16 Outubro 2025
Quase todos os corpos tinham os olhos vendados e ferimentos de tiros entre as sobrancelhas, segundo profissionais de saúde do Hospital Nasser, em Khan Yunis.
A informação é de Julian Borger, publicada por El Salto, 16-10-2025.
Grande parte dos 90 cadáveres de palestinos devolvidos a Gaza pelas autoridades israelenses no âmbito do cessar-fogo com o Hamas apresentava sinais de terem sido torturados e executados, com os olhos vendados, algemados e ferimentos de bala na cabeça, segundo relatos de médicos.
A trégua, mediada pelos Estados Unidos, resultou na entrega, por parte do Hamas, dos corpos de vários reféns mortos durante os dois anos de guerra. Israel, por sua vez, transferiu dois grupos de 45 corpos de palestinos mortos durante o conflito. A troca foi mediada pela Cruz Vermelha.
Médicos do Hospital Nasser, na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, que receberam os corpos da Cruz Vermelha, afirmaram nesta quarta-feira que havia amplas evidências de espancamentos e execuções sumárias, e que nenhum dos corpos pôde ser identificado.
“Quase todos tinham os olhos vendados, estavam amarrados e tinham ferimentos de bala entre os olhos. Quase todos foram executados”, declarou o doutor Ahmed al-Farra, chefe do departamento pediátrico do Hospital Nasser.
“Eles também apresentavam cicatrizes e partes da pele descoloridas, o que indica que foram espancados antes de serem mortos. Também havia sinais de que os corpos foram maltratados depois da morte”, acrescentou.
O médico afirmou ainda que os corpos foram entregues sem identificação, e que os hospitais de Gaza, bombardeados intensamente nos últimos dois anos, não têm capacidade para realizar testes de DNA.
“Eles conhecem a identidade dos corpos, mas querem que as famílias das vítimas sofram ainda mais”, acusou.
As autoridades do hospital informaram que os corpos, armazenados em câmaras refrigeradas em Israel, foram entregues com etiquetas numeradas, mas sem nomes. Os médicos estão pedindo a familiares de palestinos desaparecidos que ajudem na identificação.
O Exército israelense encaminhou uma pergunta sobre essas acusações ao serviço penitenciário, a quem o jornal The Guardian havia questionado sobre o caso.
O Tribunal Penal Internacional investiga acusações de crimes de guerra cometidos pelos dois lados da guerra em Gaza, incluindo o assassinato de 15 paramédicos e trabalhadores de resgate palestinos encontrados em uma vala rasa em março passado.
Na ocasião, as autoridades hospitalares afirmaram que as vítimas estavam com pés e mãos amarrados e haviam levado tiros na cabeça.
A devolução de corpos por ambas as partes tornou-se um obstáculo à implementação do cessar-fogo, que entrou em vigor no fim de semana. Israel anunciou que atrasaria o envio de ajuda humanitária a Gaza devido ao atraso na entrega de 28 corpos de reféns israelenses que se acredita terem morrido durante a guerra, alegando ainda que um dos corpos recebidos não correspondia a nenhum dos reféns.
O Hamas afirmou na manhã de quarta-feira que já havia devolvido todos os restos mortais de reféns mortos aos quais tinha acesso. O Exército israelense confirmou que a Cruz Vermelha recebeu mais dois corpos em Gaza.
O grupo militante já havia entregue anteriormente os restos mortais de 7 dos 28 reféns mortos e identificados, além de um oitavo corpo que, segundo Israel, não pertence a nenhum refém.
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