11 Junho 2025
O Brasil é um dos quatro países do mundo com maior capacidade de liderar a transição energética global, destaca um estudo da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Para aproveitar esse diferencial, porém, a pesquisa aponta a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas (como um plano de transição energética) que coloquem nosso país em uma rota bem-sucedida de descarbonização.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 10-06-2025.
A disponibilidade de fontes renováveis de energia – atualmente, cerca de 90% da matriz elétrica brasileira é renovável – é uma dessas vantagens. Com vento e sol à disposição, o país pode sair na frente em inovações tecnológicas que o mundo demandará para uma economia zero carbono, como o hidrogênio verde.
O estudo da Johns Hopkins coloca o setor eólico brasileiro como um dos mais promissores, mesmo com os desafios econômicos e regulatórios, mostra Janaina Lepri na Globonews.
O setor vive um momento difícil, por limitações na capacidade de transmissão elétrica que estão diminuindo a geração de eletricidade (curtailment). Além disso, o país precisa corrigir processos de implementação para evitar que novos projetos repitam os impactos socioambientais em comunidades.
“[A queda na instalação de novas usinas] é algo provisório. O PIB crescendo de forma mais expressiva tende a trazer novas demandas, e consequentemente beneficiar toda a cadeia para atender essa indústria”, avalia Vitor Santos, diretor de Tecnologia da Aeris Energy, fabricante de equipamentos eólicos.
Um ganho, segundo a pesquisa, foi a aprovação do marco das eólicas offshore, mas esse esforço pode ser desperdiçado, já que a lei está ameaçada pela volta de “jabutis” (matérias estranhas ao tema), que beneficiam energia à base de combustíveis fósseis como gás e carvão.
“O Brasil tem um caminho bem claro à sua frente, que é investir em setores que já são importantes agora e serão cada vez mais nos próximos anos. E o país já tem vantagens competitivas claras”, reforça o pesquisador sênior da Johns Hopkins, Renato Gaspi.
Um desses setores é a mineração de metais críticos da transição energética. O estudo destaca as oportunidades que o Brasil tem de “desenvolver uma forte posição tecnológica” em toda a cadeia produtiva. Como o país já produz lítio, um desses metais estratégicos, deveria investir nas demais etapas da cadeia, fabricando baterias e veículos elétricos e agregando valor, em vez de apenas exportar o minério.
O país também pode se destacar na cadeia produtiva de hidrogênio verde (H2V), apontado como substituto dos fósseis em setores difíceis de descarbonizar. Novamente o Nordeste, por seu potencial eólico e solar, sai na frente, em particular o Ceará, mostra a Globonews. Seis empresas já assinaram memorandos de entendimento com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no litoral cearense, para produzir H2V – investimentos que somam R$ 24 bilhões. Inicialmente o combustível deverá ser destinado à exportação, de olho principalmente no mercado europeu.
“A crise climática está atrelada às questões econômicas contemporâneas em que um crescimento totalmente pautado em energias não renováveis é inviável. A transição energética é também uma possibilidade para o crescimento econômico global”, explica Adriana Guerra, pesquisadora da Johns Hopkins.
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