26 Mai 2025
Um estudo publicado recentemente na revista Communications Earth & Environment trouxe um alerta preocupante sobre os efeitos das mudanças climáticas no degelo das calotas polares e no aumento do nível do mar. De acordo com a análise, nem mesmo limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, como define a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, não seria suficiente para evitar o colapso acelerado das geleiras nas regiões polares.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 25-05-2025.
Os pesquisadores projetaram que o “limite de segurança” do aumento da temperatura média global para as calotas polares seria de 1oC ou menos – um índice já superado, já que o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas estima que os termômetros já subiram cerca de 1,31ºC em relação aos níveis pré-industriais.
Uma elevação do nível do mar de pelo menos 1 a 2 metros seria inevitável, segundo os cientistas, com o aumento médio de 20 a 30 cm por década durante a vida das gerações atuais, ritmo que supera a capacidade de adaptação de muitas comunidades costeiras.
“Há evidências crescentes de que precisamos de um limite de temperatura mais rigoroso”, afirmou Chris Stokes, geógrafo da Universidade de Durham (Reino Unido), citando pesquisas recentes que defendem ajustes nas metas planetárias de segurança.
Isso exigiria cortes drásticos e imediatos no uso de combustíveis fósseis – algo que parece extremamente improvável diante da insistência de países, como os EUA, em seguir investindo em petróleo, carvão e gás. A perda de gelo das gigantescas camadas da Groenlândia e da Antártica quadruplicou desde os anos 1990 devido à crise climática e é agora o principal motor da elevação do nível do mar.
O Guardian destacou que mesmo que as emissões de combustíveis fósseis fossem drasticamente reduzidas, o nível do mar estaria subindo 1 cm por ano até o final do século, mais rápido do que a velocidade com que as nações poderiam construir defesas costeiras. Já a CNN lembrou que o mundo está atualmente no caminho de atingir 2,9°C de aquecimento até 2100.
Embora ainda existam incertezas sobre os pontos de ruptura exatos – já que as mudanças climáticas não seguem padrões lineares –, as pesquisas mais recentes mostram que os limiares críticos para o colapso das geleiras são significativamente mais baixos do que se estimava anteriormente, aumentando o risco de derretimento acelerado mesmo com níveis moderados de aquecimento global.
As regiões polares estão sofrendo um desequilíbrio crescente em seu ciclo natural provocado pela mudança do clima, pois os polos estão se aquecendo mais rapidamente do que o resto do planeta. Como a Yale Climate Connections explicou, embora essas massas de gelo tradicionalmente diminuam no verão e se recuperem no inverno com as nevascas, o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis está intensificando o derretimento estival.
Como resultado, muitas geleiras apresentam agora uma perda líquida anual de gelo, com verões mais quentes superando a capacidade de recuperação durante o inverno, um fenômeno que vem se agravando continuamente.
O estudo sobre a vulnerabilidade das geleiras às mudanças climáticas foi repercutido por Washington Post, Inside Climate News, Euronews e Irish Times.
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