22 Mai 2025
Com Leão XIV, o Kremlin se distancia da Santa Sé, Kiev se aproxima. Um papa estadunidense "favorece contatos mais amplos e contínuos entre o Vaticano e o mundo judaico. E não pode ser ignorado pela direita estadunidense". Essa é a análise de Massimo Faggioli, historiador do cristianismo e teólogo, professor da Villanova University, na Filadélfia.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 20-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor, à luz dos encontros do Papa nas últimas horas, como descreve seu ativismo diplomático?
A ênfase na paz "desarmada e desarmante" é um programa. Poderemos conferir a visão diplomática e geopolítica do Papa Prevost nas próximas semanas. Mas é evidente que o Vaticano se tornou um local de encontros de alto nível, no espaço de um mês, desde a audiência de Francisco com Vance em 20 de abril até a audiência de Leão XIV com Vance e Rubio na última segunda-feira. Resta saber qual será o papel do Cardeal Parolin, da diplomacia vaticana e da missão do Cardeal Zuppi. Bergoglio seguia canais diferentes, enquanto Leão XIV poderia adotar uma visão mais unitária da ação diplomática da Santa Sé.
Como definiria a posição de Leão XIV sobre a guerra na Ucrânia?
Leão XIV parece apresentar um maior equilíbrio entre a proximidade histórica com o Ocidente e a sensibilidade ao ‘sul global’ de uma Igreja que se move cada vez mais em direção à Ásia e à África. Comparado a Francisco, poderia haver uma mudança, especialmente nas relações com a Rússia e, portanto, também com a Ucrânia. Por enquanto, parece haver uma distância maior entre o Vaticano e o Kremlin, justamente enquanto também Trump está recalculando as distâncias com Putin. Os ucranianos católicos nos Estados Unidos veem esse novo momento com grande esperança.
O estadunidense Leão XIV e os Estados Unidos. Pode começar a distensão entre a Santa Sé e a Casa Branca?
A conversa de Leão XIV com Vance e Rubio foi cordial, mas o comunicado da Santa Sé afirma que "o foco esteve na colaboração entre a Igreja e o Estado, bem como em algumas questões de especial relevância para a vida eclesial e a liberdade religiosa".
O que isso significa?
É uma referência às dificuldades criadas nos últimos meses para o trabalho da Igreja EUA com migrantes e refugiados, obstáculos postos pelas novas políticas de cortes do governo Trump. Certamente, o Papa Leão pode falar com Vance e Rubio de forma mais direta do que Francisco: são uma Igreja e um país que o Papa conhece diretamente, e ele é um papa que a direita estadunidense não pode ignorar como um Pontífice estrangeiro que não conhece os Estados Unidos. Desse ponto de vista, é um novo cenário com muitas possibilidades de desenvolvimento – mas sempre levando em conta a imprevisibilidade de Trump.
Prevost disse aos judeus: os últimos tempos foram complicados por mal-entendidos, agora diálogo. O que você prevê?
As relações entre o Vaticano e o mundo judaico vinham sofrendo há algum tempo, desde 7 de outubro de 2023 e depois por causa da questão de Gaza. Um sinal evidente foi a delegação de baixo escalão enviada pelo governo de Israel ao funeral de Francisco. A representação israelense na missa de começo do pontificado foi, em vez disso, de alto escalão, liderada pelo presidente Herzog. Um Papa dos EUA de fato permite contatos de tipo diferente e mais amplo da Santa Sé com o mundo judaico, e um Pontífice mais ‘institucional’ como Leão poderá ter relações menos baseadas no conhecimento pessoal e mais contínuas no plano oficial.
Leão XIV e o conflito em Gaza: como o Pontífice está se posicionando?
Leão mencionou a terrível situação em Gaza no final da missa de domingo, sabendo que havia uma delegação de Israel na Praça São Pedro. Acredito que a presença dos cardeais em Roma no último mês permitiu importantes trocas de opiniões. A reputação da Santa Sé no plano internacional está em jogo nessa questão. E a aliança política bipartidária entre Estados Unidos e Israel é um fator a ser considerado para a ação diplomática deste pontificado.