Um ‘homo economicus’ que nunca existiu

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26 Novembro 2025

"Continua bem evidente a dificuldade de fundar uma teoria econômica menos atenta ao funcionamento de suas próprias equações e mais próxima das modalidades de comportamento e das necessidades de mulheres e homens".

O artigo é de Sergio Valzania, jornalista italiano, publicado por L'Osservatore Romano, 24-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Basta olhar ao redor para perceber quão rico é o panorama das motivações do agir humano. Paixões e sentimentos, nas mais diversas combinações, incidem nele. A ganância, o desejo de dominar e a inveja desempenham seu papel, mas, numa análise mais atenta, um espaço decididamente maior é ocupado pelo amor, pelo afeto e pela amizade em todas as suas nuances, ou mesmo simplesmente pelo desejo de fazer algo de útil, de prestar um serviço à comunidade, como demonstra a riqueza das atividades de voluntariado existentes. A elas não resulta estranha nem mesmo aquela componente de amor de si que advém da constatação de ter praticado uma boa ação, ou mesmo simplesmente de ter cumprido um dever moral. Apesar disso, no âmbito da economia continua a prevalecer a crença de que apenas o homo economicus vive e age, uma figura fictícia nascida da imaginação do imperialismo britânico na época de sua plena afirmação como justificativa para uma atitude predatória em relação ao resto do mundo.

A fé na existência unívoca e absoluta do homo oeconomicus, interessado apenas em seu próprio bem-estar, entendido na forma de crescimento monetário, está na base das teorias econômicas mais consolidadas, que dela derivam a plena confiança nas capacidades regulatórias de um abstrato mercado, pronto para regular preços, salários, rendimentos e vencimentos da melhor maneira possível. Que essa teoria seja falsa, ou pelo menos inadequada para explicar a complexidade do que acontece no mundo do trabalho, da produção, do crédito e das finanças, é hoje amplamente reconhecido.

Há um século, John Maynard Keynes alertou que, mesmo supondo que o mercado seja capaz de resolver os problemas da economia, cabe à sociedade como um todo aliviar as dificuldades, muitas vezes duríssimas, daqueles que precisam continuar a viver, e não apenas sobreviver, enquanto aguardam a solução de tais problemas.

Em todo caso, continua bem evidente a dificuldade de fundar uma teoria econômica menos atenta ao funcionamento de suas próprias equações e mais próxima das modalidades de comportamento e das necessidades de mulheres e homens. Entre os que, na Itália, assumiram essa tarefa, destacam-se Luigino Bruni e Stefano Zamagni, autores do recente livro Introduzione all’economia civile, tra il già-fatto e il non-ancora (Introdução à economia civil, entre o já feito e o ainda não feito, em tradução livre, Rocca di Papa, Città Nuova, 2025, 286 páginas, €17,29).

A análise desenvolvida pelos dois economistas está explicitamente ligada à obra de Antonio Genovesi, reconhecido fundador dos estudos econômicos na Itália e da chamada economia civil, onde o termo "civil" se refere a uma concepção comunitária do evento econômico, baseada nos interesses comuns dos envolvidos e não na conflitualidade e na subjugação. Nessa perspectiva, o mercado torna-se produto e resultado de um desejo compartilhado de troca e satisfação das necessidades em um contexto colaborativo, reconectando-se às experiências desenvolvidas sobre essa base conceitual desde a Idade Média, por exemplo, com a criação dos Montepios e dos Monti frumentari (montes de grãos), cujo objetivo principal era socorrer aqueles em dificuldades financeiras e protegê-los das atividades dos agiotas.

Uma frase do livro pode ser proposta para resumir essa linha de pensamento e pesquisa: "O objetivo a ser perseguido é pedir que o mercado não apenas seja capaz de produzir riqueza e garantir um crescimento sustentável, mas também de se colocar a serviço do desenvolvimento humano integral — ou seja, de um desenvolvimento que tende a manter a harmonia entre as três dimensões: material, sociorrelacional e espiritual."

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