07 Novembro 2025
Pela primeira vez um muçulmano nascido na África, filho de pais indianos, Zohran Mamdani, ganhou a prefeitura de Nova York, tornando-se, assim, o 111º prefeito da maior cidade dos Estados Unidos da América. O vencedor foi cuidadoso no modo como procurou envolver algumas das mais importantes confissões religiosas no movimento que o levou à vitória.
A informação é publicada por 7Margens, 05-11-2025.
Mamdani, de 34 anos, ganhou de forma surpreendente, num processo de afirmação e impacto fulminantes, afrontando as oligarquias dominantes na cidade, incluindo o próprio presidente Trump, tendo também derrotado por margem confortável os seus dois opositores.
De fato, aquele que era um discreto deputado estadual em Nova York tinha, no início deste ano, uma cotação de 1% das intenções de voto nas sondagens e ninguém – nem mesmo os que lhe são mais próximos – lhe dava qualquer hipótese de vir a conseguir a nomeação pelos democratas. Acresce que, além da sua religião, se assumia como socialista, foi sempre um contundente opositor do apoio dos EUA ao governo de Israel e fez declarações acusando a polícia de racismo.
Aparentemente, foi capaz de escutar as grandes preocupações da maior parte das pessoas, desativar uma parte das resistências, colocando no topo da sua agenda os problemas da mobilidade e do acesso à cidade, o controle das rendas de casa e os custos inacessíveis das creches. Ao mesmo tempo, Mamdani fez questão de assumir compromissos junto das comunidades de imigrantes e prometeu à comunidade LGBTQIA que Nova York seria o seu “santuário”.
A atenção às principais religiões também não foi descurada. No último ano, segundo informação publicada num trabalho do Religion News Service (RNS), o então candidato foi contatar com lideranças das principais instituições religiosas.
Contudo, foi notório o esforço feito por Mamdani junto dos 350 mil eleitores muçulmanos da cidade, até ao fim da campanha eleitoral. No comício de encerramento, em 29 de outubro, ele surgiu em palco rodeado de um rabino, um imã e um pastor, os quais intervieram para elogiar o candidato que surgia a liderar as intenções de voto.
De acordo com o RNS, na sexta-feira seguinte, dia 31, dia sagrado do Islã, voluntários da campanha e de outras organizações distribuíram panfletos aos fiéis a caminho da oração, em 210 das 300 mesquitas da cidade. Além disso, andaram de porta em porta em bairros predominantemente muçulmanos do Brooklyn e do Queens e, em grupos de WhatsApp, fizeram circular mensagens em urdu, bengali, árabe, hindi, entre outros idiomas.
Mesmo a comunidade judaica nova-iorquina, que Trump procurou instrumentalizar, dizendo que quem votasse em Mamdani era doido, dividiu-se, entre as organizações que se opuseram e as que apoiaram a sua candidatura.
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