16 Setembro 2025
Dom Peter Kohlgraf, bispo de Mainz, na Alemanha, se manifestou contra o uso de passagens bíblicas como motivo para se opor à homossexualidade.
A reportagem é de Elsie Carson-Holt e Francis DeBernardo, publicada por New Ways Ministry, 12-09-2025.
Dom Peter Kohlgraf fez suas declarações durante uma entrevista no programa de televisão “SWR Democracy Forum no Castelo de Hambach”, transmitido pela Südwestrundfunk (SWR), um canal de TV no oeste da Alemanha, informou o Katholisch.de.
Kohlgraf disse que "não se pode simplesmente derivar verdades eternas e atemporais" de passagens bíblicas sobre homossexualidade. O tema do programa foi "Tabus em nossa sociedade – entre moralidade, poder e mídia".
“Não pego uma única frase da Bíblia e digo: esta é a frase que se aplica inquestionavelmente a todos”, continuou o bispo. “Ao contrário, as descobertas contemporâneas das ciências humanas devem ser sempre levadas em consideração.”
[Nota do editor: As passagens mais citadas que supostamente condenam lésbicas e gays são Levítico 18,22; Levítico 20,13; Gênesis 19; Romanos 1,26-27; 1 Coríntios 6,9-10; 1 Timóteo 1,8-11. O consenso acadêmico contemporâneo rejeita a ideia de que essas passagens se refiram à realidade lésbica e gay reconhecida desde meados do século XX.]
O líder católico disse que trata os textos bíblicos de uma maneira diferente "do que simplesmente usá-los como uma pedreira". Ele também disse que a teologia com base científica está "consideravelmente mais avançada" hoje.
As declarações do bispo são significativas porque não concordam com o documento do Vaticano de 1986 sobre homossexualidade, que afirma haver: “uma clara coerência nas próprias Escrituras quanto à questão moral do comportamento homossexual. A doutrina da Igreja a respeito dessa questão se baseia, portanto, não em frases isoladas para argumentos teológicos fáceis, mas na base sólida de um testemunho bíblico constante”.
Durante o programa, o bispo também afirmou a presença de homens gays no sacerdócio: “Há padres assumidamente homossexuais na Alemanha, e eles são bons pastores”.
Kohlgraf tem um longo e notavelmente positivo histórico em questões LGBTQ+.
A literatura teológica que critica a ideia de que a Bíblia se opõe à homossexualidade é vasta e baseada em metodologias variadas. Um bom resumo de alguns dos argumentos pode ser encontrado em uma entrevista de 2018 com Ilse Müllner, professora de Teologia Bíblica no Instituto de Teologia Católica da Universidade de Kassel, Alemanha, publicada no Katholisch.de. Müllner afirma:
“... [A] Bíblia não oferece nenhuma visão sobre como os cristãos devem se posicionar hoje em relação à questão da homossexualidade. Primeiro, porque a Bíblia nada diz sobre a homossexualidade como a entendemos hoje. E, segundo, porque os atos sexuais nela descritos devem sempre ser vistos em seus respectivos contextos culturais e sócio-históricos. O conceito de parceria homossexual ainda não existia naquela época. Só se fala dele a partir do início do século XIX.”
A teóloga oferece o exemplo de como as interpretações de Levítico 18,22 e Romanos 1,26-27 que condenam a homossexualidade estão erradas:
Não se podem usar essas passagens contra a homossexualidade como ela é entendida hoje, porque elas não se referem a um relacionamento amoroso duradouro entre pessoas do mesmo sexo. É preciso saber disso antes de usar tais citações para argumentação. Levítico rejeita a ideia de um homem se deitar com outro homem como se estivesse com uma mulher. Isso descreve sexo anal entre homens. Mas não se trata de um relacionamento homossexual. Trata-se de um ato sexual que é condenado por não ser considerado benéfico para a comunidade. Isso fica claro pelo contexto, onde, entre outras coisas, a relação sexual com uma mulher menstruada, ou seja, infértil, também é rejeitada. A literatura narrativa frequentemente se refere a Gênesis 19. Aqui, os hóspedes que chegam à cidade de Sodoma – daí o termo sodomia – devem ser humilhados por meio de relações sexuais. Novamente, não se trata de relacionamentos homossexuais. Em vez disso, os homens devem ser estuprados por um grupo de outros homens. Trata-se, portanto, de violência xenófoba. Esta passagem bíblica ilustra claramente a conexão entre sexualidade e poder. Devemos abordar essa conexão, especialmente à luz do escândalo de abuso”.
Para ler a entrevista completa, clique aqui.
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