17 Novembro 2024
"O fim do mundo está próximo? O seu recomeço também! Nesse momento, uma flor desabrocha, um passarinho faz seu ninho, a ciência cura alguém, há gestos de solidariedade e beijos apaixonados, rompendo o tédio, o egoísmo, a indiferença e o terror", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, comentando o Evangelho desse domingo - Mc, 13,24-32.
E citando Guimarães Rosa, escreve "com Deus existindo, tudo dá esperança, sempre um milagre é possível, o mundo se resolve (...) Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo".
Quem já não sentiu que parece termos chegado ao "fim dos tempos"?
Guerras, população civil exterminada, epidemias, homens bomba fanáticos, negacionistas e armamentistas triunfando, ditadura dos algoritmos e das fake news, opulência e egoísmo de uns poucos contrastando com a miséria de milhões, colapso ambiental...
No tempo de Jesus, guardadas as diferenças, inclusive tecnológicas, também era assim.
Por isso o Evangelho desse domingo (Mc, 13, 24-32) é tão atual e apocalíptico: "depois da tribulação, o sol escurecerá, a lua não brilhará, as estrelas cairão do céu, os poderes do espaço ficarão abalados..." (24, 25).
O Mestre profetiza os desastres mas não aceita o desespero: pede, "ecologicamente", para observarmos os sinais dos tempos ("quando os ramos da figueira ficam verdes e as folhas brotam, é o verão que se aproxima" (28). É preciso estar vigilante, atento e forte!
Jesus também orienta para, enfrentando os inevitáveis desastres, termos consciência da finitude, da impermanência de quase tudo, e focarmos no essencial: "passarão o céu e a terra, mas não minhas palavras" (31).
E que palavras (do Verbo feito carne) são essas, que podem confortar nossos corações inquietos, ansiosos, assustados, angustiados?
As de Amor, Serenidade, Alteridade (percepção do Outro como parceiro de viagem), Comunhão com a Natureza, engajamento nas causas da Justiça, sem a qual não se alcança a Paz.
O fim do mundo está próximo? O seu recomeço também! Nesse momento, uma flor desabrocha, um passarinho faz seu ninho, a ciência cura alguém, há gestos de solidariedade e beijos apaixonados, rompendo o tédio, o egoísmo, a indiferença e o terror.
Drummond (1902-1987), no poema "Mãos dadas", revela:
"Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças".
O jagunço filósofo Riobaldo, do Guimarães Rosa (1908-1967), outro mineiro, clama por coragem e fé: "com Deus existindo, tudo dá esperança, sempre um milagre é possível, o mundo se resolve (...) Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo".
Sim, há perdas, derrotas, ausências, vazios. Mas o Nada não terá a última palavra. Nesta vida, morremos muitas vezes, para ressuscitar outras tantas!
Ainda estamos aqui!
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Da tribulação à redenção. Breve reflexão para crentes ou não. Comentário de Chico Alencar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU