05 Julho 2022
Religioso, que é lembrado por sua atuação durante as greves dos metalúrgicos do ABC, também foi defensor dos povos indígenas. E alertava para a degradação ambiental.
Cláudio Hummes (Foto: Arquivo O São Paulo)
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 04-07-2022.
Morreu na manhã desta segunda-feira (4), aos 87 anos, o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo. Primeiro presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), cargo ao qual renunciou em março, ele também é sempre lembrado por sua atuação durante as greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista entre o final dos anos 1970 e início dos 1980. Em dezembro de 1975, havia tomado posse como bispo da Diocese de Santo André.
Gaúcho de Montenegro, dom Cláudio Hummes completaria 88 anos em 8 de agosto. Em 1952, ingressou na ordem dos franciscanos. Ordenado padre seis anos depois, em Divinópolis (MG), tornou-se doutor em Filosofia após um período de estudos em Roma, e em maio de 1975, bispo em Porto Alegre, alguns meses de se transferir para o ABC. Também foi responsável pela Pastoral Operária.
O anúncio da morte do religioso, que tinha câncer do pulmão, foi feito em nota de “pesar e esperança” pelo cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo. Seu corpo será velado na Catedral Metropolitana, na praça da Sé, região central da capital paulista.
Dom Cláudio tinha “um grande coração pulsante – e não há retórica em dizer isso – pelos pobres”, escreveu o Vatican News. Nessa lista, estão os povos indígenas da Amazônia, missionários e leigos que atuam na região, “sedentos e famintos”, operários e vítimas das mudanças climáticas. “Ele os tinha em mente o tempo todo, mesmo nas últimas votações do Conclave de 2013 que elegeu o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Ao amigo argentino, sentado ao seu lado, quando alcançou o número de votos necessários para ser eleito, sussurrou-lhe ao ouvido: ‘Não se esqueça dos pobres’.”
Em 1996, foi nomeado arcebispo de Fortaleza, e dois anos depois, arcebispo metropolitano de São Paulo. Nomeado por João Paulo II, lá ficou até 2006. O mesmo papa nomeou-o cardeal em 21 de fevereiro de 2001. Em 2013, era um dos cardeais na praça de São Pedro ao lado de Mario Jorge Begoglio quando este foi eleito e passou a ser o papa Francisco. Foi presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e um dos relatores da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, evento convocado pelo papa em 2019.
Dom Cláudio alertava para a “grave crise climática e ecológica” mundo. Que punha em risco “o futuro do planeta e, portanto, o futuro da humanidade”. Ele criticou o decreto presidencial que, em 2017, extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), uma área que engloba nove áreas protegidas, uma ação que, segundo ele, “vilipendia” a democracia brasileira.
O religioso também afirmou: “Aos povos indígenas devem ser restituídos e garantidos o direito de serem protagonistas de sua história. Sujeitos e não objetos do espírito e da ação do colonialismo de ninguém”.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC publicou nota de pesar pela morte de dom Cláudio: “Passou toda a vida dedicando-se ao povo brasileiro. Deixa um legado inestimável de misericórdia, resistência e luta contra as injustiças sociais”.
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Morre dom Cláudio Hummes, cardeal dos operários, do ambiente e da democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU