14 Março 2024
Não bastam os apelos que se sucedem de muitos quadrantes, e não de hoje, por um desarmamento internacional.
A reportagem é de Roberto Paglialonga, publicada por L'Osservatore Romano, 14-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O setor de armamentos continua sendo um “negócio” – como se fala na fria lógica gerencial –, um setor em expansão. Que muitas vezes se realiza na pele dos mais vulneráveis e indefesos. Um fato para o qual, sem dúvida, também contribuem os dois conflitos em curso na Ucrânia e em Gaza. Isso é afirmado pelos dados do relatório anual Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo) sobre os fluxos comerciais globais no setor da defesa para o período 2019-2023.
O salto na Europa, incluindo a Ucrânia, é impressionante, pois - no período que inclui o início da invasão das forças militares de Moscou - quase duplicou as suas importações de armamentos. Ao longo do período de cinco anos, o aumento chegou a 94%, com Kiev na liderança (23% das receitas totais europeias), depois de pelo menos 30 países terem começado a enviar reforços para contrastar o ataque russo de 2022. Um dado, aquele da União Europeia, que “continuará elevado também no futuro”, explica Pieter Wezeman, pesquisador sênior do programa sobre a importação/exportação militar do Sipri, graças às encomendas por plataformas de alto nível “incluindo quase oitocentos aviões e helicópteros de combate”.
No campo das exportações, o recorde de crescimento pertence sobretudo à Itália e à França: a primeira marca um crescimento de 86% no intervalo 2019-2023, em comparação com mais 47 da segunda. Outros países do Velho Continente, como a Alemanha, a Espanha e a Grã-Bretanha, estão perdendo terreno e contratos. Roma torna-se assim o sexto país exportador absoluto de armamentos, depois dos EUA, França, Rússia, China e Alemanha, com uma quota de mercado que duplica, passando de 2,2 para 4,3 %: entre os principais clientes na ordem Catar, Egito e Kuwait.
O impacto da crise no Médio Oriente é significativo. “Alguns estados na região do Golfo importaram grandes volumes de armas para serem usadas contra as milícias dos Houthi e para combater a influência do Irã”, destaca Zain Hussain, pesquisador do Sipri. Os Estados Unidos são o principal fornecedor de armas na região (52 %, com 69 % acabando em Israel). Seguido pela França (com 12 %), Itália e Alemanha.
No geral, Washington aumentou as exportações do setor em 17 % enquanto as de Moscou caíram para metade (menos 53 %) também devido as sanções. Os Estados Unidos entregaram armas a 107 estados, mais do que nos cinco anos anteriores e muito mais do que qualquer outro exportador de armas. “Washington fortaleceu-se nesse setor, numa altura em que o seu domínio econômico e geopolítico está sendo questionado pelas potências emergentes”, comenta Mathew George, diretor do programa de transferência de armas do Instituto. A Rússia, por outro lado, perdeu volume e clientes: em 2019 vendeu para 31 países, em 2023 para 12. 68 % das exportações de armamentos pesados do Kremlin são direcionadas para a Ásia e Oceania: 34 % para a Índia, 21 % para a China.
Um fluxo cada vez maior de armas é dirigido para o Oriente: 37 % das importações mundiais são registradas em nações da Ásia e da Oceania, tanto que o Indo-Pacífico continua sendo a área com maior volume de importações. Aqui estão seis dos dez maiores importadores globais: a Índia, em constante tensão com Islamabad e Pequim, na liderança (mais 4,7 %), seguida pelo Paquistão, Japão, Austrália, Coreia do Sul e China, tendo essa última alcançado uma redução de 44 % substituindo armas importadas (a maioria das quais da Rússia) por sistemas produzidos diretamente no país.
Não se trata, portanto, de uma suspensão das despesas militares por parte de Pequim, mas sim de um ajuste de rota, em previsão de um crescimento das despesas de 7,2 % em 2024. E a China representa o principal fornecedor de fornecimentos militares dos estados africanos, com 19 %, ultrapassando assim a Rússia.
Finalmente, o Japão e as Filipinas aumentaram as suas importações de armas em 155 e 105 %, respectivamente.
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Na Europa, as importações de armas aumentaram 94% - Instituto Humanitas Unisinos - IHU