28 Novembro 2024
- A Conferência Episcopal Católica do Haiti apela para que o governo aja e convoca todos os haitianos a trabalharem pela paz.
- Porto Príncipe está isolada, as escolas estão fechadas, as atividades estão paralisadas.
- "Todos estão alertas. Sentimos que estamos ameaçados", explica o presidente da Conferência Episcopal.
- Gangues armadas travam uma luta feroz para controlar o território. Até o momento, estima-se que quase 700.000 pessoas tenham sido deslocadas dentro do país.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 27-11-2024.
Diante da violência desenfreada que paralisa Porto Príncipe e isola o Haiti do restante do mundo, a Conferência Episcopal Católica do Haiti, em mensagem recebida pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), apela ao governo para que aja e faz um apelo a todos os haitianos para que trabalhem pela paz e superem o ódio.
Em resposta a uma situação catastrófica e à contínua deterioração da segurança no país, a Conferência Episcopal do Haiti lançou um “grito de alarme” pela paz em 15-11-2024, na forma de uma carta dirigida ao governo, à sociedade civil e a todas as pessoas de boa vontade.
“Não há verdadeira paz no país”, denunciam os bispos, pintando um quadro sombrio. A capital, Porto Príncipe, está isolada, as escolas estão fechadas, as atividades estão paralisadas. Até o aeroporto internacional Toussaint Louverture está fechado, “isolando o Haiti do restante do mundo”, denunciam os bispos. Segundo a imprensa local, no dia 11 de novembro, gangues realizaram um ataque armado contra um avião.
“Todos estão alertas. Sentimos que estamos ameaçados”, explica Dom Max Leroys Mésidor, presidente da Conferência Episcopal, à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre. “Durante dois anos, aplicamos uma estratégia pastoral de sobrevivência, mas desde 11 de novembro a violência tomou um rumo sério”.
De acordo com as Nações Unidas, em poucos dias, mais de 20.000 pessoas na região de Porto Príncipe fugiram de suas casas e as cadeias de abastecimento essenciais entraram em colapso. “Não podemos esperar colher a paz semear violência. A paz é, acima de tudo, um dom de Deus, mas exige igualmente o esforço de todas as pessoas de boa vontade”, escrevem os bispos em sua mensagem.
“Apelamos aos responsáveis pelo governo municipal para que atuem de forma decisiva para restaurar a segurança e garantir a proteção dos cidadãos, de forma consistente com sua missão principal de servir ao bem comum”. E continuam: “Convidamos também os membros do governo, os membros da sociedade civil e os protagonistas de todos os lados, armados ou desarmados, a reconhecer que é hora de resolver este problema de violência contínua. Algo tem que ser feito”.
O Haiti, o país mais pobre do Hemisfério Ocidental, atravessa há anos uma profunda crise política, social e econômica. Gangues armadas, que espalham o terror com sua violência diária, travam uma luta feroz para controlar o território e impor seu domínio. Cortaram as principais rotas de transporte entre a capital e e as demais regiões do país, destruindo meios de subsistência e privando a população de serviços básicos. Até o momento, estima-se que quase 700.000 pessoas tenham sido deslocadas dentro do país.
Em 2024, a AIS apoiou a Igreja no Haiti através de quase 70 projetos. Em particular, a fundação apoiou estações de rádio diocesanas, projetos de painéis solares e a formação e subsistência de padres, freiras e catequistas.
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