“Lancemos caminhos novos, não velhas metodologias pastorais”. Entrevista com Dom Cláudio Hummes

Floresta Amazônia (Fonte: Wikimedia Commons)

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13 Fevereiro 2021

Com a publicação de Querida Amazônia, Francisco traçou uma rota – sem precedentes e sem retrocesso – para a Igreja Pan-Amazônica. Poucos como o cardeal brasileiro Cláudio Hummes foram testemunhas e artífices dos caminhos percorridos antes, durante e depois do Sínodo de outubro de 2019 - do qual foi relator geral -, assumindo as bandeiras da ecologia integral, a conversão pastoral e a opção pelos pobres e os povos indígenas.

Agora, como presidente da Conferência Eclesial da AmazôniaCEAMA, um dos frutos do Sínodo, o arcebispo emérito de São Paulo analisa os alcances da exortação frente à crise na região e o papel da Igreja neste momento.

A entrevista é de Óscar Elizalde Prada, publicada por Vida Nueva, 12-02-2021. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Um ano de ‘Querida Amazônia’. Faça um balanço...

A exortação contém os quatro grandes sonhos do Papa nascidos do processo sinodal e do Documento Final. É um ponto de chegada de todo este processo. Sua finalidade não é substituir o Documento Final, nem o transformar em magistério pontifício, mas o apresentar à Igreja universal para que se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho e para que os pastores, consagrados, consagradas e leigos da Amazônia se empenhem em sua aplicação. Assim, o Papa enaltece o Documento Final, deseja a sua aplicação concreta no território pan-amazônico e expõe seus quatro sonhos, como em um transbordamento de horizontes “além do sol”.

A recepção desta exortação, após algumas perplexidades iniciais já superadas – em especial, sobre a questão dos ministérios ordenados -, vem sendo muito boa e o Documento Final está sendo aplicado à luz destes quatro sonhos. Também é um processo de discernimento constante, a partir dos sinais de nossos tempos, que são dinâmicos. A aplicação do Sínodo continua sendo um trabalho em rede, que aprendemos com a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), agora conjugada com a CEAMA.

Até que ponto a pandemia impactou o processo pós-sinodal na Amazônia?

A situação de calamidade mundial da COVID-19 suscita em nós uma profunda dor ao conviver diariamente com milhares de perdas de vidas, infectados e hospitalizados. Ao mesmo tempo, constatamos a dedicação incansável e muitas vezes heroica dos que se entregam ao cuidado dos doentes. Que Deus nos ajude nesta travessia e permaneça misericordiosamente junto aos impactados pelo vírus!

A pandemia exigiu esforços especiais para manter viva a chama da paixão que o Espírito Santo acendeu no Sínodo, e a audácia corajosa, paciente, incansável no território. A pandemia nos obriga a reuniões, encontros e assembleias virtuais. As reuniões presenciais se tornaram inviáveis, no momento.

Mesmo com estes limites, criamos a CEAMA, que já realizou assembleias ordinárias e uma grande assembleia plenária com a participação de indígenas. Seu objetivo é promover o processo de elaboração de um Plano de Pastoral de Conjunto para toda a Pan-Amazônia. Estamos avançando nisso.

Os sonhos de Francisco estão se tornando realidade?

Acredito que sim. São processos, mais do que decisões pontuais - que também são necessárias -, que brotam e caminham a partir dos documentos sinodais. Por exemplo, a criação da CEAMA e a elaboração do Plano de Pastoral de Conjunto de toda a Pan-Amazônia, com suas prioridades e urgências assumidas por comissões específicas, como a de inculturação na evangelização missionária, a de evangelização dos jovens no território - com especial atenção aos jovens indígenas -, a comissão dos direitos dos povos indígenas, a de defesa da ecologia no território, a de formação de candidatos aos ministérios ordenados, e a de educação e universidade católica, entre outras.

Por outro lado, não podemos esquecer que cada bispo em seu território desenvolve o que considera necessário e urgente para a aplicação do Sínodo. O mesmo ocorre com a Igreja em cada país amazônico. O Plano de Pastoral de Conjunto da CEAMA deve dar espaço a estas prioridades diferenciadas, segundo os lugares e os tempos.

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