11 Dezembro 2024
Já em Estocolmo, na Suécia, para receber esta terça-feira o prêmio Nobel da Literatura, que lhe foi atribuído este ano, a escritora e poeta sul-coreana Han Kang, de 54 anos, manifestou o quanto se emocionou ao ver, há dias, as cenas de pessoas em Seul tentando travar as manobras militares, na sequência da imposição (falhada) da lei marcial, decretada pelo presidente da República.
A reportagem é publicada por 7Margens, 08-12-2024.
“Naquela noite, como toda a gente, fiquei em choque. Eu tinha estudado a lei marcial declarada no fim de 1979, enquanto escrevia o livro Atos Humanos, mas testemunhar o desenrolar de uma situação semelhante em 2024 foi profundamente chocante”, começou por testemunhar Han Kang.
“Espero que não voltemos a um passado onde o poder ou a força suprimem a liberdade de expressão através do controle”, acrescentou a escritora, perante mais de 80 jornalistas de numerosos países que, no dizer do jornal coreano Chosun Daily, “aguardaram ansiosamente a sua chegada”, na mesma sala onde, nesta terça, dia 10, vai acontecer a cerimônia de entrega do Nobel. “A diferença, neste inverno, é que tudo foi transmitido ao vivo para todos verem”.
Han Kang evidenciou também a emoção despertada pelos gestos de grupos de pessoas que se colocaram diante dos tanques, tentando deter as forças militares. Elas “abraçavam os soldados armados para acalmar a escalada” e “mantinham-se firmes contra as tropas que se aproximavam”, descreveu a galardoada.
Referindo-se aos jovens polícias, Kang comentou que “muitos pareciam em conflito consigo mesmos, hesitando como se lutassem com a sua consciência”. E concluiu: “Do ponto de vista daqueles que emitiram as ordens, eles podiam parecer passivos, mas do ponto de vista dos valores universais, a sua hesitação foi uma tentativa ativa de pensar, julgar e encontrar soluções”.
Quando finalmente os soldados receberam ordens de retirar, a Nobel diz ter visto pessoas a gritar-lhes “vão em segurança!”, “como se estivessem a falar com os próprios filhos”.
Outra observação feita pela laureada no encontro com os jornalistas referiu-se ao seu questionamento sobre “se a esperança existe”. “Tenho questionado se existe esperança. Mas talvez esperar a esperança possa ser considerado esperança”, afirmou ela.
Recorde-se que Han Kang foi a primeira escritora da Coreia do Sul a receber um Nobel e a 18ª mulher a ser laureada com esse prêmio, um número que está muito atrás dos 103 homens que receberam a distinção, entre os quais José Saramago. O seu primeiro livro, A Vegetariana (um dos quatro que estão traduzidos em português pela D. Quixote), foi censurado no seu país Natal e retirado das bibliotecas por ser considerado pernicioso pelas autoridades de então. Curiosamente, foi este livro também a revelação da escritora no plano internacional.
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Han Kang: “Emocionante ver população travar policiais e militares na Coreia do Sul” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU