12 Agosto 2025
A liturgia latina tradicional não é apenas uma moda passageira; pelo contrário, é desejável que seja acessível para evitar divisões desnecessárias. Esta é a posição do Cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos do Vaticano por quinze anos, em entrevista ao kath.net. O cardeal, que entrevistamos recentemente em nossa revista, não se mostrou particularmente agradecido pela posição do Papa Francisco sobre o assunto.
A informação é publicada por Il Timone, 11-08-2025.
Sua carta apostólica Traditionis custodes, de 2021, limitou o uso do Missal pré-Vaticano II às dioceses onde grupos celebravam a Missa tradicional desde antes de sua nova disposição. Mesmo com estas, é necessário garantir que não neguem a reforma litúrgica e o Concílio Vaticano II, e que não celebrem a Missa em igrejas paroquiais. O apego à tradição, para o falecido Papa, não era algo particularmente positivo, por assim dizer. Mas se o objetivo era evitar criar divisões, não foi alcançado.
"O Papa Francisco optou por uma abordagem muito restritiva a esse respeito. Certamente seria desejável reabrir a porta agora fechada", explicou Koch, que propõe retornar às posições de Bento XVI: "O Papa Bento XVI indicou o caminho a seguir, acreditando que algo que era praticado há séculos não poderia ser proibido". Ele esclareceu, no entanto, que não quer criar falsas esperanças: "Não falei com o Papa Leão XIV sobre o assunto".
O cardeal comentou então sobre o progresso alcançado no ecumenismo durante o último pontificado: "Em primeiro lugar, devem ser destacados seus encontros diretos (do Papa Francisco) com representantes de outras Igrejas. Em segundo lugar, há o chamado' ecumenismo de sangue', um termo que ele cunhou em homenagem a João Paulo II. Os cristãos não são perseguidos por serem católicos, ortodoxos ou protestantes, mas por serem cristãos. O sangue dos mártires nos une, não nos divide", explicou Koch.
Segundo ele, no entanto, o progresso foi bloqueado pela Fiducia supplicans, que os ortodoxos viam como uma aprovação velada de práticas inaceitáveis, alienando-os ainda mais.
Segundo o cardeal, a questão da primazia de Roma poderia ser resolvida. Os ortodoxos já aceitam uma primazia honorária; resta apenas determinar se certos deveres e direitos devem ser associados a ela: "Em 1995, João Paulo II convidou todas as Igrejas cristãs a desenvolverem conjuntamente uma prática de primazia, para que o ofício petrino não fosse mais um obstáculo, mas sim uma ajuda no caminho para a unidade", acrescentou. No ano passado, o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos distribuiu um documento sobre o assunto a todas as Igrejas cristãs, que aguardam as respostas para submetê-las ao Papa Leão XIII, que decidirá como proceder.
Um "grande problema", no entanto, reside na falta de unidade dentro da própria Ortodoxia: "Enquanto buscamos a unidade, novas divisões estão surgindo dentro da Ortodoxia, por exemplo, em relação à declaração de autocefalia da Igreja Ortodoxa na Ucrânia".
Ele diz, no entanto, que está confiante na possibilidade de progredir graças a Leão: "Ele tem um vínculo interno com o mundo oriental". O caminho traçado pelo Papa, segundo o cardeal, é o da sinodalidade agostiniana, seguindo a frase do santo: "Convosco sou cristão, para vós sou bispo".
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