MAGAismo, a doença senil do racismo stalinista. Artigo de Franco Berardi

Foto: Daniel Torok/FotosPúblicas

Mais Lidos

  • Eles se esqueceram de Jesus: o clericalismo como veneno moral

    LER MAIS
  • Estereótipos como conservador ou progressista “ocultam a heterogeneidade das trajetórias, marcadas por classe, raça, gênero, religião e território” das juventudes, afirma a psicóloga

    Jovens ativistas das direitas radicais apostam no antagonismo e se compreendem como contracultura. Entrevista especial com Beatriz Besen

    LER MAIS
  • Ecocídio no Congresso Nacional. Artigo de Carlos Bocuhy

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

25 Setembro 2025

O trumpismo desencadeou um processo de desintegração do Ocidente que está ocorrendo de forma extremamente rápida.

O artigo é de Franco Berardi, filósofo, escritor e ativista italiano, publicado por El Disertore, e reproduzido por CTXT, 24-09-2025.

Eis o artigo.

O totalitarismo hipnocrático dos racistas americanos, inspirado e dirigido por um gangster estuprador stalinista, iniciou agora a desintegração da entidade imperialista americana.

Uma guerra civil está se precipitando nos Estados Unidos. No domingo, 21, em Glendale, Arizona, será realizado o funeral de um racista branco morto a tiros por outro racista branco [nota do editor: o funeral já foi realizado]. "Quem planta ventos, colhe tempestades." A sangrenta guerra interna dos defensores da Segunda Emenda começou, enquanto os defensores da Primeira Emenda estão sendo aniquilados por medidas policiais que silenciam qualquer um que diga a verdade sobre o assassinato de Kirk.

(Nota histórica: a Primeira Emenda garante a liberdade de expressão. A Segunda Emenda garante a liberdade de portar armas.)

O funeral de Kirk será uma oportunidade para radicalizar e executar o golpe a sangue frio desencadeado pelo MAGAismo. As características do MAGAismo são claramente delineadas: "Make America Great Again" é uma onda racista reacionária enxertada na tradição da Ku Klux Klan e do macartismo, mas que está assumindo formas cada vez mais semelhantes ao stalinismo: repressão de toda liberdade de expressão, controle total sobre o aparato estatal, adoração à Verdade Incontestável do Líder. A isso, o MAGAismo adiciona uma veia de mistificação religioso-mágica, um culto à personalidade de um estuprador mafioso.

Em um artigo intitulado “Kirk, a Censura Americana e a Pedagogia da Impotência” (provavelmente a análise mais interessante que já li sobre o assunto), Jianwei Xun escreve:

O conhecimento generalizado da injustiça, combinado com a impossibilidade de remediá-la, gera um estado de paralisia consciente que está no cerne do transe hipnocrático… Essa combinação de consciência e impotência produz um estado alterado de consciência mais profundo do que qualquer manipulação ou engano. Saber e ser incapaz de agir destrói a psique com mais eficácia do que qualquer propaganda.”

A campanha de agressão, sequestro e deportação lançada pelo governo MAGA e a ocupação armada de cidades não alinhadas há muito tempo são os contornos de uma guerra civil. Mas é uma guerra civil fria, porque não existem condições políticas para uma oposição armada à agressão. Tampouco existem condições subjetivas para uma oposição social efetiva. A geração emergente está cognitivamente paralisada, presa na alienação celular e psicologicamente deprimida. Então, o que podemos esperar para os próximos meses e anos?

Minha opinião é que o MAGAismo representa uma reação desesperada ao declínio demográfico e psicológico da civilização branca. O avanço do MAGAismo parece imparável em todo o Ocidente (com exceção do mundo hispânico, que merece uma discussão à parte). Mas não devemos pensar que haverá uma estabilização a longo prazo do MAGAismo, como aconteceu com o fascismo italiano, o nazismo alemão ou o stalinismo russo. Acredito que o MAGAismo desencadeou um processo de desintegração do Ocidente que avança extremamente rápido, enquanto o Sul global se prepara econômica e militarmente para a guerra.

Esta manhã [18 de setembro], em Nova York, onze representantes do Partido Democrata foram presos porque pediram permissão para visitar as instalações onde o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) detém migrantes que aguardam deportação.

Em todos os meios de comunicação, nas universidades, nas escolas, nos órgãos públicos, na saúde... funcionários que se recusam a aceitar a humilhação dos racistas do MAGA são demitidos. São eles que, para o bem ou para o mal, fizeram e continuam a fazer o sistema funcionar.

Há poucos dias, o New York Times publicou o artigo “Estamos observando uma superpotência científica se destruir”, artigo de Stephen Greenblatt que analisa as consequências da Inquisição racista e sionista sobre o futuro das universidades americanas e do sistema de pesquisa, enquanto oito em cada dez universidades mais produtivas — segundo critérios de eficiência capitalista — já são chinesas hoje.

Uma espécie de nazismo barroco é a expressão de uma sociedade profundamente intolerante, ignorante e psicologicamente desastrosa. Isso só pode levar à desintegração do poder americano e de toda a sociedade ocidental.

Sei que muitos dos meus leitores ficarão felizes em ler essas minhas previsões. Mas há pouco com que comemorar.

Minha previsão é que o Ocidente não aceitará seu declínio e tem as ferramentas para desencadear o Armagedom tão aguardado pelos fanáticos do MAGA. A desintegração do Ocidente já está em andamento e acredito que, até o fim de 2025, testemunharemos sua precipitação.

Mas este é apenas o começo de uma guerra civil global que não será mais tão fria.

A Europa é irrelevante; está dividida. Atacada pelo fascismo de Putin e desprezada pelos Estados Unidos de Vance e Trump, está à beira de ser sugada para uma espiral autodestrutiva por não conseguir aceitar que não existe mais. Segundo uma análise publicada na versão europeia da revista Politico, o século da humilhação europeia começou.

Felizmente (ou infelizmente), não há muita chance de que, daqui a um século, ainda haja alguém que possa testemunhar isso.

Leia mais