24 Março 2025
"Através da pedagógica parábola da figueira seca, Jesus nos conta de um Deus que só quer que frutifiquemos, dando a necessária contribuição para o bem comum, rompendo com o "cercadinho" do individualismo - que alimenta até uma certa "espiritualidade" desconectada do social, alienada da realidade", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, comentando o Evangelho do 3° domingo da Quaresma.
E pergunta: "Como na canção de Milton Nascimento e Wagner Tiso, estamos "cuidando da vida, do mundo, e tomando conta da amizade, pra que a vida nos dê flor e fruto"?
No Evangelho desse 3° domingo da Quaresma (Lucas, 13, 1 a 9), Jesus é informado sobre um massacre político - galileus mortos por ordem de Pilatos, enquanto realizavam seu culto. E lembra de uma outra tragédia - os 18 que pereceram no desabamento da Torre de Siloé.
Na contramão do pensamento dominante, Jesus, em ambos os casos, afasta o "castigo divino" tão propagado por muitos pastores até hoje (e com grande poder de convencimento).
Usando o nome de Deus, vários desses que ocupam TVs e rádios pregam o conformismo, e querem fazer o pobre se culpar pela própria pobreza (além de "fazer um pix"...). Indutores da apatia, para reproduzir uma "ordem" que os beneficia, veem qualquer desastre com perdas humanas como punição dos céus. "Líderes" hipócritas e cruéis, avessos a uma real mudança de vida!
Em seguida, o Mestre fala exatamente disso: a urgência de uma contínua conversão.
Através da pedagógica parábola da figueira seca, Jesus nos conta de um Deus que só quer que frutifiquemos, dando a necessária contribuição para o bem comum, rompendo com o "cercadinho" do individualismo - que alimenta até uma certa "espiritualidade" desconectada do social, alienada da realidade.
Jesus relata a generosidade de um Deus-agricultor, paciente com nossa lentidão em nos transformarmos, para deixarmos de "ficar só sugando a terra" (7): "deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e por adubo. Quem sabe, no futuro, ela dará fruto?" (8 e 9).
Um alerta para nós, que andamos secos, socialmente estéreis, inúteis. Uma exortação para que nos tornemos verdejantes, levando água para os sedentos de reconhecimento e afeto e ânimo para as lutas coletivas.
Temos sido adubo, prestando atenção nos nossos semelhantes carentes de mãos solidárias e fertilizantes? Ou, ególatras, passamos ao largo das dores do planeta, "blindados" por um cotidiano estreito, mesquinho?
Temos superado nossas próprias mazelas? Como na canção de Milton Nascimento e Wagner Tiso, estamos "cuidando da vida, do mundo, e tomando conta da amizade, pra que a vida nos dê flor e fruto"?
Ainda é tempo de fazer brotar em nós e na sociedade essa conversão humanista e transformadora!