18 Abril 2025
"Uma teologia que supera o antimodernismo como garantia da verdade se expõe aos sinais dos tempos, com os quais pode aprender lentamente a dialogar com o mundo acelerado. Nesse sentido, uma “teologia rápida” resulta sacrossanta, mesmo que não pouco desafiadora", escreve Andrea Grillo, teólogo italiano, em artigo publicado por “Come se non”, 16-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A demanda por uma “teologia rápida” não deve surpreender. Tampouco é inesperado que tal demanda também possa ser razoavelmente contestada, uma vez que a expressão em si pode ser facilmente mal interpretada. Eu me pergunto: de onde vem a demanda e de onde vem a resistência? Uma pista pode nos explicar melhor o sentido dessa discussão. Quando Antonio Spadaro argumenta em favor de uma teologia rápida, evoca determinados “lugares comuns” da transformação do mundo: em primeiro lugar, ele evoca a luz elétrica. Um mundo “eletrificado” é um mundo acelerado, desde o início do século XX. Mas o surgimento dos “motores” (a vapor, a combustão interna...) já havia perturbado as consciências crentes. A oposição às ferrovias e às bicicletas faz parte de nossa história como católicos. Não vamos falar sobre o fato de que a eletricidade tornou possível o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão e, finalmente, o PC, a web e o smartphone. Toda essa “velocização”, até mesmo da escrita na tela, foi vista desde o início como uma tentação à qual resistir.
Grande parte da teologia católica dos últimos 200 anos deriva, mais ou menos diretamente, desse trauma. Assumir a “rapidez do mundo que se tornou veloz” e pensar sobre ela não é fácil. Até mesmo a crise dos ritos pode ser lida como uma culpa do mundo veloz. E a rapidez parece assumir, univocamente, um significado narcisista, autocentrado e autorreferencial. Entretanto, devemos admitir que esse esquema de interpretação permanece essencialmente reativo e injusto. Ele denuncia a rapidez em nome da lentidão, denuncia a autenticidade em nome da comunidade, denuncia a igualdade em nome da diferença. Há aqui, nessa resistência à rapidez, uma clara dívida com a leitura antimodernista da fé diante do mundo da modernidade tardia, que é visto se tornar rápido, substituir a ação à contemplação, o direito ao dever, o consumo à custódia.
Defender a “rapidez” não significa encontrar imediatamente as respostas para perguntas sempre novas. Em vez disso, significa, da forma como eu entendo, levar a sério o novo mundo, nascido no século XIX e que se desenvolveu por 200 anos, apenas em uma parte do mundo, e com o qual o catolicismo ainda luta para chegar a um acordo.
Certamente, essa teologia não é apenas o resultado de uma “adaptação” concebida como restyling.
Não é apenas uma questão de introduzir um léxico veloz no lugar de um lento. Em vez disso, é uma questão de elaborar um novo cânone, valendo-se de novas categorias e novas experiências, amadurecendo-as em uma nova relação à luz do Evangelho e da experiência humana. (GS 46)
Aqui, parece-me, a coragem de uma teologia rápida requer um trabalho que é tudo exceto rápido. Talvez rápida demais, nessa perspectiva, tenha sido a teologia que chegou a um acordo com o mundo da modernidade tardia ao listar primeiro uma série de erros: começamos no início do século XIX e não paramos mais, pelo menos até o Vaticano II. Mas mesmo depois disso, recomeçamos. Isso se tornou uma maneira veloz que não nos ajuda a ser fiéis. Ser rápidos significa renunciar a esse tipo de velocidade de juízo.
É errado pensar que a aceleração seja apenas um artifício da modernidade tardia. Certamente, em suas formas culturais, sociais, econômicas e estruturais, há uma grande novidade aqui. Mas a tradição estava familiarizada com outras formas de velocidade, que hoje não são mais úteis. Vou citar apenas duas. Durante séculos, até mesmo por quase dois milênios, digamos de Niceia até os séculos após Trento, pensamos que o magistério eclesial poderia intervir “velozmente”, com cânones de condenação. Acreditava-se, predominantemente, que a verdade fosse garantida se o erro era condenado publicamente. Esse método, que recebeu o nome de “magistério negativo”, era muito veloz. Em comparação com ele, o magistério positivo, inaugurado pelo Concílio Vaticano II, é inevitavelmente mais lento, mais articulado, justamente pela necessidade de se confrontar com um mundo rápido e em transformação, que muda de ênfase e de pensamento.
Outro aspecto interessante é que uma teologia rápida, levando a sério a mudança de ritmo da cultura, aproveita a oportunidade para reler a tradição como um todo a partir das novas evidências. O que significa, por exemplo, o fim da família alargada e o início da família nuclear? O que significa a entrada da mulher no espaço público? O que significa a descoberta das “fases de desenvolvimento” no crescimento das crianças? O que significa o fato de que a concepção implica em uma colaboração equiparada entre homem e mulher no nascimento de um novo sujeito?
Essas novidades culturais, científicas e sociais, todas fruto de um mundo acelerado, não são apenas oportunidades para expressar a verdade que sempre se conheceu, mas formas de compreensão original da família, da mulher, do nascimento e do crescimento. Entendemos coisas que nunca tínhamos conhecido.
Uma teologia que pensa ter “princípios ontológicos” de revelação do que é homem, mulher, família, nascimento e crescimento, sempre pode ser muito, demasiado veloz. Ela já resolveu as questões antes mesmo de encontrá-las. Uma teologia que aceita dialogar com a aceleração do mundo não se baseia simplesmente em princípios, mas reelabora a escuta da Palavra e a celebração do Sacramento como passagens abertas, nas quais a graça entra na história e manifesta novas evidências.
Quando analisada dessa forma, a demanda por uma “teologia rápida” parece razoável. O primeiro efeito é livrar a tradição de mecanismos demasiado velozes e sumários para chegar a expressar um julgamento.
Uma teologia que supera o antimodernismo como garantia da verdade se expõe aos sinais dos tempos, com os quais pode aprender lentamente a dialogar com o mundo acelerado. Nesse sentido, uma “teologia rápida” resulta sacrossanta, mesmo que não pouco desafiadora. Nessa direção, parece-me que o pedido de “rapidez”, apesar da aparência, constitui um verdadeiro remédio para lógicas excessivamente velozes e sumárias que caracterizaram a época do antimodernismo (pré e pós-conciliar) e de qual devemos aprender a nos libertar. Para sermos rápidos, devemos lentamente deixar de ser velozes. Parafraseando Immanuel Kant, posso concluir assim: “se medíssemos a rapidez da teologia não pela velocidade com que ela sabe responder imediatamente às questões, mas pela consideração precisa que ela sabe ter dos fenômenos em sua aceleração histórica à luz da Palavra, poderíamos dizer que muita teologia seria muito mais rápida, se não fosse tão rápida”.