande. É simplesmente isso que está acontecendo no Brasil.
IHU On-Line - O senhor recorre o tempo todo a essa analogia de Casa-Grande & Senzala [8]. Gostaria que explicasse mais claramente essa associação que o senhor faz. Entendo que o senhor quer dizer que este momento que se vive no Brasil atualiza a lógica da relação entre a Casa-Grande e a Senzala, explicitada na obra de Freyre [9]. É isso?
Mino Carta - Sim, é isso.
IHU On-Line - Mas quem é a Casa-Grande hoje?
Mino Carta - Bem, a Casa-Grande é o poder real. É o poder do dinheiro. Onde ele está, está a Casa-Grande. Hoje, neste mundo, e como diz o Papa Francisco — por quem tenho grande admiração, embora não seja exatamente um crente —, o dinheiro é o grande fator, o que alimenta e movimenta o mundo é a busca de dinheiro. Mas a produção de dinheiro, a produção direta de dinheiro, que no fundo é o que prega o neoliberalismo, está produzindo cada vez mais pobres. Isso no mundo inteiro; no Brasil então, nem se fala.
O Brasil é um país atrasado, medieval, estamos ainda nos tempos da descoberta, temos ainda senzalas. Para entender isso, basta olhar a rua. Olhe, ande pela rua, pelas calçadas, visite as favelas, pelo amor de Deus. São 65 mil pessoas assassinadas anualmente no Brasil. Isso é pior do que qualquer uma dessas recentes guerras, incluindo a do Vietnã. É uma piada e para nós está tudo normal. Veja a nossa capacidade de engolir sapos, a nossa tolerância, a nossa resignação. Isso é medo. Chama-se ME-DO, num país medieval onde nossa imprensa dá pena. Ela é ridícula e, além de tudo, pessimamente escrita, atacando a língua diariamente de forma implacável.
É isto: a Casa-Grande está onde está o dinheiro, os caras que decidem, e a serviço deles temos hoje os poderes da República, temos a Justiça, o Congresso e o Executivo. Temos tudo a serviço e ainda com a polícia ajudando. E a mídia trombeteando os valores dessa gente que, na verdade, é uma quadrilha mafiosa.
IHU On-Line - Então, podemos concluir que a população, os mais pobres, são mantidos cativos para servir a Casa-Grande, já que ela não funciona sem eles. É isso? E como romper com essa lógica? Como superar esse medo que nos encurrala dentro da Senzala?
Mino Carta - Exatamente. É isso que acontece. Será necessário que corra muito sangue na calçada para que um dia esse rompimento ocorra. Mas eu não assistirei a esse fenômeno. E, evidentemente, nem sei se acontecerá. Veja a história das nações que hoje catalogamos como do primeiro mundo. Todas essas nações resultaram de muito sangue na calçada. Primeiro, guerras de independência reais. Os Estados Unidos tiveram uma guerra de independência, depois tiveram uma Guerra de Secessão [10] que chegou a 600 mil mortos. Era sul contra norte. E isso tudo já no século XIX. Ou seja, não se forja uma nação de verdade sem sangue na calçada. A própria Venezuela teve uma guerra de independência. Bolívar [11] é de lá. San Martin [12] é argentino. Eles foram combatentes.
IHU On-Line - E uma revolução nos tempos de hoje ainda depende de um grande líder para mobilizar uma nação? Ou já se vive outros tempos?
Mino Carta - Eu não sei como se daria uma revolução hoje porque, realmente, os tempos são peculiares e os instrumentos à disposição de qualquer tipo de pregação mudaram brutalmente, são de outros tempos. Portanto, não ouso inventar. Poderia inventar, se quiser [risos], mas seria um esforço de imaginação. Então, é melhor imaginar que se dará em circunstâncias próprias, dentro de situações peculiares e, no mínimo, atuais.
Agora, é lógico que há sempre necessidade de líderes. Eu reconheço em Lula uma grande personalidade, um homem de grande inteligência e de grande faro político. Mas essa tendência que ele tem de negociar, que é uma coisa herdada do seu tempo de presidente de sindicato, a essa altura virou algo altamente daninho.
Se, no dia final do impeachment, Dilma chegasse no Congresso e, em lugar de fazer sua penosa defesa — que classifico quase como ridícula —, tivesse dito apenas e tão somente: “senhores, não me dirijo a vocês porque por vocês tenho o maior desprezo. Vou limitar-me a expor ao povo brasileiro, que tanto prezo, nos mínimos detalhes a ficha criminal de cada um dos que me acusam”. Se ela tivesse feito isso, meu caro, seria um belo exemplo de coragem e que, talvez, pudesse ser de alguma maneira um tanto quanto contagiante para algumas pessoas.
Se o Lula, um ano e meio atrás, tivesse saído para fazer o que está fazendo somente agora nessa semana, viajando pelo Nordeste e tentando exatamente expor as razões verdadeiras do que está acontecendo, em lugar de fazer aquela penosa defesa, em que até chorou, se fizesse isso em abril do ano passado, quando eu defendi essa tese, poderia ter evitado que a situação chegasse ao ponto em que chegou. Isso que é a verdadeira liderança.
IHU On-Line - O senhor acredita que esse foi o principal erro do PT nesse processo? O partido perdeu o contato com a rua?
Mino Carta - Totalmente. O PT no poder portou-se como todos os demais, não se portou melhor. Isso não impede de afirmar que o Governo Lula tenha sido um ótimo governo, dentro das possibilidades e oferecendo grandes compensações para a Casa-Grande. Sempre, sempre, seeeempre havia concessões, sempre colocando panos quentes para acalmar a Casa-Grande. Infelizmente é isso. Então, este país não vai sair desse atoleiro que agora está afundando.
IHU On-Line - Então, é possível formular que o governo do PT, não só do presidente Lula, abriu minimamente a porta da Senzala, sempre se curvando nos salões da Casa-Grande?
Mino Carta - Eu também acho exatamente isso. Agora, há nisso tudo um toque grave que cabe observação. Os cálculos de dois ou três anos atrás nos diziam que cerca de 35 ou 40 milhões de brasileiros tinham saído da miséria absoluta. Eu acho que esses cálculos não estavam errados. De fato, tivemos o pobre viajando de avião. Foi um momento importante porque foram implementadas políticas sociais, mas precisamos entender que essas políticas por si não criam a consciência da cidadania. Elas melhoram a vida do indivíduo e da família dele, mas não encucam a consciência de cidadão. Assim, no fundo, quem ascende no Brasil, quem avança um pouquinho, já quer ser da Casa-Grande, ou seja, são totalmente despolitizados. Colocam a camiseta verde e amarela da seleção brasileira e vão para rua para fazer barulho. Isso é trágico, mas é o que está acontecendo. Abrir a porta de políticas sociais, que foi um mérito inegável do governo Lula, por si só não resolve o problema.
IHU On-Line - O senhor quer dizer que não se promoveram as mudanças sociais necessárias, deu-se apenas um agrado aos habitantes da Senzala para os manter cativos?
Mino Carta - Sim. Ou até saem da Senzala, o que seria ótimo, mas nem por isso percebem que nas costas deles ainda existe uma Senzala, que deixaram uma Senzala e que ainda tem gente ali. Esse que sai quer ir para a Casa-Grande, a mentalidade dele é da Casa-Grande. O cara que ascende no Brasil, mesmo que um pouquinho, quer grana. Esse é o único problema dele.
O governo Lula também foi importante porque implementou uma política exterior independente, de verdade e desatrelada dos interesses dos Estados Unidos. Isso ficou provado em inúmeras oportunidades. Esse governo do Temer e do chanceler Serra [13] quer ser súdito porque a Casa-Grande adora ser súdito do império. Isso porque acham que o império vai resolver os problemas e deixam tudo com ele.
IHU On-Line - Quer dizer, então, que vivemos o período colonial? Passamos o Império, a República, República Nova, Constituição Federal de 1988, mas ainda continuamos com a cabeça no Brasil colônia?
Mino Carta - Claro. Isso é lógico. Somos ainda um país com essa mentalidade. Veja a resignação do povo brasileiro. É porque a maioria ainda traz no lombo o sinal da chibata. Assim, tudo se explica. Não existem povos melhores ou piores. O que existem são circunstâncias históricas diferentes. E aqui nós tivemos uma Casa-Grande que teve seu trabalho incrivelmente facilitado pela falta de oposição, de combate. Até houve alguma rebeldia, houve tentativas de rebelião, mas muito circunscritas, efêmeras.
IHU On-Line - A elite política brasileira é da Casa-Grande por essência ou é saída da Senzala já convertida ao pensamento da Casa-Grande?
Mino Carta – [Risos, gargalhadas] Tem muito político que mereceria estar numa senzala [mais gargalhadas]. Não, não numa senzala. Deveriam estar numa selva ainda, subindo em árvores. Agora, eles servem à Casa-Grande. Alguns são decididamente Casa-Grande, são uns agregados que já ganharam um bom lugarzinho ali. Outros aspiram a estar lá e desde já servem a Casa-Grande.
IHU On-Line - E como romper com esse pensamento colonial?
Mino Carta – [Muitos risos] Olha, não tem, não tem. Veja o esforço brutal daqueles que pensam. Tem até gente de direita como o Gilberto Freyre, que certamente era um conservador, mas ele escreveu coisas que deveriam levar as pessoas a meditar. Pense e fale de Euclides da Cunha [14], em Os Sertões [15], que é uma obra de grande valor e também uma obra de denúncia. A obra do Faoro [16], Os Donos do Poder [17], é outra obra de denúncia. Mas as pessoas ou não leem ou não entendem. Assim, não temos muita alternativa.
IHU On-Line - Bem, então, a primeira tarefa depois dessa entrevista é voltar às obras clássicas para entender o Brasil de hoje.
Mino Carta - Não tenho dúvidas disso [risos]. É sempre muitíssimo bom, mas, evidentemente isso não chega ao povão, não chega à maioria e é sempre uma coisa de quem sabe ler. E saber ler é muito difícil, viu? É tão difícil quanto saber escrever. Lidar com o vernáculo, que é nossa pátria, é muito importante. Ter um bom desempenho no uso da língua é fundamental, porque é prova de raciocínio bom e, ao mesmo tempo, é prova de que é isso que alimenta o raciocínio, que alimenta nossos escassos neurônios.
IHU On-Line - Gostaria de voltar a um ponto na nossa conversa, em que citou o Papa Francisco. O senhor o considera um líder mundial?
Mino Carta - Ah, sem dúvida. Ele é um grande líder mundial e um verdadeiro estadista, porque ele está realmente tentando transformar a Igreja Católica para torná-la adequada aos dias de hoje sem perder o contato com seus primórdios, os momentos de seu nascimento. Momentos esses que depois foram traídos vergonhosamente porque, como sabemos, a Igreja se tornou um poder temporal, deixou de ser o poder espiritual para poder descer para a terra e se estabelecer como tal.
O Papa está lutando contra o deus dinheiro e o deus mercado. A luta dele é contra isso, ele prega e faz o que pode contra isso, mas também tem os seus limites. Imagine, contra isso tem Wall Street, existem 80 multinacionais que hoje são donas do mundo e mandam muito mais do que os governos nacionais. Essa é a Casa-Grande do mundo. Só que existe algum recurso, alguma retaguarda num mundo mais avançado, civilizado, democrático do que o Brasil. Enquanto aqui, nesse momento trágico em que vivemos, nós não temos nem justiça. E a justiça seria o nosso último refúgio, essa haveria de ser a nossa única garantia. Não temos justiça, temos Gilmar Mendes [18], Celso de Mello [19] e coisas assim.
IHU On-Line - Falando em justiça, como o senhor compreende o que pensam esses novos juristas que se tornaram estrelas da Lava Jato, como o juiz Sérgio Moro e o procurador Dalton Dallagnol [20]?
Mino Carta - Pela cabeça deles passa um fanatismo apocalíptico, são figuras tragicômicas, altamente tragicômicas de uma ópera bufa que não deixa de ser trágica, embora bufa.
IHU On-Line - Perdoe-me pela insistência, mas como pensar em alternativas, em linhas de fuga?
Mino Carta - Eu não enxergo alternativas. A única alternativa existiria se o povo brasileiro fosse diferente do que é, e eu não posso imaginar isso, e se tivéssemos líderes. Só eles são capazes de acender o estopim. Nós carecemos de líderes, carecemos de poetas, inclusive — o que é gravíssimo —, carecemos de um povo em condições de enfrentar a realidade como ela deveria ser enfrentada e na qualidade de conhecedor de sua própria força.
IHU On-Line - As manifestações de 2013 e agora a ocupação das escolas por estudantes secundaristas não seriam uma linha de fuga, uma inspiração para romper com esse pensamento colonial?
Mino Carta - De vez em quando aparece um sintoma muito simpático para almas como a minha. O comportamento dos estudantes secundaristas em São Paulo, por exemplo, tem sido exemplar. Acho isso excelente, tomara que eles continuem assim e cheguem à universidade com o mesmo espírito e que levem a vida com esses ideais que demonstram ter neste momento.
IHU On-Line - Que lição a esquerda nacional pode – e deve – tirar de todo esse processo de impeachment?
Mino Carta - A esquerda deve aprender que só se resolve essas coisas com coragem. A origem de tudo é a coragem, a coragem da coerência, sobretudo. A esquerda brasileira é um mistério. Evidentemente, há pessoas que são de esquerda por natureza. Mas uma esquerda brasileira convincente, contemporânea do mundo, digna da modernidade, digna até deste país extraordinário que é o Brasil, tão dotado e favorecido pela natureza, não existe. E isso está provado.
IHU On-Line - Que Brasil o senhor vê logo ali na frente?
Mino Carta - Olha, vejo um negrume, um futuro muito terrível, pelo menos no imediato e a médio prazo. A longo prazo estarei morto [gargalhadas].
Notas:
[1] Operação Mãos Limpas (Mani pulite): investigação judicial de grande envergadura na Itália, iniciada em Milão para esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990, na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a loja maçônica P2. A Operação Mãos Limpas levou ao fim da chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento de muitos partidos políticos. Alguns políticos e industriais cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos. (Nota da IHU On-Line)
[2] Partido Comunista Italiano (PCI): nasceu com a denominação inicial de Partido Comunista da Itália, da cisão de uma corrente de esquerda do Partido Socialista Italiano liderada por Amadeo Bordiga e Antônio Gramsci. Entre 1924 e 1926, Gramsci foi secretário do partido. (Nota da IHU On-Line)
[3] Queda do muro de Berlim: o muro começou a ser derrubado em 9 de novembro de 1989, num ato inicial de reunificação entre as duas Alemanhas. Além disso, a queda do muro significa, para muitos historiadores, o fim da Guerra Fria. A construção do muro aconteceu em 1961, dividindo a Alemanha entre República Federal Alemã (coordenada pelos países democráticos, liderados pelos EUA) e República Democrática Alemã (sob jurisdição dos países comunistas, liderados pela URSS). Centenas de pessoas foram mortas ou feridas tentando fugir do lado oriental para o ocidental da construção. (Nota da IHU On-Line)
[4] Antonio Di Pietro (1950): é um ex-magistrado do Ministério Público italiano, promotor, advogado e político italiano, principal nome do partido de esquerda Itália dos Valores. É parlamentar da Câmara dos Deputados da Itália (XV e XVI legislaturas) e foi membro do Senado na XIII legislatura. Fez parte da operação Mãos Limpas como promotor público e em 1996 deu início à sua carreira política, tendo fundado em 1998 o seu novo partido. (Nota da IHU On-Line)
[5] Sérgio Fernando Moro (1972): juiz federal brasileiro que ganhou notoriedade por comandar o julgamento dos crimes identificados na Operação Lava Jato. Formou-se em Direito pela Universidade Estadual de Maringá em 1995, tornando-se juiz federal em 1996. Também cursou o programa para instrução de advogados da Harvard Law School em 1998 e participou de programas de estudos sobre lavagem de dinheiro promovidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. É mestre e doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Além da Operação Lava Jato, também conduziu o caso Banestado. No caso do Escândalo do Mensalão, a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber convocou o juiz Sérgio Moro para auxiliá-la. Em 2014, Moro foi indicado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil para concorrer à vaga deixada por Joaquim Barbosa no STF, porém, em 2015, a vaga foi preenchida por Luiz Fachin. (Nota da IHU On-Line)
[6] Eduardo Cosentino da Cunha (1958): economista, radialista e político brasileiro. É evangélico neopentecostal. Exerceu o cargo de Deputado Federal entre fevereiro de 2003 e setembro de 2016, quando foi cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados. Está sendo investigado pela Operação Lava Jato e foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Acusado de mentir na CPI da Petrobras, teve contra si aberto processo de cassação por quebra de decoro parlamentar. Em 3 de março de 2016, o STF acolheu por dez votos a zero, em unanimidade, a denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, contra Eduardo Cunha por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tornando-o réu neste tribunal. Em 5 de maio de 2016, o plenário do STF unanimemente manteve a decisão do ministro Teori Zavascki que determinou o afastamento de Cunha de seu mandato de deputado federal e consequentemente do cargo de Presidente da Câmara dos Deputados. (Nota da IHU On-Line)
[7] Leandro Daiello Coimbra: é desde 2011 diretor geral do Departamento de Polícia Federal do Brasil, que ganhou notoriedade pelos trabalhos da Polícia Federal na Operação Lava Jato. (Nota da IHU On-Line)
[8] Casa-Grande & Senzala (Rio de Janeiro: Record, 1998): é um livro do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre publicado pela primeira vez em 1933. Freyre apresenta a importância da casa-grande na formação sociocultural brasileira, assim como a da senzala na complementação da primeira. Além disso, Casa-Grande & Senzala enfatiza a formação da sociedade brasileira no contexto da miscigenação entre os brancos, principalmente portugueses, dos negros das várias nações africanas e dos diferentes indígenas que habitavam o Brasil. Para Freyre, a própria arquitetura da casa-grande expressaria o modo de organização social e política do Brasil, o patriarcalismo. Tal estrutura seria capaz de incorporar os vários elementos que comporiam a propriedade fundiária do Brasil Colônia. Do mesmo modo, o patriarca proprietário da terra considerado dono de tudo que nela se encontrasse: escravos, parentes, filhos, esposa, amantes, padres, políticos. Este domínio se estabeleceu incorporando tais elementos e não os excluindo. O padrão se expressa na casa-grande que é capaz de abrigar desde escravos até os filhos do patriarca e suas respectivas famílias. Freyre também desmistifica a noção de determinação racial na formação de um povo, no que dá maior importância àqueles culturais e ambientais. Com isso refuta a ideia de que no Brasil se teria uma raça inferior devido à miscigenação. Antes, aponta para os elementos positivos da formação cultural brasileira oriundos desta miscigenação entre culturas tão distintas. (Nota da IHU On-Line)
[9] Gilberto Freyre (1900-1987): escritor, professor, conferencista e deputado federal. Colaborou em revistas e jornais brasileiros. Foi professor convidado da Universidade de Stanford (EUA). Recebeu vários prêmios por sua obra, entre os quais, em 1967, o prêmio Aspen, do Instituto Aspen de Estudos Humanísticos (EUA) e o Prêmio Internacional La Madoninna, em 1969. Entre seus livros, citamos: Casa grande & Senzala e Sobrados e Mocambos. Sobre Freyre, confira Cadernos IHU nº 6, de 2004, intitulado Gilberto Freyre: da Casa-Grande ao Sobrado. Gênese e Dissolução do Patriarcalismo Escravista no Brasil. Algumas Considerações. (Nota da IHU On-Line)
[10] Guerra Civil Americana: também conhecida como Guerra de Secessão ou Guerra Civil dos Estados Unidos, foi travada entre os anos de 1861 e 1865 nos Estados Unidos, depois de vários estados escravagistas do sul declararem sua secessão e formarem os Estados Confederados da América, conhecidos como "Confederação" ou "Sul". Os estados que não se rebelaram ficaram conhecidos como "União" ou simplesmente "Norte". O conflito teve sua origem na controversa questão da escravidão, especialmente nos territórios ocidentais. As potências estrangeiras não intervieram na época. Após quatro anos de sangrentos combates que deixaram mais de 600 mil soldados mortos e destruíram grande parte da infraestrutura do sul do país, a Confederação entrou em colapso, a escravidão foi abolida, um complexo processo de reconstrução começou, a unidade nacional retornou e a garantia de direitos civis aos escravos libertos teve início. (Nota da IHU On-Line)
[11] Simón Bolívar (Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco) (1783-1830): foi um militar liberal e líder político venezuelano, sendo o primeiro a apoiar na prática a descolonização. Junto a José de San Martín, foi uma das peças-chave nas guerras de independência da América Espanhola do Império Espanhol. Após o triunfo da Monarquia Espanhola, Bolívar participou da fundação da primeira união de nações independentes na América Latina, nomeada Grã-Colômbia, da qual foi Presidente de 1819 a 1830. Simón Bolívar é considerado por alguns países da América Latina como um herói, visionário, revolucionário e libertador. Durante seu curto tempo de vida, liderou a Bolívia, a Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela à independência, e ajudou a lançar bases ideológicas democráticas na maioria da América Hispânica. Por essa razão, é referido por alguns historiadores como "George Washington da América do Sul". (Nota da IHU On-Line)
[12] José Francisco de San Martín y Matorras (1778-1850): foi um general sul-americano cujas campanhas foram decisivas para as declarações de independência da Argentina, Chile e Peru. (Nota da IHU On-Line)
[13] José Serra (1942): é um economista e político brasileiro, filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB. Atualmente, responde pelo Ministério de Relações Exteriores. Foi o trigésimo terceiro governador de São Paulo, entre 1º de janeiro de 2007 a 2 de abril de 2010. Foi um dos fundadores da Ação Popular e foi presidente da União Nacional dos Estudantes. Após o golpe militar de 1964, refugiou-se em embaixadas de outros países. Mais tarde radicou-se no Chile, onde conheceu sua esposa, Mónica Serra, com quem tem dois filhos nascidos lá. Neste mesmo período fez mestrado em Economia pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Chile. Ficou no país até o golpe militar de 1973, quando foi para os Estados Unidos, onde concluiu um segundo mestrado e um doutorado na Universidade de Cornell. Após catorze anos exilado, Serra voltou ao Brasil e trabalhou na Unicamp até 1983, quando foi nomeado pelo governador Franco Montoro como secretário de Planejamento de São Paulo. Foi eleito deputado federal durante a Assembleia Constituinte de 1988. Foi senador pelo PSDB, ministro da Saúde e Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso, prefeito de São Paulo, governador do estado e candidato a presidente em 2002 e 2010. (Nota IHU On-Line)
[14] Euclides da Cunha (1866-1909): engenheiro, escritor e ensaísta brasileiro. Entre suas obras, além de Os Sertões (1902), destaca-se Contrastes e confrontos (1907), Peru versus Bolívia (1907), À margem da história (1909), a conferência Castro Alves e seu tempo (1907), proferida no Centro Acadêmico XI de Agosto (Faculdade de Direito), de São Paulo, e as obras póstumas Canudos: diário de uma expedição (1939) e Caderneta de campo (1975). Confira a edição 317 da IHU On-Line, de 30-11-2009, intitulada Euclides da Cunha e Celso Furtado. Demiurgos do Brasil. (Nota da IHU On-Line)
[15] Os Sertões: livro brasileiro, escrito por Euclides da Cunha e publicado em 1902. Trata da Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da Cunha presenciou uma parte desta guerra como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo. Pertence, ao mesmo tempo, à prosa científica e à prosa artística. Pode ser entendido como uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana, mas não é errado lê-lo como uma epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites. O crítico literário Alexei Bueno considera Os Sertões uma das três grandes epopeias da língua portuguesa, podendo ser comparada à Ilíada — assim como Os Lusíadas podem ser comparados à Eneida e Grande Sertão: Veredas, à Odisseia. (Nota da IHU On-Line)
[16] Raymundo Faoro ou Raimundo Faoro (1925-2003): jurista, sociólogo, historiador e cientista político brasileiro. Suas obras se propõem a fazer uma análise da sociedade, da política e do Estado brasileiro. Em seu livro mais clássico, Os Donos do Poder (Porto Alegre: Editora Globo, 1958), abordou conceitos de patrimonialismo brasileiro, onde o contextualizava a partir da colonização portuguesa. Raymundo foi membro da Academia Brasileira de Letras e Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). (Nota da IHU On-Line)
[17] Os donos do poder (Rio de Janeiro: Globo, 2012): livro de Raymundo Faoro. Publicado pela primeira vez em 1958, em Porto Alegre, o livro só teve repercussão nacional com a edição de 1975. Faoro mostra que o patrimonialismo estatal se manteve por toda a história brasileira até Getúlio Vargas. "Olhos voltados para a especulação, o lucro e a aventura", escreve a resenhista Laura de Mello e Souza. "O Estado - escreveu Faoro - pela cooptação sempre que possível, pela violência se necessário, resiste a todos os assaltos, reduzido, nos seus conflitos, à conquista dos membros graduados de seu estado-maior." (Nota da IHU On-Line)
[18] Gilmar Mendes (1955): ex-advogado, professor, magistrado e jurista brasileiro. Atualmente exerce o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2002. Foi indicado pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo exercera o cargo de Advogado-Geral da União desde janeiro de 2000. É o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral. (Nota da IHU On-Line)
[19] José Celso de Mello Filho (1945): jurista brasileiro, é ministro do Supremo Tribunal Federal - STF desde 1989, nomeado pelo então presidente da República José Sarney, sendo o decano (membro mais antigo) do tribunal desde 2007. Foi presidente daquela corte de 1997 a 1999. Conhecido por seus votos longos e didáticos, possui uma formação liberal e de ideias progressistas. Formado pela Universidade de São Paulo, foi membro do Ministério Público do Estado de São Paulo desde 1970 até ser nomeado para a Suprema Corte. (Nota da IHU On-Line)
[20] Deltan Martinazzo Dallagnol (1980): mais conhecido por Deltan Dallagnol, é procurador do Ministério Público Federal desde 2003. Ganhou notoriedade por integrar e coordenar a força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção na Petrobras. Protestante da igreja Batista, é filho do procurador de Justiça Agenor Dallagnol e formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná – UFPR; realizou ainda mestrado em Direito por Harvard. Dallagnol é especialista em crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro. (Nota da IHU On-Line)
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Os limites de um Brasil contemporâneo preso ao período colonial. Entrevista especial com Mino Carta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU