04 Dezembro 2025
Após lacuna de uma década, Inventário Nacional de emissões do transporte é publicado. Melhora na tecnologia não é suficiente para conter poluição.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 03-12-2025.
Acompanhando o aumento da frota, as emissões de CO2 equivalente (CO2eq) cresceram cerca de 8% entre 2012 e 2024, sendo que os automóveis foram responsáveis por 34% desta poluição. Os dados são do Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários – Ano-base 2024, publicado na terça-feira (2), após uma década de lacuna de informações sobre o assunto.
O trabalho foi elaborado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), sob coordenação do Ministério dos Transportes (MT) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com apoio da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC), iniciativa global dedicada a reduzir poluentes climáticos de vida curta.
O inventário contabiliza os principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso –, os poluentes regulamentados pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) – material particulado gerado pela combustão, desgaste de freios, pneus e pista – e o black carbon, poderoso poluente climático de vida curta que foi incluído nas estimativas pela primeira vez.
A atualização traz um panorama que cobra mais de quatro décadas – de 1980 a 2024 –, com dados de emissões por tipo de veículo, combustível usado e fase do Proconve.
Tecnologia não é suficiente
Os dados trazidos pelo inventário mostram que as emissões de alguns gases caíram ao longo de quase 40 anos do início do Proconve e por conta da evolução tecnológica dos veículos.
Este é o caso do Monóxido de Carbono (CO), cuja emissão caiu de 5,5 milhões de toneladas em 1991 para 1 milhão de toneladas em 2024; dos Óxidos de Nitrogênio (NOx), que caíram 1,3 milhão de toneladas no final dos anos 1990 para 0,6 milhão de tonelada em 2024, e do Material Particulado (MP), cujas emissões caíram de 64 mil toneladas em 2000 para 18 mil toneladas em 2024.
Apesar disso, o trabalho mostra que a tecnologia veicular, sozinha, não é suficiente. O crescimento da frota e a maior intensidade de uso dos veículos impulsionam aumentos, como é o caso do CO2eq, citado no início da matéria.
“O documento mostra que, embora os avanços nas tecnologias de controle das emissões contribuam para reduzir emissões, eles não são suficientes isoladamente. É necessário considerar também a evolução da frota, o uso de combustíveis e os padrões de mobilidade, que têm influência importante para as emissões”, explica Helen Sousa, pesquisadora do IEMA, uma das autoras do estudo.
Em relação ao número de veículos rodando no Brasil, o inventário mostrou que o Brasil tem mais de 71 milhões de veículos em 2024, quase um por cada família brasileira (72,5 milhões de famílias, segundo o IBGE).
Desse total, 63% são automóveis, 25% motocicletas, 9% comerciais leves, 3% caminhões e menos de 1% ônibus. Estes e outros dados podem ser conferidos aqui.
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