O ataque de Trump às normas democráticas só piora

Foto: Emily J. Higgins | Fotos Públicas

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16 Outubro 2025

"A corrupção de Trump destruirá muitas das coisas que ajudaram a manter o país estável e sensato por décadas e até séculos. Uma coisa é clara: no dia seguinte à morte de Trump, a restauração das normas democráticas deve ter precedência sobre qualquer tipo de retaliação. A única maneira de acertar essa questão é recalibrando o equilíbrio de poderes", escreve Michael Sean Winters, autor católico, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 15-10-2025. 

Eis o artigo.

O Washington Post relatou esta semana sobre as várias maneiras pelas quais o presidente Donald Trump está usando o poder de seu cargo para punir estados liderados por democratas e recompensar aqueles liderados por republicanos.

Os procuradores dos EUA nomeados por Trump garantiram indiciamentos contra o ex-diretor do FBI James Comey e a procuradora-geral de Nova York Letitia James depois que Trump escreveu à procuradora-geral Pam Bondi perguntando por que seus inimigos não foram processados ​​em um memorando "Dear Pam" [Prezada Pam] que foi postado por engano nas redes sociais.

Em julho, advogados do governo disseram a um juiz do Conselho de Proteção aos Sistemas de Mérito que o órgão pode demitir servidores públicos de carreira à vontade. Desde a adoção da Lei Pendleton de 1883, nenhum presidente havia reivindicado tal poder. O presidente Chester Arthur, um daqueles ocupantes da Casa Branca no fim do século XIX, cujos nomes rendem um bom jogo de perguntas e respostas, sancionou a lei.

E, como escrevi anteriormente, Trump e o secretário de Guerra Pete Hegseth disseram aos generais e almirantes que, se discordassem das políticas do governo, deveriam renunciar.

Política tem a ver com traçar distinções. E, nos Estados Unidos, a política eleitoral tem sido frequentemente e espetacularmente desagradável. Uma das campanhas mais mordazes da história colocou dois dos maiores Pais Fundadores da nossa nação um contra o outro em 1800: John Adams e Thomas Jefferson. Mas quando Jefferson venceu a eleição e prestou juramento, usou seu discurso inaugural para afirmar:

"Todos, também, terão em mente este princípio sagrado: embora a vontade da maioria deva prevalecer em todos os casos, essa vontade, para ser legítima, deve ser razoável; que a minoria possui direitos iguais, que a lei igual deve proteger, e violá-los seria opressão. Vamos, então, concidadãos, unir-nos com um só coração e uma só mente... Somos todos republicanos, somos todos federalistas".

Tais apelos pela unidade nacional não estão no repertório do atual presidente.

A presidência de Trump corrompeu tudo o que é bom e compartilhado em nossa vida política, e ele parece saborear sua própria divisão. Mesmo no funeral de Charlie Kirk, o presidente demonstrou sua pequenez, dizendo: "Kirk era um missionário com um espírito nobre e um grande, grande propósito. Ele não odiava seus opositores. Ele queria o melhor para eles. Foi aí que discordei de Charlie. Odeio meu opositor e não quero o melhor para ele". Em um funeral.

A corrupção de Trump destruirá muitas das coisas que ajudaram a manter o país estável e sensato por décadas e até séculos. Uma coisa é clara: no dia seguinte à morte de Trump, a restauração das normas democráticas deve ter precedência sobre qualquer tipo de retaliação. A única maneira de acertar essa questão é recalibrando o equilíbrio de poderes. O Congresso deve retomar seu papel, que vem diminuindo a cada ano desde a Segunda Guerra Mundial, como o primeiro poder do governo. Isso também exigirá a restauração de algum grau de colaboração entre os dois partidos. Eles devem evitar abordagens de soma zero e reconhecer que o futuro da democracia americana depende de sua capacidade de alcançar compromissos que sirvam ao povo. E isso exigirá a elaboração de uma legislação que funcione em torno da teoria do "executivo unitário" defendida pela atual Suprema Corte.

Nossa democracia está na corda bamba, mas não foi descartada. Trump comete erros: seu ataque à TV saiu pela culatra, com até mesmo alguns de seus seguidores expressando consternação com a perspectiva de censura governamental. Os arquivos de Epstein ainda podem prejudicá-lo profundamente. Os democratas devem reconquistar a Câmara no ano que vem, dando-lhes um pouco do poder que lhes falta atualmente. Os tempos em que vivemos são perigosos, mas não desesperadores.

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