07 Agosto 2025
Enquanto o Brasil responde por 1,5% do comércio mundial, a região Amazônica, com a maior floresta tropical do mundo, rica em minérios e produtos sustentáveis, participa com apenas 0,17%. Com um percentual equivalente ao do país, todo ano circulariam 2,3 bilhões de dólares na Amazônia.
A reportagem é de Edelberto Behs.
O cálculo é do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBasil) e ex-governador do Acre, Jorge Viana, ao participar do evento que o PT e a Fundação Perseu Abramo organizaram em fevereiro, no Rio de Janeiro, pela comemoração dos 45 anos de fundação do partido político.
O Brasil, arrolou, exportou 377 bilhões de dólares no ano passado; desse total, a Amazônia participou com apenas 27 bilhões de dólares e o Nordeste com 28 bilhões de dólares. Tirando, no entanto o Pará, com as exportações de minérios, a conta do amazônida cai para apenas 7 bilhões de dólares!
Durante 50 anos, a Vale do Rio Doce exportou minério de ferro para o Japão, uma das maiores economias do mundo. “A Vale tem projetos lindos, sustentáveis, lá”. A Vale exporta 20 bilhões de dólares em minério de ferro para a China. “Mas o que é que ficou mesmo para os 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia?” – indagou.
A Amazônia, sustentou o presidente da Apex, tem 60 itens compatíveis com a floresta amazônica, que só podem ser produzidos em regiões tropicais, a faixa verde do planeta, entre eles café, pimenta do reino, cacau, castanha do Pará. Esses produtos geram aos países produtores 297 bilhões de dólares por ano. Mas o comércio amazônico participa com apenas 300 milhões de dólares daquele montante.
Em visita a África – Nigéria, Costa do Marfim, Gana e Senegal – Viana recolheu dados das exportações desses países no item produtos tropicais. A Costa do Marfim, que não é o país de origem da castanha de caju, mas é hoje o maior produtor do mundo. A origem da castanha é o Nordeste brasileiro.
A Costa do Marfim, que também não é a origem do cacau, produz um milhão de toneladas por ano; metade do cacau produzido no mundo vem de lá. A árvores é originária do Brasil. “Se um país africano pegou árvores da Amazônia e transformou em uma atividade econômica altamente rentável, por que não fazemos o mesmo?”
O maior produtor de pimenta do reino do mundo, mencionou, é o Vietnã, que exporta 600 milhões de dólares por ano, enquanto a participação brasileira fica em apenas cem milhões de dólares. O maior exportador de Castanha do Pará é a Bolívia, que exporta 150 milhões de dólares. Já o Brasil fica com uma participação de apenas 10 milhões de dólares.
Dá para mudar radicalmente esse panorama, assinalou, “quando tivermos coragem de mudar radicalmente o crédito”. A COP, lembrou, trabalha com financiamento. “Se tiver um casamento desses recursos com atividades sustentáveis, que levem em conta as pessoas que vivem na Amazônia, a gente pode fazer uma grande e rápida mudança”.
Mas também nesse setor tem gol contra. Viana recorreu a levantamento realizado há pouco, o qual mostra que 89% dos prefeitos e 90% dos vereadores atuais dos municípios da Amazônia, e até mesmo alguns governadores (com exceção do Pará e do Amapá), são contra essa pauta. “Como vamos seguir com a COP30? Só sobrou o governo federal” para trazer melhores condições de vida aos 30 milhões da população amazônica.