07 Fevereiro 2025
“Até que os Estados Unidos da América abandonem a chamada estação naval de Guantánamo ou os dois governos concordem com uma modificação de seus limites atuais, a estação continuará a ter a área territorial que tem agora”. Assim está escrito no acordo assinado em 29 de maio de 1934 pelo presidente Franklin D. Roosevelt para os EUA e, para Cuba, pelo embaixador em Washington Manuel Márquez Sterling, que por seis horas havia sido chefe de estado em janeiro, no turbilhão de quatro presidentes que se seguiu ao golpe de estado do verdadeiro senhor da ilha, Fulgêncio Batista, que dominaria como um ditador feroz por um quarto de século até a revolução castrista.
Claro, o acordo confirmava, com requintada hipocrisia: “Os Estados Unidos reconhecem a continuidade da soberania última da República de Cuba sobre as zonas terrestres e marítimas descritas anteriormente”. Mas especificando que “a República de Cuba permite que os Estados Unidos, durante o período em que ocuparem as áreas mencionadas por este acordo, exerçam completa jurisdição e controle sobre elas”.
A informação é de Gian Antonio Stella, publicada por Corriere della Sera, 05-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Noventa e um anos se passaram desde então. E há cinquenta e seis, Cuba se nega a aceitar a tarifa anual de 4.085 dólares, equivalente a 209.000 atuais, porque em vão, depois da denúncia daquele pacto colonial com um regime como o de Batista, ligado inclusive à máfia de Meyer Lansky e Lucky Luciano, exige que aquele pedaço de ilha dado em arrendamento pela “Emenda Platt” aos Estados depois da guerra hispano-americana de 1898, seja devolvido ao estado, que o próprio acordo inicial de 1901 e sua “atualização” de 1934 reconhecem como o legítimo soberano.
Mas, nem pensar. Claro, Fidel Castro, Raul e a ditadura que dominam Cuba há décadas foram e continuam sendo um regime indefensável. Mas o mesmo poderia ser dito de outros regimes onde “contratos de aluguel” coloniais expiraram. O fato de apenas os EUA terem o direito de sair de Cuba quando melhor lhes aprouver, enquanto os cubanos só podem “concordar” com o fim da “locação” continua sendo, mesmo para aqueles que amam os Estados Unidos, uma ferida.
Ainda mais se, como hoje, Donald Trump fala de Guantánamo como uma propriedade para onde deportar 30.000 pessoas, quer tenham sido julgadas e condenadas ou não, longe dos olhos de qualquer observador. A começar pelos da Anistia Internacional, que justamente ali, na prisão blindada estadunidense, denunciaram torturas inaceitáveis.