12 Agosto 2025
"Mas o verdadeiro fascínio do Evangelho de Marcos reside precisamente no que não é dito. Em deixar o cerne da história oculto. O evento central — a ressurreição — não é narrado, mas apenas anunciado. O corpo não é visto. Não há cena central. Nenhum Jesus chamando pelo nome, aparecendo no meio da sala, partindo o pão. Apenas um vazio", escreve Antonio Spadaro, jesuíta e ex-diretor da revista La Civiltà Cattolica, publicado por Il Fatto Quotidiano, 04-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Evangelho segundo Marcos, em sua forma original, termina abruptamente, de forma quase desconcertante.
As mulheres, tendo ido ao sepulcro ao amanhecer, encontram-no vazio. Um jovem misterioso lhes diz que Jesus ressuscitou, que elas devem ir para a Galileia. Mas elas fogem. E permanecem em silêncio. Porque têm medo. Termina assim. Não há aparição. Não há encontro. A ressurreição existe, mas está implícita, não narrada.
Apenas um túmulo vazio, um mensageiro, uma ordem e o silêncio. Literalmente, é uma reviravolta dramática. Um final interrompido e em aberto. Aquele vazio, com o tempo, começou a quimar. A lógica interna da narrativa — e a sensibilidade das primeiras comunidades cristãs — clamavam por algo mais. Um epílogo. Uma redenção. Uma forma.
Assim, nos manuscritos posteriores, aparece um acréscimo: Marcos 16, versículos 9-20. Do ponto de vista narrativo, trata-se de uma montagem a posteriori que retoma temas já conhecidos de outros Evangelhos: a aparição a Maria Madalena, o encontro com os discípulos, o envio em missão, a Ascensão. Em poucas linhas, toda a narrativa é recomposta de forma ordenada. O trauma da interrupção é resolvido. O não dito é dito.
Estilisticamente, a diferença é evidente. O ritmo, a voz e até a gramática mudam. O texto torna-se mais esquemático, e falta a tensão dramática que percorre todo o Evangelho de Marcos, composto por cenas cortantes, rápidas que se sucedem com urgência.
Mas por que adicionar um final? Uma história, especialmente se toca acordes profundos como a morte e a ausência, precisa de uma forma, de um equilíbrio. O final de Marcos, tal como é, rompe esse equilíbrio.
Falta a resolução. Falta o retorno do herói. Falta até mesmo o herói! Os versículos 9 a 20 respondem a uma necessidade antiga: oferecer uma saída.
Não deixar o leitor sozinho no vazio. É o mesmo impulso que leva, nos romances contemporâneos, a epílogos esclarecedores, flashforwards, cartas finais.
Nesse acréscimo tardo-antigo, podemos ler todas as angústias do leitor e do crente: e depois o que aconteceu? Para onde foi o protagonista? Seus companheiros entenderam, agiram, creram? E nós? O narrador "secundário" responde: sim, ele apareceu. Sim, ele falou. Sim, ele os enviou. E sim, ele ascendeu ao céu. As mulheres não estão mais em silêncio. Os discípulos não estão mais escondidos. Tudo volta ao seu devido lugar.
Mas o verdadeiro fascínio do Evangelho de Marcos reside precisamente no que não é dito. Em deixar o cerne da história oculto. O evento central — a ressurreição — não é narrado, mas apenas anunciado. O corpo não é visto. Não há cena central. Nenhum Jesus chamando pelo nome, aparecendo no meio da sala, partindo o pão. Apenas um vazio. E uma voz que diz: "Não está aqui". E logo depois: "Vão". Essa é a escolha narrativa mais ousada de todo o Novo Testamento. Uma elipse radical. O ponto central da história — a passagem da morte para a vida — não é contado. É deixado. Para quem? Para o leitor.
Os versículos 9 a 20 não devem ser lidos como um erro, mas como um sintoma.
Eles mostram como era difícil de suportar aquele silêncio, aquele final suspenso. Marcos criou uma narrativa que não se fecha dentro do texto. Ela se abre para fora. O leitor se torna parte da história. É ele quem deve decidir se crer ou não. Se ir ou não. Se começar, na Galileia ou em outro lugar, sua própria busca por um rosto que não se vê, mas que é intuído no gesto de uma pedra que rola.
O "fim" de Marcos, portanto, está na corrida das mulheres vista de costas. E, como todo grande final, não encerra a história, mas a entrega.