13 Novembro 2024
As notas críticas para a Igreja no âmbito de uma sociedade que ainda olha para o cristianismo como uma referência coletiva provavelmente já estão na agenda de muitos delegados da primeira assembleia sinodal das Igrejas na Itália, a partir de sexta-feira em Roma. Certamente a pesquisa do Censis sobre os italianos, a fé e a Igreja, antecipada no domingo pelo Avvenire, está dando o que pensar a dom Antonello Mura, bispo de Lanusei e Nuoro, presidente dos bispos da Sardenha, padre sinodal por dois anos no Vaticano e membro da presidência da comissão do caminho sinodal italiano. “A mensagem da pesquisa”, ele reflete, ”é que a Igreja só pode se colocar à escuta, oferecendo aos cristãos de hoje não apenas uma série de propostas, mas o envolvimento na vida comunitária. Para que eles se sintam em casa”.
A entrevista é de Francesco Ognibene, publicada por Avvenire, 12-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os dados apresentam uma situação difícil. Qual a sua impressão?
Acho que sem o Sínodo a situação seria mais problemática. O caminho sinodal nos ajudou a ver uma Igreja que se coloca em jogo, que busca, que não se limita a esperar. O fato de muitos ainda se dizerem católicos é uma base para construir, mas corre o risco de permanecer apenas um rótulo, uma atmosfera de fundo, se não for transformada em prática, experiência, relação.
O que mais lhe chamou a atenção na pesquisa?
A observação de que na Igreja os cristãos de valor, empreendedores, não encontram lugar. Com uma piada, consigo me explicar isso com o fato de que pessoas inteligentes incomodam em qualquer lugar.... Também na vida das comunidades, às vezes, aqueles que têm ideias e as promovem com lealdade não são apreciados por uma maioria “uniforme”. Isso me faz pensar na importância de uma cultura de inspiração cristã, porque se os cristãos de valor se sentem excluídos, corremos o risco de nos tornar uma Igreja de “refúgio”, procurada por aqueles que têm algum problema, em vez de uma Igreja de iniciativa e proposta, correndo o risco de não conseguir expor a capacidade do Evangelho de transformar a realidade, de deixar uma marca na vida pessoal e na sociedade.
O que você lê no valor atribuído por uma grande maioria dos italianos à vida espiritual?
Isso me provoca bastante e me faz pensar se as nossas Igrejas são capazes de captar essa demanda de interioridade. Quem sente essa necessidade acaba procurando uma resposta não na comunidade, mas em si mesmo, naquela fé “faça você mesmo” que o Censis cataloga como individualismo.
71% dos italianos se dizem católicos, mas é uma identidade que não passa pela Igreja, já que apenas 15% a frequentam. O que pensa disso?
As críticas se concentram no fato de que a Igreja é “por demais antiga”, mas, acima de tudo, não suficientemente clara. A assembleia sinodal italiana deve nos ajudar a entender quais são os pontos firmes da vida crente na Itália hoje, sem permanecer na indeterminação. Devemos nos sentir questionados por essa insatisfação, ainda mais pela ênfase em não sermos suficientemente “atuais”, também porque entre os fiéis surge uma certa “nostalgia”.
Outro aspecto interessante é a percepção sobre os sacerdotes, considerados em igual medida (40% da amostra) a serem procurados ou evitados. O que vê nessa ambivalência?
Pela forma como a sociedade está hoje, o fato de quatro em cada dez italianos terem os padres em alta estima - um número bem acima daquele da frequência – o considero bem longe de ser negativo. Nossos sacerdotes continuam a desempenhar um papel importante na sociedade. Por outro lado, no entanto, 60% estão pedindo que a Igreja mude.... Então eu me pergunto: que respostas queremos dar àqueles que desconfiam por causa dos abusos ou do papel ainda inadequado atribuído às mulheres?
O que os dados da pesquisa dizem à assembleia sinodal italiana?
Em primeiro lugar, falam de uma mudança necessária e da recuperação de presenças que podem ter valor na Igreja. Em Roma, estarão presentes pessoas que fizeram parte do caminho sinodal desde o início, pessoas relevantes que aceitaram se deixar envolver, mostrando grande continuidade em seu empenho, com uma experiência da Igreja ao mesmo tempo vivida e guiada. Para mim, parecem ser a vanguarda do que poderia ser posto em movimento.
Quais são suas expectativas para a assembleia de Roma?
Espero que se consiga fazer perceber a importância do aspecto comunitário da fé, tirando os crentes da ideia de que o que fazem na vida de fé valha apenas para cada um individualmente, sem uma visão comunitária. É preciso progredir na participação ativa dos cristãos na vida eclesial, no plano público, concreto e até normativo. Sem temer a mudança. Porque mudar é a maneira com que a Igreja vive e se coloca no tempo.
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Os italianos ainda são católicos? “Mas agora é preciso mais comunidade”. Entrevista com Antonello Mura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU