04 Abril 2025
O presidente norte-americano lançou sua guerra comercial ao mundo inteiro nesta quarta-feira (2), sem poupar ninguém, amigos ou inimigos, com tarifas de importação de até 34%, como no caso da China. Neste contexto, o Brasil faz parte dos “sortudos”, afetado por um aumento de 10%.
A reportagem é de Stéphane Geneste, publicada por Rfi, 03-04-2025.
Cabe lembrar que os dois países estão economicamente conectados, já que os Estados Unidos são o maior investidor no Brasil que, por sua vez, é um dos maiores exportadores da região. Os produtos importados pelos americanos incluem soja, carne bovina, frango e aço. Mas na balança comercial entre os dois parceiros, o superavit fica do lado americano, o que é uma vantagem para Brasília, já que Donald Trump tem como alvo principal os países que exportam mais para os Estados Unidos do que importam. Por isso, o Brasil pode tirar proveito dessa situação.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva integrou isso perfeitamente e não quer encerrar o diálogo com Washington. Como prova, na semana passada, uma missão brasileira esteve na capital americana para se reunir com o governo Trump. Isso não impede que o Brasil responda com a votação, pelo Congresso, de uma lei em retaliação às medidas americanas.
Mas o governo brasileiro também conseguiu estabelecer outras parcerias comerciais que lhe permitem evitar sofrer com o tarifaço dos Estados Unidos, entre elas, a China.
Pequim é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, importando soja, frango e carne bovina, entre outros produtos de empresas brasileiras. Como a China é um dos países mais visados pelas tarifas dos Estados Unidos, Pequim respondeu aumentando os impostos sobre produtos agrícolas estratégicos dos americanos, como soja e carne.
Neste contexto, a China pode encontrar no Brasil uma alternativa viável para suas necessidades em bens de consumo cotidiano. As empresas chinesas, por sua vez, estão presentes em solo brasileiro e investem na construção de infraestrutura essencial à atividade econômica, como estradas, ferrovias e portos.
Oportunidade com riscos
As exportações de frango e ovos brasileiros para a China explodiram, com entre 9% e 20% de aumento em relação ao ano passado. Como prova da confiança, o índice da bolsa brasileira, baseado principalmente em commodities, subiu 9% nas últimas semanas, enquanto as principais praças do mundo estão no vermelho.
Mas, embora essa situação pareça benéfica no curto prazo, no longo prazo ela expõe o Brasil a uma forte dependência da China. E se as relações entre Pequim e Washington melhorarem, todo o equilíbrio do Brasil pode se tornar instável.
As autoridades brasileiras trabalham com diferentes cenários. Recentemente, eles assinaram novos convênios com o Japão e com os europeus no âmbito do acordo do Mercosul. Uma situação que permite ao país fortalecer sua posição no cenário do comércio internacional e estimular seu crescimento econômico.
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