16 Novembro 2024
Os países desenvolvidos conseguiram ampliar o volume de financiamento internacional para ações de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento, mas este precisa aumentar mais – bem mais – para viabilizar a promessa de US$ 38 bilhões até 2025 feita na COP21 de Glasgow, há três anos. Segundo um levantamento divulgado ontem (7/11) pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), o fluxo financeiro para adaptação aumentou de US$ 22 bilhões em 2021 para US$ 28 bilhões em 2022.
A informação é publicada por ClimaInfo, 08-11-2024.
O dado reforça a constatação de lentidão dos governos ricos em ampliar o volume de recursos financeiros para ação climática ao redor do mundo, consenso em países em desenvolvimento e especialistas. A lentidão contrasta não apenas com as necessidades cada vez maiores das nações pobres e mais vulneráveis, mas também com a intensificação cada vez maior dos eventos climáticos extremos nessas localidades.
“A calamidade climática é a nova realidade. E o mundo não a está acompanhando”, lamentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante o lançamento do relatório. “Os contribuintes estão pagando a conta, enquanto os responsáveis por toda essa destruição – particularmente a indústria de combustíveis fósseis – colhem enormes lucros e subsídios”.
A lacuna do financiamento para adaptação fica ainda maior se considerarmos as necessidades efetivas de apoio financeiro dos países em desenvolvimento. Como o próprio Pnuma coloca, mesmo se o mundo conseguir atingir os valores prometidos em Glasgow, eles cobririam apenas um pequeno pedaço dessa conta. As projeções indicam que, para uma adaptação efetiva, as nações mais vulneráveis precisariam de algo entre US$ 187 bilhões e US$ 359 bilhões anuais.
Além do volume insuficiente de recursos, outro desafio para adaptação ainda é a “concorrência” do financiamento com a agenda de mitigação, que concentra a maior parte dos valores despendidos para ação climática ao redor do mundo. Para as nações mais pobres, isso é um complicador, já que o problema principal para elas não está necessariamente no corte de emissões, mas sim na construção de resiliência aos efeitos das mudanças climáticas.
“Há uma tendência quando as pessoas falam sobre resolver a crise climática: elas tendem a pular direto para a descarbonização, para cortar emissões. Mas para muitos países pobres, que não emitem muito, o que eles realmente precisam é de adaptação. Eles estão lidando com um problema que eles não criaram”, explicou Vijaya Ramachandran, do Breakthrough Institute, ao NY Times.
Business Green e Reuters também repercutiram os principais pontos da análise do PNUMA sobre o financiamento global para adaptação climática.
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