22 Fevereiro 2025
"A saúde é cara, mas é um investimento e tem um impacto decisivo na economia (passamos por isso e já nos esquecemos!)", escreve o médico italiano Sergio Harari, do Hospital San Giuseppe, de Milão, em artigo publicado por Corriere della Sera, 19-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Cinco anos se passaram desde que a onda de pandemia varreu o mundo e a Itália, transtornando nossas vidas e deixando para trás um rastro dramático de lutos e danos sociais. Mas um mecanismo desconcertante de remoção psicológica em massa garantiu que não se fale mais sobre o Covid; ninguém hoje quer se lembrar daqueles longos meses que mudaram o mundo. Será que saímos melhores? Realmente não se pode dizer que saiu fortalecido o nosso Serviço Nacional de Saúde, como todos nós esperávamos. Muitos acreditam que, se amanhã formos subitamente atingidos por uma nova pandemia, a resposta seria pior do que naquela época, quando pelo menos pudemos contar com a profunda dedicação dos profissionais de saúde unidos em um esforço coletivo. No entanto, algumas reflexões podem ser extraídas dessa experiência, e vale a pena fixá-las na memória.
Os contos de fada não funcionam na medicina, o storytelling não resolve (e seria bom que muitos se lembrassem daqueles tempos), o caso da hidroxicloroquina (Plaquenil), vendida em milhões de kits como panaceia para infecções virais e promovida pelo presidente Trump como um antiviral milagroso, deveria ter sido uma lição suficiente. A pesquisa pode ser direcionada e acelerada, prova disso é o sucesso extraordinário que foi alcançado em tempos recordes com o desenvolvimento de vacinas, mas são necessários recursos econômicos e estratégias para orientá-la. A pesquisa também pode ser o resultado de um esforço colaborativo de várias equipes e atingir os objetivos mais rapidamente, não é feita apenas de competição entre os pesquisadores.
A saúde é cara, mas é um investimento e tem um impacto decisivo na economia (passamos por isso e já nos esquecemos!). Na era da globalização, é indispensável ter ações coordenadas entre os estados e, nesse sentido, a OMS e a União Europeia deveriam desenvolver um papel central; em um futuro próximo, seria desejável ter um plano de saúde europeu sobre temas comuns e transversais às diversas realidades.
Não podemos nos permitir fragmentações do sistema de saúde como vimos em nosso país. Cada região tem sua autonomia, mas não é viável que políticas de saúde pública diferentes sejam implementadas em regiões até mesmo limítrofes, uma diretriz nacional única é indispensável. A epidemiologia e o rastreamento são fundamentais, a rede de vigilância epidemiológica e a medicina em cada local devem ser fortemente reforçadas, pois durante a passada pandemia representaram uma forte fraqueza e favoreceram a propagação do vírus. A gestão domiciliar de pacientes graças às novas tecnologias é possível e pode ser muito útil em alguns casos.
A transparência nas informações é fundamental e pode ajudar a orientar o comportamento dos cidadãos que acabaram se tornando tão participantes e responsáveis (quem imaginaria que os italianos seriam tão observadores das restrições impostas?) A relação entre a mídia e os formadores de opinião precisa ser repensada; assistimos a muitos excessos de narcisismo gratuito na televisão. Vimos hospitais serem transformados em questão de horas; no futuro, também a visão arquitetônica das instalações de saúde deve ser capaz de prever conversões rápidas em caso de necessidades urgentes.
Por fim, nos últimos estudos científicos, o papel da poluição na propagação do vírus parece ter uma relevância maior do que se pensava inicialmente e, provavelmente, desempenhou um papel fortemente negativo na industrializada região da Lombardia; isso também deve representar um forte impulso para ações de redução. Esses são apenas alguns pontos que deveriam ser considerados como certos, mas que, a julgar pelo que está acontecendo, infelizmente não o são, e seria útil tê-los bem em mente quando se pensa no nosso sistema de saúde-pesquisa-sociedade.