A entrevista inédita de Francisco: "É perigosíssimo deixar-se levar pela ansiedade (...). A tristeza, o sofrimento não vão embora"

Foto: Wikimedia Commons

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24 Abril 2025

  • "O que me aflige? A dor alheia. Pensemos nas crianças, não? As crianças que estão morrendo de fome. E em países que poderiam resolver o problema. Crianças-soldado. Para mim, o problema das crianças me toca muito e o problema dos idosos também, os idosos abandonados."

  • "Quando vem o espírito da tristeza que derruba a gente... (...). Tristezas, eu tive muitas. Situações de dor humana com a morte do pai, da mãe... Tristezas ou preocupações em momentos difíceis. Você tem que dizer 'bom, estou sofrendo', dizer a verdade para si mesmo, mas o sofrimento não vai embora."

A informação é de Jesús Bastante, publicado por Religión Digital, 23-04-2025. 

Eis o artigo.

"Quando vem o espírito da tristeza que derruba a gente... (...). Tristezas, eu tive muitas. Situações de dor humana com a morte do pai, da mãe... Tristezas ou preocupações em momentos difíceis. Você tem que dizer 'bom, estou sofrendo', dizer a verdade para si mesmo, mas o sofrimento não vai embora." Estas são algumas das chaves da entrevista secreta, ‘póstuma’, que o jornalista Nelson Castro realizou com o Papa Francisco em 2018 e que só estava autorizada a ser publicada após sua morte.

"Sonha, tem pesadelos?", perguntou Castro. "Não, às vezes sonho coisas bonitas, ou lembranças, mas não coisas que me atormentem. Não sou de sonhar muito, não a noite toda", respondeu o Papa, em áudios transmitidos ontem à noite pela Telemundo.

"O que o aflige?", perguntou Nelson Castro. "A dor alheia. Pensemos nas crianças, não? As crianças que estão morrendo de fome. E em países que poderiam resolver o problema. Crianças-soldado. Para mim, o problema das crianças me toca muito e o problema dos idosos também, os idosos abandonados", respondeu.

Entre os pontos centrais da conversa, que estava prevista para vinte minutos e se estendeu por uma hora, estava a saúde mental. Francisco admitiu ter passado por tratamento psicológico, "no tempo da ditadura", embora nunca tenha ido a um psicanalista.

"Durante seis meses, quando era provincial, que foi um momento muito difícil porque estava... era o tempo da ditadura e todo o problema de resgatar pessoas, enfim, tudo isso que já se sabe porque é público. Levar pessoas escondidas e tudo mais... havia coisas que eu não sabia lidar bem. Então fui ver uma senhora, uma grande mulher. Ela era psiquiatra e me ajudava com explicações, conselhos, ou seja, com umas sacudidas me colocava no lugar. Foram seis meses que foram muito, muito... Me ajudaram imensamente... A doutora Rubel. Uma grande mulher", confessou Bergoglio.

Francisco também sofreu de ansiedade, embora na entrevista tenha afirmado que a tinha "domada". Ainda assim, advertiu: "É perigosíssimo deixar-se levar pela ansiedade, ou quando vem o espírito da tristeza, seja por não conseguir resolver um problema, seja pela morte de alguém querido".

Controla a ansiedade

Como controlar a ansiedade? "É preciso saber parar", afirmou Francisco, que confessou que, nesses momentos, ouvia música — especificamente Johann Sebastian Bach. "Me acalma e me ajuda a analisar os problemas de uma maneira melhor."

Não foi ansiedade o que Francisco sentiu ao saber que seria eleito Papa. "Não, de forma alguma. Senti paz."

"E na noite anterior? O senhor sabia que podia vir a ser papa?", perguntou Castro.

"Não, na noite anterior eu não sabia, porque o mecanismo do conclave a gente conhece — há vários que podem ser."

A eleição papal

"E a primeira votação é muito dispersa. Então dormi maravilhosamente bem", garantiu. "Eu me dei conta, fui eleito na segunda da tarde, e percebi que algo estava acontecendo depois das duas primeiras votações da manhã, durante o almoço. Porque alguns vinham falar comigo, me faziam perguntas. Mas tirei minha soneca normalmente. Rezava o terço tranquilo, com uma paz. Terminada a terceira votação da tarde, quando já era evidente que podia acontecer, o que estava ao meu lado, que era o cardeal Hummes, me disse: ‘não se preocupe, o Espírito Santo age assim’. E depois, assim que saí, aplaudiram e seguiu o escrutínio", relatou Francisco.

Na entrevista, o Papa lembrou como, naquele momento, o cardeal Hummes se aproximou dele, "me beijou e disse: ‘não se esqueça dos pobres’. E eu fiquei ali pensando, pobres, pobres... São Francisco! E aí me veio o nome".

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