07 Fevereiro 2025
A ofensiva negacionista do presidente Donald Trump chegou aos sites governamentais nos Estados Unidos, com várias páginas relacionadas à crise do clima sendo sumariamente apagadas.
A informação é publicada por ClimaInfo, 04-02-2025.
Na base da canetada, como tem sido o tom nas duas primeiras semanas de gestão, o presidente dos EUA, Donald Trump, determinou a retirada de conteúdos referentes às mudanças climáticas nas páginas de internet do governo norte-americano. Um dos alvos foi o Departamento de Agricultura, que teve que retirar às pressas várias páginas com menções ao clima na última 6ª feira (31/1) por ordem direta da Casa Branca.
De acordo com o Guardian, o governo Trump determinou aos gestores desses sites que identificassem, arquivassem ou tirassem do ar “quaisquer páginas de destino focadas em mudanças climáticas”. Além da retirada de conteúdo, a Casa Branca ordenou a montagem de planilhas com todos os conteúdos impactados para “revisão posterior”.
Por conta disso, várias páginas do Departamento de Agricultura saíram do ar, como as do Serviço Florestal dos EUA, que ofereciam recursos-chave para pesquisa de adaptação climática, incluindo aquelas que fornecem ferramentas para avaliação de vulnerabilidade a incêndios florestais. Entre as páginas afetadas, também está a do Programa de Avaliação e Inventário de Gases de Efeito Estufa para o setor agrícola, além da 5ª Avaliação Climática Nacional, relatório que analisa impactos, riscos e respostas às mudanças climáticas.
“Isso é ridículo”, lamentou Gretchen Gehrke, que dirige a Environmental Data and Governance Initiative (EDGI), à Bloomberg. “O fato de que precisamos nos proteger contra a supressão generalizada de informações de dados é realmente revelador do tipo de momento em que estamos. Uma marca registrada da democracia é a informação livre e aberta para uma república informada. O fato de que isto esteja em risco é realmente profundamente preocupante”.
No primeiro ano de seu primeiro mandato, Trump retirou mais de 200 páginas da web com informações climáticas, de acordo com a Iniciativa de Dados e Governança Ambiental, que rastreia mudanças em sites governamentais, registra a Wikipedia. Na época, o Guardian detalhou como o governo alterou o texto nos sites para omitir informações.
Desta vez, porém, o “deletaço” não se resume à área climática. Como o Independent destacou, várias páginas de internet que abordavam temas LGBTQIA+ e de saúde sexual para jovens também foram apagadas, para preocupação de especialistas em saúde pública. Páginas relacionadas à transgênero, outro bicho-papão favorito do trumpismo protofascista, também tiveram seu conteúdo retirado do ar. Nem a página em Espanhol da Casa Branca e os respectivos perfis em língua hispânica nas redes sociais se salvaram, segundo a AP.
ABC News, Axios e Politico também abordaram a retirada de conteúdos relacionados ao clima nos sites do governo norte-americano.
Em tempo: A ofensiva negacionista de Trump gera filhotes no front internacional. Nos últimos dias, representantes dos governos da Indonésia e da Nova Zelândia sugeriram a possibilidade de abandonar o Acordo de Paris, seguindo o caminho aberto por Trump ao retirar os EUA do regime climático internacional.
O enviado especial da Indonésia para clima e energia, Hashim Djojohadikusumo, alegou que a saída dos EUA esvazia a importância do Acordo de Paris, além de inviabilizar uma iniciativa recente dos países do G7 para ajudar Jacarta deixar de queimar carvão para geração elétrica. Bloomberg e Financial Times deram mais detalhes.
Já na Nova Zelândia, em meio a críticas sobre a baixa ambição do novo compromisso climático do país sob o Acordo de Paris, a lebre foi levantada pelo futuro vice-primeiro-ministro, o direitista David Seymour. Em entrevista a uma rádio repercutida pela Bloomberg, o político defendeu que o governo avalie a saída do Acordo de Paris. Climate Home e Reuters destacaram as críticas à falta de ambição da nova NDC da Nova Zelândia.