15 Janeiro 2025
"Enquanto a retórica política exalta a importância da educação, a prática cotidiana denuncia um descompasso entre discurso e realidade. Vivemos uma crise estrutural e moral, na qual o conhecimento é relegado a segundo plano, e os professores, outrora respeitados como pilares da formação humana, tornam-se alvos de desprezo e indiferença", escreve Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves, teólogo, filósofo e professor. É formado em História, Filosofia e Teologia, áreas nas quais trabalha como professor em Juiz de Fora (MG).
A educação, pilar fundamental para o desenvolvimento de qualquer sociedade, encontra-se em um estado crítico. No Brasil, essa crise se manifesta de forma particularmente alarmante, com reflexos diretos na qualidade do ensino, na valorização dos profissionais da educação e, consequentemente, no futuro do país.
Hannah Arendt foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. Em seus escritos sobre a crise da educação ela desenvolve seu pensamento e acrescenta a perigosa perda da autoridade em nome da liberdade, desta maneira é preciso observar que há uma contumaz angústia quando o quesito é liberdade.
Enquanto a retórica política exalta a importância da educação, a prática cotidiana denuncia um descompasso entre discurso e realidade. Vivemos uma crise estrutural e moral, na qual o conhecimento é relegado a segundo plano, e os professores, outrora respeitados como pilares da formação humana, tornam-se alvos de desprezo e indiferença.
Um dos aspectos mais preocupantes dessa crise é o desrespeito sistemático aos professores. Historicamente, a figura do educador era reverenciada como um guia intelectual e moral. No entanto, nos últimos tempos, os professores têm sido submetidos a uma desvalorização crescente, como: precarização das condições de trabalho, a sobrecarga de funções e a falta de reconhecimento contribuem para um cenário de desmotivação e esgotamento profissional, impactando diretamente a qualidade do ensino.
Paralelamente à desvalorização dos professores, observa-se um crescente descaso com o conhecimento. A cultura do imediatismo, a disseminação de informações falsas e a valorização exacerbada do lucro têm minado a importância da educação como ferramenta de transformação social. A busca desenfreada por resultados rápidos e a superficialidade nas relações humanas têm levado a uma desvalorização do conhecimento aprofundado e da reflexão crítica.
Essa realidade é apresentada, por Byung-Chul Han, como a crise da sociedade que vive em constante consumo e produção. É preciso destacar que a crise da educação não é um fenômeno isolado, mas sim resultado de um conjunto de fatores interligados. A falta de investimentos públicos em educação, a desigualdade social, a mercantilização do ensino e a fragilidade das políticas educacionais são apenas alguns dos elementos que contribuem para esse cenário.
O sujeito da sociedade contemporânea, chamado por Han de "sujeito de desempenho", é alguém que se autoconstrange a ser sempre mais eficiente e produtivo, internalizando essa pressão de maneira profunda. Ao invés de serem forçados a produzir por uma autoridade externa, os indivíduos agora se sentem compelidos a isso por uma motivação interna que visa superar constantemente seus próprios limites. Se antes os indivíduos eram moldados por uma disciplina externa, regulada por instituições como escolas, fábricas e prisões, hoje eles são regidos por uma lógica de autoexploração.
As consequências dessa crise são graves e de longo prazo, pois, a desvalorização dos professores e o descaso com o conhecimento geram um ciclo vicioso que perpetua a desigualdade e a exclusão social. Somado a isso o escárnio com os professores é reflexo direto do desprezo crescente pelo conhecimento em nossa sociedade.
Em uma era marcada pela desinformação e pelo imediatismo das redes sociais, a construção do saber é frequentemente vista como secundária. O valor do aprendizado foi substituído por métricas de produtividade superficial, em que o ensino é tratado como uma mera ferramenta de certificação para o mercado de trabalho, e não como um espaço de formação integral do indivíduo.
Essa lógica mercantilista transforma o estudante em um consumidor e o professor em um prestador de serviços, rompendo a essência dialógica do processo educativo. A ciência, a arte e a filosofia, campos que deveriam alimentar a criticidade e a criatividade, são marginalizados em prol de conteúdos técnicos e utilitários. Isso contribui para a formação de cidadãos menos reflexivos e mais suscetíveis à manipulação política e cultural.
Outro aspecto preocupante é a banalização da autoridade dos professores e da própria escola enquanto instituição formadora. O discurso que deslegitima o papel do docente, atribuindo-lhes a culpa por problemas estruturais do sistema educacional, reforça estereótipos e reduz a complexidade dos desafios enfrentados. Essa retórica cria um ciclo de desmotivação, no qual o professor deixa de ser visto como agente transformador e passa a ser tratado como um obstáculo ao sucesso do estudante.
Esse fenômeno se insere em uma cultura mais ampla de desrespeito às figuras de autoridade que, paradoxalmente, reflete o individualismo exacerbado de nossa época. A valorização de opiniões desinformadas, muitas vezes disseminadas em redes sociais, contribui para a descrença em especialistas e no conhecimento acadêmico, minando a função educacional.
O resultado dessa crise é uma geração que cresce em um ambiente onde o conhecimento é tratado como descartável e o professor, como figura irrelevante. Essa conjuntura compromete a formação integral do indivíduo, afetando a capacidade de análise crítica, a empatia e a participação cidadã. Uma sociedade que desvaloriza seus educadores compromete seu futuro, criando um ciclo de ignorância e desigualdade que perpetua por várias gerações.
Para reverter esse quadro, é necessário um esforço conjunto de toda a sociedade. É fundamental valorizar a educação, garantir condições de trabalho dignas para os professores e promover a democratização do acesso ao conhecimento.
A crise da educação é um desafio urgente que exige uma resposta comprometida e que apresente soluções eficazes. Ignorar essa realidade é condenar as futuras gerações a um futuro incerto e desigual. É preciso reconhecer a importância da educação como um direito fundamental e investir na formação de cidadãos críticos, criativos e capazes de construir um futuro melhor para todos.
Portanto, a crise educacional que vivemos hoje não é apenas uma questão sistêmica, mas um sintoma de uma sociedade que negligencia os valores fundamentais para seu desenvolvimento. O desprezo pelo conhecimento e o escárnio com os professores são afrontas que cobram um preço alto: o comprometimento do futuro das novas gerações. Reverter esse cenário é não apenas uma necessidade, mas um dever moral de todos aqueles que acreditam no poder transformador da educação. É hora de resgatar a dignidade do professor e devolver à educação o lugar de honra que ela merece.
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A crise da educação: um ataque sistemático ao conhecimento. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU