25 Novembro 2025
"A centralidade do conceito de história também pode ser um problema. Em uma aceleração sem precedentes, futuro e passado estão sendo comprimidos em um presente que já não possui história. Contudo, também aqui, trata-se mais de um problema de comunicação do que de conteúdo. Por outro lado, diversos temores apocalípticos estão muito presentes, de modo que o tema escatológico poderia encontrar espaço", escreve Dieter Kampen, presidente da Academia de Estudos Luteranos na Itália e pastor da Igreja Evangélica Valdense de Bolzano, em artigo publicado por Settimana News, 21-11-2025.
Eis o artigo.
Se nos questionarmos sobre a relevância de Jürgen Moltmann hoje, devemos primeiro lembrar que Moltmann faleceu no ano passado e, portanto, poderia ser considerado um teólogo contemporâneo. Contudo, Moltmann morreu aos 98 anos e publicou sua obra seminal sobre a esperança em 1964, ou seja, antes de eu nascer; assim, de outra perspectiva, por exemplo, a minha, ele também pertence ao passado. Para responder à questão de forma mais abrangente, examinemos os momentos-chave de sua vida e sua teologia da esperança em ordem cronológica.
Notas biográficas
Moltmann nasceu em Hamburgo, em 8 de abril de 1928, em uma família sem qualquer afiliação religiosa específica. Ainda jovem, foi convocado para o exército antiaéreo alemão e sobreviveu ao bombardeio de Hamburgo, conhecido como Operação Gomorra, que visava destruir a cidade em proporções bíblicas. Moltmann sobreviveu por pouco, enquanto um camarada ao seu lado foi morto por uma bomba.
De 1945 a 1948, ele passou três anos como prisioneiro de guerra na Escócia, onde tomou conhecimento de Auschwitz e das atrocidades alemãs. Ali também começou a ler a Bíblia e, quando chegou ao Evangelho de Marcos, à crucificação e à passagem em que Jesus exclama: "Deus, Deus, por que me abandonaste?", sentiu-se compreendido, sentiu Deus próximo e presente e experimentou algo semelhante à esperança pela primeira vez em muito tempo. Esse foi o início de sua jornada teológica, e parece-me importante que essas experiências biográficas já contivessem o cerne de sua teologia.
Sua teologia não é meramente fruto de estudos teológicos teóricos, mas está enraizada na vida. De fato, sua obra caracteriza-se pela linguagem direta e eficaz, e seus temas são fundamentados na realidade e refletem as questões de seu tempo. Ele iniciou seus estudos teológicos ainda na prisão, continuando-os posteriormente em Göttingen. A partir de 1952, atuou como pastor em Bremen e, mais tarde, tornou-se professor, primeiro em Wuppertal em 1957, depois em Bonn em 1963 e em Tübingen em 1967, onde se estabeleceu definitivamente.
Ele estudou o pensamento de Karl Barth e o considerou uma teologia completa, mas em 1957 percebeu a importância negligenciada da escatologia graças ao teólogo holandês Arnold A. van Ruler. Ao estudar escatologia, descobriu a filosofia de Ernst Bloch e sua obra O Princípio da Esperança, na qual Bloch argumenta que o presente não é determinado apenas pelo passado, mas também pelo futuro, ou sobretudo pelo futuro. Essa foi a inspiração decisiva para o desenvolvimento de uma teologia que coloca a escatologia no centro, a saber, sua Teologia da Esperança, que publicou em 1964.
A teologia da esperança
Encarar o mundo de uma perspectiva escatológica significa olhar para o presente a partir do futuro, significa colocar as categorias temporais no centro. Deus é transcendente não em um sentido espacial, mas em um sentido temporal; isto é, Deus é transcendente como o futuro. O conceito de "história" torna-se central. Em Jesus Cristo, Deus entrou na história, e em sua ressurreição a nova criação já começou, que é o futuro do mundo, mas que já está presente em Cristo. O reino de Deus vindouro já está presente na comunidade de crentes, que vivem e realizam o reino de Deus na história.
Testemunhar, viver e concretizar o reino de Deus na história é a verdadeira vocação dos cristãos. Os cristãos não podem, portanto, permanecer inativos, mas devem trabalhar pelos pobres e pela justiça, não apenas na esfera privada, mas ao longo da história, isto é, na esfera pública e na política. A própria Revelação já não é uma verdade atemporal, mas torna-se história, dinâmica, viva, uma dinâmica na qual a Igreja participa, testemunhando ativamente a verdade de Deus. A história não é o teatro da reflexão teológica, mas o espaço no qual a justiça deve ser realizada. A fé não é uma simples aceitação de verdades eternas, mas uma jornada dinâmica rumo ao futuro de Deus.
A história já era central desde Hegel, e a abertura ao futuro já havia sido abordada por Heidegger, que em sua obra Ser e Tempo descreveu a existência como determinada pelo passado ou aberta ao futuro. Esse conceito foi transferido para a teologia por Rudolf Bultmann, entre outros. O que Moltmann critica nessa concepção é sua restrição à esfera pessoal e existencial, que torna a fé algo privado, desconectado do mundo. Para Moltmann, o ser humano não pode ser adequadamente compreendido fora de seu contexto e, além disso, o Evangelho não é apenas uma mensagem individual, mas diz respeito a toda a criação e a toda a história, que será transformada no reino de Deus. Moltmann distingue três fases da teologia cristã.
Na primeira fase, de Agostinho a Tomás de Aquino, o amor de Deus era central. A resposta humana ao amor divino, por sua vez, é constituída pelo amor e pelas boas obras. Essa concepção entrou em crise no final da Idade Média, quando as pessoas questionaram se era realmente possível responder adequadamente ao amor de Deus. Portanto, a Reforma Protestante colocou a Palavra de Deus no centro. A resposta humana à Palavra divina é a fé. Mas o próprio conceito da Palavra também entrou em crise, então Moltmann se concentrou em um Deus presente como Aquele que vem. A resposta humana a um Deus que vem é a esperança.
Naturalmente, as três virtudes da fé, do amor e da esperança estão interligadas, e onde uma está presente, as outras também existem. A questão é qual virtude atua como ponte entre o homem e Deus. Este esclarecimento serve para enfatizar que a teologia da esperança não se constrói simplesmente adicionando algumas peças que faltam à teologia tradicional, mas representa uma mudança paradigmática e de época, na qual toda a teologia se desenvolve a partir de uma perspectiva escatológica.
O livro, publicado em 1964, foi um sucesso imediato. Lembremos que a década de 1960 foi uma época de muita esperança. Os jovens não queriam retornar ao status quo pré-guerra, mas sim a uma sociedade melhor. O Concílio Vaticano II estava em andamento. Nos Estados Unidos, Martin Luther King protestava contra a segregação racial. O livro refletia perfeitamente o espírito da época. Por vezes, porém, especialmente nos Estados Unidos, essa teologia foi incorporada com muita facilidade a um espírito otimista de progresso e prosperidade.
A teologia da cruz
Por essa razão, mas também porque os movimentos progressistas começavam a sofrer suas primeiras decepções, Moltmann publicou sua segunda grande obra, O Deus Crucificado, em 1972. Embora Moltmann se definisse como um teólogo reformado com espírito ecumênico, esse título reflete claramente uma posição distintamente luterana. De fato, ele se inspira na teologia da cruz de Lutero.
Contudo, quando Lutero escreve que Deus morre na cruz, ele se refere às duas naturezas de Cristo, enquanto Moltmann desenvolve principalmente as implicações trinitárias, enfatizando o abandono do Filho em sua morte na cruz e a dor do Pai pela morte do Filho. A cruz não é apenas um evento cristológico, mas também diz respeito a Deus Pai e ao Espírito Santo, que procedem da relação entre eles. Deus não está acima do sofrimento humano, mas participa dele por amor. Assim, desenvolve-se uma dinâmica intratrinitária na qual toda a dor humana e o sentimento de abandono estão incluídos, para serem transformados em alegria por meio da ressurreição.
A cruz e a ressurreição são, portanto, duas faces da mesma moeda, e o cristão encontra Deus na cruz. Deus está perto daqueles que sofrem, e disso provém a esperança. Esse pensamento da teologia da cruz, que de certa forma corrige uma interpretação excessivamente otimista da teologia de Moltmann, também é retomado posteriormente. Embora seu primeiro livro tivesse um espírito mais otimista, em um ensaio escrito em 2000 para a transição para o novo milênio, ele escreve:
"O progresso deste século está repleto de ruínas e vítimas, e nenhum futuro histórico jamais poderá expiar tanto sofrimento, assim como nenhum futuro melhor jamais poderá nos assegurar que esse sofrimento não foi em vão. [...] Em todo caso, o século XX, comparado ao que o precedeu, nos ensina pelo menos uma coisa: que é impossível completar a história dentro da própria história. Nenhum futuro histórico contém em si o potencial necessário para tal. E além disso, é impossível que a história seja feita pelo homem, quando o próprio homem nada mais é do que um ser histórico".
Essas palavras excluem claramente a possibilidade de que a esperança possa se basear em qualquer progresso tecnológico, econômico ou moral. Somente Deus, que ressuscita os mortos, pode dar sentido à história e, portanto, à esperança. Esse Deus é o futuro do mundo e nos encontra no presente como Aquele que vem, e como tal pode determinar a esperança e as ações daqueles que estão abertos ao futuro.
Outros desenvolvimentos teológicos
O terceiro livro principal, A Igreja no Poder do Espírito, foi publicado em 1975 e descreve a Igreja como uma comunidade do Êxodo. Assim como Deus conduziu seu povo Israel para fora da escravidão no Egito, Ele guia a Igreja para o futuro, rompendo com certezas materiais e convenções antiquadas. A comunidade de crentes é o espaço da presença do Espírito e uma antecipação do Reino.
Merecem destaque também dois livros sobre seu conceito da Trindade, com os quais ele tenta superar as críticas ateístas, e, de 1980 a 1995, cinco contribuições sistemáticas sobre teologia que constituem uma espécie de dogmática incompleta.
Nos anos subsequentes, ele também propôs uma teologia ecológica na qual desenvolveu ainda mais a conexão entre os seres humanos e toda a criação. Questionou o antropocentrismo e propôs uma visão do mundo como um lar comum, no qual a humanidade é chamada a proteger e respeitar a natureza, pois todo o cosmos, e não apenas a humanidade, será transformado na nova criação.
Moltmann se interessa pelo desenvolvimento de várias igrejas evangélicas ao redor do mundo e compreende a importância da pneumatologia, à qual dedica amplo espaço.
Em diversas contribuições, Moltmann confronta o ateísmo, contrastando-o com seu conceito de Trindade, que supera a separação entre Deus e a humanidade que caracteriza muitos conceitos de monoteísmo.
Outro tema importante em suas últimas décadas de reflexão é a teologia da liberdade, explorando o conceito de vida plena, entendida como participação na vida de Deus, que é relacionamento, alegria e liberdade. Aqui, ele se distancia de visões que consideram a vida cristã como mera obediência ou submissão, insistindo, em vez disso, que Deus deseja a liberdade e a alegria de suas criaturas.
Em resumo, podemos dizer que Moltmann, embora permanecendo fiel ao seu paradigma inicial, desenvolveu sua teologia ao longo da vida, explorando novos campos e mantendo-se em sintonia com os tempos em constante mudança.
A relevância da teologia da esperança
A questão da relevância da teologia da esperança permanece.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que o paradigma escatológico-temporal desenvolvido por Moltmann influenciou não apenas muitos teólogos, mas também muitas Igrejas. Por exemplo, na Igreja Valdense, da qual sou membro, ouve-se frequentemente o conceito de Moltmann, segundo o qual Deus entrou na história e a Igreja deve testemunhar isso na história e, portanto, também na esfera pública e na política.
O impacto de Moltmann no mundo foi profundo e ainda não se dissipou, embora hoje algumas de suas posições possam parecer óbvias, sem que nos demos conta de que se originaram com ele. Há atitudes fundamentais que tornaram Moltmann à frente de seu tempo: ele não estava preso apenas ao seu próprio contexto da teologia alemã, mas se interessava por igrejas e teologias em todo o mundo; portanto, ele tinha uma visão global que parece particularmente relevante hoje. Além disso, ele não via a teologia como uma função de sua própria igreja confessional, mas sim como um serviço ao reino de Deus, uma posição que o tornava naturalmente ecumênico. Essa me parece uma abordagem muito relevante, especialmente para superar o foco na eclesiologia que domina o diálogo ecumênico contemporâneo.
É claro que existem alguns elementos que são exclusivos de sua época. Penso, por exemplo, que até mesmo o termo "esperança" pode ser um tanto difícil de comunicar. Hoje, muitas pessoas depositam sua esperança na medicina, que prolonga a vida; no progresso tecnológico, que traz riqueza; e na inteligência artificial, que supostamente resolverá todos os nossos problemas.
Como já descrito, a teologia de Moltmann critica essa esperança de progresso. O problema é que muitas pessoas hoje veem as guerras, a destruição ambiental e a pobreza como problemas técnicos que, portanto, devem ser resolvidos tecnicamente. Elas não compreendem que essas são questões primordialmente morais e espirituais e, consequentemente, não veem como a teologia pode ser útil ao tema da esperança. No entanto, esse é um problema de comunicação, não de conteúdo.
A centralidade do conceito de história também pode ser um problema. Em uma aceleração sem precedentes, futuro e passado estão sendo comprimidos em um presente que já não possui história. Contudo, também aqui, trata-se mais de um problema de comunicação do que de conteúdo. Por outro lado, diversos temores apocalípticos estão muito presentes, de modo que o tema escatológico poderia encontrar espaço.
Outro elemento que parece menos relevante hoje em dia é a ideia de deixar o passado para trás, de abandonar tradições e convenções antiquadas. Essa atitude foi certamente importante para a geração do pós-guerra, mas hoje, em tempos de crise em que tudo parece estar desmoronando, não deveria ser dever da Igreja salvaguardar as tradições e os valores do passado — pelo menos os bons e preciosos — da dissolução total?
Até mesmo o engajamento político já não é tão óbvio como era na época de Moltmann. Se você se manifesta pela paz hoje, corre o risco de apoiar a agressão de Putin. Se você defende os direitos da classe trabalhadora, acaba promovendo a realocação de empregos. Se você luta pela proteção ambiental, é acusado de prejudicar a economia. Se você protesta contra a energia nuclear, é tachado de inimigo do meio ambiente. Se você defende a democracia, pode ser acusado de obstruir o futuro. E assim por diante.
Muitas verdades que antes eram tidas como certas, facilitando a tradução do Evangelho em compromisso político, estão agora sendo questionadas. Hoje, já não é tão claro como testemunhar e estabelecer o Reino de Deus na esfera pública. Essas dificuldades significam que a teologia de Moltmann já não tem o mesmo impacto imediato que tinha em 1964. Isso não significa que tenha perdido a sua validade. A ênfase na escatologia, a compreensão da transcendência em termos temporais, a presença de Deus que vem, ou a sua escatologia cruciforme, continuam relevantes.
Outros temas de Moltmann incluem o conceito da Trindade, o panenteísmo, a pneumatologia, a antropologia e a ecoteologia, em que o teólogo é sempre um interlocutor contemporâneo. Assim, embora alguns aspectos da teologia de Moltmann estejam atrelados ao seu tempo, muitas de suas ideias eram vanguardistas e permanecem relevantes hoje. Além disso, sua abordagem paradigmática não esgotou seu alcance, mas continua a influenciar igrejas e teólogos em todo o mundo.
Notas
[1] - J. Moltmann, Theologie der Hoffnung. Untersuchungen zur Begründung und zu den Konsequenzen einer christlichen Eschatologie, Chr. Kaiser Verlag, Munique, 1964. Id., Teologia da esperança. Pesquisa sobre os fundamentos e implicações de uma escatologia cristã, Queriniana, Brescia 1970.
[2] - Id., Der gekreuzigte Gott. Das Kreuz Christi als Grund und Kritik christlicher Theologie, Chr. Kaiser Verlag, Munique, 1972. Id., O Deus crucificado. A cruz de Cristo, fundamento e crítica da teologia cristã, Queriniana, Brescia 1973.
[3] - Id., O Passo dos Dois Mil. Progresso e o Abismo, em R. Gibellini (org.), Perspectivas Teológicas para o Século XXI, Biblioteca de Teologia Contemporânea 123, Queriniana, Brescia 2003, pp. 27-48, aqui p. 39. Ver também J. Moltmann, Teologia Política do Mundo Moderno, Claudiana, Turim 2022, pp. 53-76.
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