06 Junho 2025
Em 8 de maio, o Conclave elegeu Robert Francis Prevost. E ele imediatamente deixou claro: "Não serei um líder solitário".
O artigo é de Antonio Spadaro, jesuíta, ex-diretor da revista La Civiltà Cattolica, publicado por La Repubblica, 05-06-2025.
Um mês após a eleição do Papa Leão, o que Ricoeur chamaria de "conflito de interpretações" está em andamento. Há aqueles que se apegam à mozeta vermelha e aclamam o retorno da Tradição, e aqueles que se apegam aos sapatos pretos e falam de um Francisco II. Menos interessantes e congruentes são as vozes, especialmente as eclesiásticas, que falam de uma renovada "unidade" da Igreja, que sempre entenderam como "uniformidade" em relação à liberdade de consciência e expressão, entendida trivialmente como "confusão".
Mas o que entendemos sobre o Papa Leão a partir do que ele realmente disse? Há uma palavra que permanece impressa na releitura de seus primeiros discursos: abertura. Prevost fala do "desafio da abertura" no anúncio do Evangelho, entendido como a postura essencial de uma Igreja que opta por "saber construir pontes, saber ouvir para não julgar, não fechar portas, pensando que temos toda a verdade e que ninguém mais pode nos dizer nada". Ele disse isso claramente quando assumiu o cargo em sua Cátedra Romana. Uma direção que recolhe o legado de Francisco e que relança o anúncio do Evangelho, com uma voz que lhe é inteiramente própria.
Na esteira do Concílio Vaticano II – ao qual Leão XIV reafirmou sua plena adesão – e seguindo os passos da Evangelii gaudium de Bergoglio, Prevost mostra um rosto eclesial que não faz da identidade um escudo contra a mudança, mas "uma bússola válida para todos" para se orientarem no mundo. Um mundo que, como ele recordou, é atravessado por uma "policrise", na qual convergem guerras, desigualdades, crises ambientais, emergências migratórias e inovações tecnológicas desorientadoras. Um tempo difícil, que pede à Igreja que saiba ouvir, discernir, estar "ao lado".
O telefonema de Putin — ao qual Leão XIV respondeu agradecendo ao Patriarca russo, elogiando o trabalho do Cardeal Zuppi e pedindo claramente o diálogo e um sinal de paz — está conectado à paciente construção de relações realizada por Francisco desde seu encontro com o embaixador russo e seus contatos com o Patriarcado, e em particular com o Metropolita Anthony, chefe do Departamento de Relações Externas da Igreja de Kirill.
Uma de suas passagens mais fortes, e talvez mais desconcertantes, diz respeito à relação com a verdade. Leão XIV foi claro ao falar sobre a Doutrina Social da Igreja: "Ele não quer levantar a bandeira da posse da verdade, nem em relação à análise dos problemas, nem em sua resolução. Em tais questões, é mais importante saber como abordar do que dar uma resposta precipitada sobre por que algo aconteceu ou como superá-lo. O objetivo é aprender a enfrentar os problemas, que são sempre diferentes, porque cada geração é nova, com novos desafios, novos sonhos, novas questões." Não se trata de relativismo, obviamente, mas de uma atitude humilde e madura.
A verdade cristã, para Leão XIV, nada tem a ver com "doutrinação", que "é imoral, impede o juízo crítico, atenta contra a sagrada liberdade da consciência — ainda que errônea — e se fecha a novas reflexões porque recusa o movimento, a mudança ou a evolução das ideias diante de novos problemas". Essas palavras leoninas revelam a direção do passo silencioso e decisivo de seu pontificado.
Francisco combateu a introversão eclesial, e Leão XIV – citando-o – reiterou-a: "A Igreja é constitutivamente extrovertida", e "a autorreferencialidade apaga o fogo do espírito missionário". De fato, com uma expressão verdadeiramente brilhante, Prevost acrescentou: "O povo de Deus é mais numeroso do que vemos. Não definamos os seus limites". É uma mensagem poderosa, mesmo para aqueles que se sentem marginalizados ou fora de uma filiação religiosa. Leão XIV parece dizer: a Igreja não é constituída pelos "nossos pequenos grupos, que se sentem superiores ao mundo", mas é uma realidade em movimento, que não perde tempo a estabelecer cercas e trincheiras.
Desde a sua eleição, Leão XIV tem sublinhado que sente ser seu dever "salvaguardar o rico patrimônio da fé cristã e, ao mesmo tempo, lançar um olhar distante, para responder às questões, preocupações e desafios de hoje". É um equilíbrio subtil entre custódia e ímpeto. É aqui – e não no equilíbrio entre vestes vermelhas e pretas, entre faixas e mozetas – que se encontra a harmonia interior do pontificado que Prevost busca num presente em rápida transformação. "Cada geração é nova", e se os problemas mudam, as respostas também devem evoluir. É por isso que precisamos de uma Igreja capaz de "julgamento prudencial", isto é, concreta, contextual. Surge uma Igreja que não se preocupa em definir todas as questões, mas que prefere acompanhar as perguntas em vez de extingui-las.
O que também impressiona nos primeiros discursos de Leão XIV é sua insistência em uma fé concreta. "Ser de Deus", disse ele, "nos liga à terra: não a um mundo ideal, mas ao mundo real". Não há nada de evanescente em sua visão: é uma fé encarnada, expressa em proximidade, cuidado e compromisso. Uma fé que se mede não em fórmulas, mas em relacionamentos. Ele lembrou aos padres durante uma ordenação: "São pessoas de carne e osso que o Pai coloca em seu caminho. Consagrai-vos a elas, sem vos separardes, sem vos isolardes". É um convite para evitar toda forma de clericalismo.
Leão XIV não esconde as feridas da Igreja e vê as do nosso mundo: "Juntos, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida". É uma imagem poderosa, que une a consciência dos limites à esperança de um caminho possível. Em uma audiência geral, Prevost falou de uma Igreja "samaritana", capaz de se curvar sobre as feridas da humanidade. Bergoglio usou a expressão da Igreja como um "hospital de campanha" capaz de curar. "Se você quer ajudar alguém, não pode pensar em manter distância, é preciso se envolver, se sujar, talvez contaminar", disse Prevost. E a possibilidade de se abrir, sem medo, ao risco de uma "contaminação" é definitivamente interessante.
"Extrovertida" é também o adjetivo que ele escolheu para definir a Igreja. Numa era de polarização, retornos identitários e fechamentos defensivos, esta palavra soa como um manifesto. É um convite a não ter medo, a sair, a arriscar, a envolver-se. Porque, como recordou Leão XIV, "a alegria de Deus" - Evangelii gaudium - "muda realmente a história e nos aproxima uns dos outros".
O retrato de Leão XIV é apenas um esboço: ele se concretizará em suas escolhas, com o passar do tempo, com seu discernimento, assimilando sua aceitação do ministério petrino. No entanto, é evidente que ele não se apresentou à Igreja e ao mundo como um "líder solitário", mas sim como a figura de uma Igreja que quer ser "fermento para um mundo reconciliado".