19 Fevereiro 2025
O artigo é de Joseba Kamiruaga Mieza, missionário e padre claretiano, publicado por Religión Digital, 18-02-2025.
A atual hospitalização do Papa Francisco, o Papa que “meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo” e às portas do que seria o 12º ano de sua eleição como Papa, desperta – ou, talvez, seria melhor dizer, dispara – os rumores do futuro.
O Papa Francisco tem sido, e continua sendo, um sopro – ou melhor, um ar fresco – de renovação para a Igreja. Supõe-se que haverá, de uma forma ou de outra, movimentos na Cúria Vaticana. Certamente também porque a “surpresa” deste Papa está à vista de todos. E digo: “surpresa”. Mas talvez seja até possível dizer “conflito e mal-estar”.
Sob uma perspectiva geopolítica – e eu, que sou um ignorante supremo nessas mega dimensões – até uma certa ideologia trumpista identificou os valores do Papa Francisco como seu inimigo número um a ser atacado. Outrora, esse inimigo era o comunismo.
Por exemplo, nestes tempos, o Papa Francisco tem sido a figura que mais insistiu na existência de uma “terceira guerra mundial”, que é menos visível apenas porque se trava de maneira fragmentada. E com uma condenação moral que não se limitou a um mero desejo, mas que apontou para o complexo militar-industrial que se beneficia e prospera com as guerras – não é qualquer coisinha de pouca monta.
Em vez de olhar para o passado, é importante concentrar a atenção no futuro. Paradoxalmente, um Papa de 88 anos que passa a maior parte do tempo em uma cadeira de rodas deve ser visto, sobretudo, em termos de construção do futuro. E esse é, precisamente, o cerne da questão entre a concepção de Igreja do Papa Francisco e a de seus adversários.
E, além disso, com um tom de amargura e de confronto que parece nos transportar a outros séculos, já remotos no túnel dos tempos. Não, não vão envenenar o Papa Francisco, mas a confrontação é tão direta que, muitas vezes, chegou a se questionar a legitimidade de sua eleição – com teorias abstrusas dignas dos melhores romances policiais.
O que importa não é o passado, pois, entre outras coisas, o Papa Francisco não morreu. Mas importa o futuro, a era pós-Francisco. Também porque a ala conservadora-restauracionista sonha em reduzir o Papa Francisco a uma espécie de parêntese folclórico do qual se livrar o quanto antes, por meio de um sucessor que relativize sua memória ou a embalsame em algo anedótico, episódico, inofensivo, etc.
Por isso, quando o Papa Francisco se viu obrigado a se deslocar em cadeira de rodas – e, uma vez que aceitou essa mudança, sabe-se que é difícil recuperar o tônus muscular para se locomover de forma independente –, e quando as hospitalizações presumivelmente graves acontecem com certa regularidade, o desafio passa a ser a saúde do Papa e, consequentemente, a possibilidade de sua renúncia.
Os guardiões da ortodoxia imaculada desesperada – que fizeram da fé um deserto e a chamaram de fidelidade à tradição, quando Cristo foi o primeiro a superar os preceitos da tradição (“sabeis que se disse… mas eu vos digo”) – tiveram o cuidado de não transformar isso em um problema durante o prolongado período em que o Papa João Paulo II carregou publicamente o fardo de uma doença terrível: nenhum deles duvidou de sua capacidade de sustentar a Santa Igreja Romana – mesmo tendo carregado esse fardo durante 14 anos, acometido de Parkinson – sendo o testemunho da dor algo bem manifesto aos olhos do mundo.
E agora, com o Papa Francisco, sua aparição na cadeira de rodas, suas hospitalizações… basta para que qualquer imprevisto relacionado à sua saúde culmine sempre com a pergunta: ele renunciará? E quando? Também, nesse quesito, pelo menos até o momento presente, o Papa Francisco aceitou o desafio e o levou ao campo aberto.
O presumível final do pontificado do Papa Francisco, no entanto, apenas inaugura a fase mais próxima do coração de seus adversários: o início de um novo conclave, no qual se buscará um pontífice que se desfaça de seu legado.
Mas há um “porém”, e não qualquer um: por meio dos consistórios durante seu papado, grande parte daqueles que escolherão o futuro Papa foram nomeados pelo atual Papa Francisco.
Não, não é que isso seja novidade. Os papas anteriores também o fizeram. Bento XVI criou 73 cardeais em oito anos, João Paulo II 210 cardeais em 27 anos, Paulo VI 145 em 15 anos e João XXIII 52 em cinco anos. Em resumo, cerca de dez por ano. O Papa Francisco não fez nada muito diferente de seus predecessores.
No entanto, o que realmente mudou foi a geografia. Com o Papa Francisco, os cardeais provêm de um leque de 65 Estados de todo o mundo (e, em muitos casos, são também cardeais de nacionalidades jamais representadas anteriormente no colégio cardealício).
Se com João XXIII e sua renovação a Igreja antecipou 1968, se com João Paulo II – vindo “de um país distante” (Polônia) – se abriu o caminho para o fim do bloco soviético do Leste, e se com Francisco a Santa Sé se abriu ao pensamento globalizado, é possível que agora o novo pontífice esteja em nome da contra-ordem ou do retrocesso?
Assim, em resumo: em primeiro lugar, trata-se também de uma questão de números. É necessário examinar o “identikit” dos cardeais que têm direito a votar no futuro Papa. Imagino que as hipóteses e as apostas já circulem em determinados fóruns. No entanto, a cautela sempre parece prevalecer, e também pelo velho ditado de que quem entra no conclave como Papa sai como cardeal – ou seja, é melhor não dar muitas coisas como certas, pois isso queimaria a candidatura.
Pode-se imaginar que o próprio Papa Francisco e/ou seu círculo mais próximo já estejam preparando o pós-Francisco. Terão eles um nome em mente?
Seja como for, teremos que nos acostumar, e há algo que já nos indica: agora já não é o Sul do mundo a terra de missão. Na verdade, são os presbíteros e missionários vindos de longe que cuidam da Igreja aqui conosco na Europa e na Espanha. E tudo isso sem sequer os temores de rejeição ou de reações adversas que se poderiam ter temido em uma comunidade, frequentemente envelhecida, como a eclesial no continente europeu e em nossa Igreja na Espanha.