21 Outubro 2025
Em dois dias, 45 pessoas morreram na Faixa de Gaza, incluindo um menino de 8 anos ontem. Washington está segurando o Estado judeu; Vance chega hoje.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 21-10-2025.
A trégua está armada, mas se mantém. Apesar de bombas israelenses também terem atingido a Faixa de Gaza ontem — um ataque de artilharia em Deir al-Balah que matou, entre outros, um menino de 8 anos, filho de um produtor que trabalha para a emissora de televisão alemã ZDF — e apesar de soldados terem aberto fogo contra dois grupos de militantes do Hamas (quatro mortos) que cruzaram a Linha Amarela, a fronteira da zona ainda ocupada e militarizada, logo marcada por marcadores de concreto com bandeiras amarelas, as partes em conflito reiteram que o cessar-fogo foi restaurado. Que está avançando. E que, portanto, o risco de escalada gerado no domingo pelas 153 toneladas de explosivos lançadas sobre Rafah em resposta a um ataque militante com RPGs que matou dois soldados israelenses, diminuiu. Por enquanto.
Também porque os Estados Unidos, garantidores do acordo de Sharm el-Sheikh e o único fator real que impede Netanyahu de retomar a guerra, não querem ver nenhum retrocesso. "A trégua continua em vigor", garante Donald Trump, que então ameaça as Brigadas Qassam se elas decidirem violar os termos do acordo e perturbar o frágil equilíbrio: "Elas serão aniquiladas". Enquanto isso, pessoas morrem: a Defesa Civil Palestina contabiliza 45 vítimas entre domingo e segunda-feira. Uma constante em Gaza.
Os dois enviados de Trump, o oficial, Steve Witkoff, e o não oficial, Jared Kushner, genro do magnata, chegaram a Israel. Eles se encontraram com o primeiro-ministro israelense para discutir três questões principais: como consolidar a trégua, como dar continuidade às negociações e levá-las à fase dois (a delegação do Hamas já está no Egito e as reuniões preliminares já foram realizadas) e o que se sabe sobre a visita do vice-presidente dos EUA, John D. Vance, que chega hoje a Tel Aviv.
"Com Vance, discutiremos os desafios de segurança que enfrentamos e as oportunidades diplomáticas que surgirem", antecipou Netanyahu. "Superaremos os desafios e aproveitaremos as oportunidades." Ontem, no Knesset para a reabertura da sessão de outono do Parlamento após o recesso de verão, Netanyahu descartou eleições antecipadas. "O país irá às urnas em outubro de 2026." Àqueles no Knesset que o criticaram pela falha de segurança em 7 de outubro e por sua condução do conflito, ele respondeu: "Vocês que me pediram para parar a guerra, para me render, para levantar as mãos... Se eu tivesse cedido a essas exigências, a guerra teria terminado com uma vitória esmagadora para o Hamas e todo o eixo iraniano."
Segundo vazamentos da imprensa israelense, Witkoff e Kushner disseram a Netanyahu que esperam que ele respeite as condições de cessar-fogo, "com exceção de ações de autodefesa". O deputado do Likud, Amit Halevi, critica duramente os enviados americanos. "Eles estão empurrando Israel para as portas do inferno", afirma. "É isso que significa trazer catarianos, turcos e emiradenses para a força internacional de estabilização em Gaza." Os líderes da oposição Yair Lapid e Benny Gantz compartilham essa posição.
Hamas e Israel se acusam mutuamente de violações diárias, e enviados americanos sustentam que Netanyahu tem razão em reclamar da lentidão na entrega dos corpos dos reféns que ainda estão na Faixa de Gaza. Na noite passada, o Hamas devolveu o décimo terceiro corpo dos sequestrados em 7 de outubro à Cruz Vermelha Internacional; outros quinze ainda estão desaparecidos.
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