27 Agosto 2025
Manifestações e bloqueios de estradas, e então, à noite, um rio humano invade Tel Aviv. Mas o primeiro-ministro decide jantar com os colonos. Nada acontece na reunião de gabinete. Mais 75 mortos no enclave palestino, onde os tanques continuam a avançar. Um ataque também atinge Ramallah.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicado por La Repubblica, 27-08-2025.
Surdo ao barulho da praça principal de Tel Aviv, que ontem ainda estava lotada de pessoas (350 mio, segundo os organizadores) exigindo o fim da guerra e a devolução dos reféns, indiferente aos bloqueios de estradas, aos protestos em frente às casas dos ministros e indiferente à indignação do mundo, Benjamin Netanyahu permanece firme e inabalável em seu plano de ocupar a Cidade de Gaza.
Na aguardada reunião do Gabinete de Segurança em Jerusalém, nenhuma decisão foi tomada sobre a proposta de trégua de 60 dias, aceita pelo Hamas e ainda aguardando resposta oficial de Israel. Segundo relatos da imprensa local, a reunião governamental de três horas foi concluída "sem qualquer discussão sobre o acordo e sem votações formais sobre outras medidas".
Outro esforço deliberadamente desperdiçado, portanto, enquanto Israel está sendo atingido por uma onda de críticas e condenações internacionais pelas 22 pessoas mortas (e mais de 50 feridas) na segunda-feira no hospital Nasser em Khan Younis, incluindo cinco fotojornalistas palestinos trabalhando para jornais internacionais como a Reuters e a Associated Press, que foram atingidos por dois projéteis de tanque: o segundo disparou cinco minutos depois do primeiro.
Em Jerusalém, centenas de manifestantes marcharam em direção ao gabinete do primeiro-ministro, escoltados por duas alas da polícia de choque. Não houve relatos de distúrbios no local, mas esta manhã um protesto chamado "Dia da Interrupção" interrompeu o trânsito na principal estrada que liga Tel Aviv a Jerusalém, com pneus incendiados e slogans entoados contra Smotrich e Ben-Gvir, os ministros linha-dura da extrema direita messiânica.
O Gabinete de Segurança se reunirá novamente no domingo, disseram fontes governamentais. A reunião de ontem terminou mais cedo porque os ministros eram esperados para um jantar de gala do Conselho Regional de Binyamin, órgão responsável pelos assentamentos e outros assentamentos na Cisjordânia, envolvido no plano de urbanização E1, que visa construir mais de 3 mil casas entre Jerusalém e Ma'ale Adumim, dividindo assim a Cisjordânia em duas. Ao chegarem ao evento, autoridades governamentais se depararam com novos protestos, desta vez com gritos de "celebrem enquanto os reféns morrem de fome".
O jantar nem sequer ajudará a aliviar as tensões nos Territórios Ocupados, onde a violência extremista de colonos continua contra aldeias palestinas (um ataque ocorreu ontem em Qawawis, em Masafer Yatta) e onde Ramallah tem sido alvo. Um ataque em larga escala do exército israelense, em plena luz do dia e no centro da cidade, resultou em violência contra moradores, uso de gás lacrimogêneo e tiros, com soldados até mesmo posicionados em telhados, segundo relatos de testemunhas. Segundo o Crescente Vermelho Palestino, 58 pessoas ficaram feridas, uma das quais, de 13 anos, foi baleada no abdômen e está em estado grave. As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmam que o ataque teve como alvo "um sistema oculto de financiamento do Hamas". Cinco palestinos foram presos e uma grande quantia em dinheiro foi apreendida em uma casa de câmbio.
Na frente de Gaza, 75 pessoas foram mortas ontem, incluindo 17 enquanto buscavam por comida. O episódio mais sangrento ocorreu a leste da Cidade de Gaza: cinco pessoas foram mortas, incluindo duas mulheres, em um ataque que teve como alvo um mercado lotado, conforme relatado por correspondentes da Al Jazeera. Eles também relatam que tanques e caças israelenses estão "arrasando" áreas inteiras nos arredores da Cidade de Gaza, lar de mais de um milhão de pessoas, incluindo moradores e deslocados. O exército está se aproximando com artilharia, aguardando a ordem final de Netanyahu.
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