28 Fevereiro 2025
"Com os meses de conflito, os protagonistas do processo de envenenamento se multiplicaram: a guerra arrastou todos nós para um abismo que esmaga e mata o pensamento, o diálogo, o debate e até mesmo a simples dúvida", escreve Mario Giro, professor de Relações Internacionais na Universidade para Estrangeiros de Perúgia, na Itália, em artigo publicado por Domani, 26-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Três anos atrás, acordamos em um pesadelo. Três anos atrás os ucranianos se viram diante da invasão russa, agredidos por uma nação que muitos deles sentiam como irmã. Três anos atrás, as imagens arrasadoras de civis em fuga, pulando pontes destruídas e estradas bombardeadas. Três anos atrás, a Europa se descobriu fraca e indefesa.
Três anos atrás, os ucranianos se defenderam heroicamente naquelas primeiras terríveis semanas, evitando a capitulação imediata sonhada por Vladimir Putin. Se a Ucrânia não tivesse resistido naquelas horas - especialmente no aeroporto de Hostomel - certamente ninguém do Ocidente teria vindo em ajuda.
Mas, ao longo desses três anos, nós nos envenenamos progressivamente.
O envenenamento pelo ódio infectou a todos, começando pelos russos, surpresos e furiosos com seu fracasso inicial. Russos e ucranianos estão envenenados por um abismo de ódio mútuo, e os russos estão cheios de rancor contra o Ocidente. No outro lado, poloneses, bálticos e nórdicos carregaram ainda mais ódio contra os russos do que a história já lhes havia deixado em herança. Os europeus ocidentais aprenderam a odiar os russos como nem haviam odiado durante a Guerra Fria.
Envenenadas as relações entre ortodoxos e católicos e entre ortodoxos eslavos e gregos. Envenenadas as relações culturais e acadêmicas, da pesquisa ao esporte: nada parece deter a corrida ao ódio desencadeada pela decisão insana do Kremlin de iniciar uma nova grande guerra na Europa. Com os meses de conflito, os protagonistas do processo de envenenamento se multiplicaram: a guerra arrastou todos nós para um abismo que esmaga e mata o pensamento, o diálogo, o debate e até mesmo a simples dúvida.
Nós nos limitamos a condenar, e a nada parecem servir a lógica, a lucidez e a análise. A lógica binária amigo/inimigo domina em ambos os lados. Não se conseguem entender os gritos do Papa Francisco: parecem palavras de uma bela alma: “O que mais um papa pode dizer?”. Não é isso: no século XX, em contato primeiro com as guerras mundiais e depois com o risco de guerra nuclear, o pensamento da Igreja sobre a guerra deu um salto. Todos os papas definiram a guerra como um mal em si: toda guerra é, e não existe uma guerra justa, especialmente na era atômica. Embora seja um produto dos processos políticos humanos, a guerra possui sua própria lógica interna que a torna autônoma até mesmo em relação às decisões de quem a iniciou. A guerra tem uma sua própria força íntima e maligna que domina e engole tudo: ela é o mal absoluto porque cria uma engrenagem de ódio e violência da qual é difícil escapar e que tende a se eternizar.
A prova apareceu nestes últimos dias: assim que houve um vislumbre de um caminho de trégua e depois de paz, a reação de muitos foi violenta, como se não quisessem sair do pesadelo. Certamente, as ideias de Donald Trump estão longe de ser perfeitas e, às vezes, são espinhosas, mas por que os europeus (e Biden) se recusaram a negociar até agora? Dizem: porque a vitória é necessária contra uma violação tão grave.
Concordo, mas a vitória não poderia vir.
Domenico Quirico se pergunta: “Agora, quem explicará aos ucranianos que eles morreram pelo impossível?”
Enquanto isso, o número de vítimas aumenta e milhões deixaram a terra arrasada. Provavelmente nunca mais voltarão. Dizem que a paz não pode ser feita às custas dos ucranianos. É verdade. Mas cabe se perguntar por que a guerra foi feita às suas custas, mesmo sabendo que não era possível vencer.
Sejamos honestos: a guerra foi uma armadilha para todos. Precisamos desarmá-la, não a fomentar.
Há também aqueles que dizem que não se pode fingir que nada aconteceu, agir como se os russos não tivessem agredido. Mas, nesse caso, o que conta é a vontade dos povos, não dos líderes (a geopolítica humana sobre a qual Dario Fabbri escreve): mesmo que muitos líderes façam vista grossa, com certeza ninguém na Europa esquecerá. Não é possível se iludir que em Moscou tudo voltará a ser como era antes. Mas agora é hora de chegar a compromissos, o que implica em dolorosas renúncias e sacrifícios. Como pede o Papa Francisco, pelo menos as pessoas deixarão de morrer. Depois chegará o tempo da justiça e da vergonha.