20 Março 2025
"O Conselho Ecumênico das Igrejas não pode ficar calado, só porque o Patriarcado de Moscou não aderiria à sua condenação da guerra e do rearmamento transloucado que está empenhando os Estados", escreve Severino Dianich, teólogo italiano, em artigo publicado por Settimana News, 13-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Cada vez mais intenso e difuso, cada vez mais sombrio e ameaçador o ruído do armazenamento de armas, lotando os depósitos e preenchendo de números hiperbólicos, no escritório ao lado, as faturas das empresas que as produzem e das agências que organizam o comércio de armas.
Estamos nos rearmando freneticamente em todos os lugares, em todas as nações, com a pretensão, como faz a Polônia, de também ter bombas atômicas à disposição. Apressem-se, invistam seu dinheiro nas ações das empresas que fabricam e vendem as armas! Elas produzirão massacres em alguma parte da Terra, mas, em troca, as carteiras de investimentos verão o montante dos lucros crescer como por mágica.
Fico me perguntando qual truque os ministros que assinam os decretos de rearmamento e os parlamentares que votam as leis correspondentes já colocaram em prática para que, quando chegar a hora, seus filhos não sejam enviados para a frente de batalha.
Ao ouvir os noticiários dos últimos dias, parece que o mundo está enlouquecendo. Qualquer seja o episódio de agressão, não se pensa em outra solução possível a não ser atirar, bombardear, destruir e matar, como se a inteligência tivesse sido trancada a sete chaves e inutilizado todos os outros espaços de suas infinitas potencialidades.
A política, da nobre condição do estado de direito que repudia a guerra, está voltando a empunhar a clava: “Tu ainda és aquele da pedra e da funda, / homem do meu tempo. Tu estavas na carlinga, / com as asas malignas, as meridianas da morte, / eu te vi - dentro da carruagem de fogo, nas forcas, / nas rodas de tortura. Eu te vi, / com tua ciência exata persuadida ao extermínio, / sem amor, sem Cristo. Tu mataste de novo, / como sempre, como mataram os pais, como mataram / os animais que te viram pela primeira vez” (Salvatore Quasimodo).
Na triste cena de um mundo que despencou na loucura, “o Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14,2-3).
Existe alguém na Terra que possa acolher o imperativo do profeta: “Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão”? (Is 58,1).
Quem poderia e deveria, hoje, em nome da humanidade, ou pelo menos em nome do grande corpo dos cristãos de todas as Igrejas presentes no mundo, ou pelo menos em nome da Igreja Católica, hoje, quando o papa, doente, está em silêncio, gritar a plenos pulmões que planejar guerras é um crime?
O Conselho Ecumênico das Igrejas não pode ficar calado, só porque o Patriarcado de Moscou não aderiria à sua condenação da guerra e do rearmamento transloucado que está empenhando os Estados.
A situação não é normal, é gravíssima. Em uma situação limite, as regras de procedimento devem se curvar à urgência dramática dos fatos. Deixando de lado as inefáveis sutilezas do diálogo ecumênico normal, no qual cada um deve apresentar sua própria identidade intacta, não deveria ser difícil para o Conselho Ecumênico e a Igreja Católica encontrar palavras comuns para gritar ao mundo, em dez linhas, que a guerra é uma abominação, uma vergonha para a humanidade.
O mundo de hoje não precisa de tratados teológicos sobre a guerra e a paz. As Igrejas tiveram a capacidade de elaborar e publicaram muitos deles, e de alta qualidade de pensamento.
Em 1983, os bispos estadunidenses reagiram com força contra a política de rearmamento do presidente Reagan com a declaração O Desafio da Paz: A Promessa de Deus e Nossa Resposta e, há um ano, com a declaração Paz para esta Casa, dos bispos alemães.
Hoje o mundo não precisa de nenhum documento, mas de um grito forte e apaixonado, como aquele dos profetas, que sacuda as consciências e desperte o senso de responsabilidade dos povos, acima das decisões de seus governantes.
As conferências episcopais, de todo o mundo, não podem se calar. Especialmente agora que o papa, doente, está em silêncio. Mas, mesmo em outros momentos, os episcopados locais não podem delegar a pregação da paz ao papa, porque a promoção da paz é missão de toda a Igreja.
É verdade que pesa muito nos ânimos a experiência de muitos apelos não atendidos, de muitas exortações que caíram em ouvidos surdos. Mas nunca e em nenhum caso um dever desaparece simplesmente porque se prevê que não dará frutos. “Isso não é motivo”, diria Padre Milani, ”para não cumprirmos plenamente nosso dever como guias. Se não pudermos salvar a humanidade, pelo menos salvemos nossas almas” (Opere I, p. 961).